Temos novidade na coluna. Hoje, recebemos o tricampeão brasileiro de sommellerie, Diego Arrebola. Além dos títulos e do prestígio, o especialista tem experiência no Olivetto, em Campinas, e no Grupo Pobre Juan. Fizemos 12 perguntas sobre o mundo do vinho, desde curiosidades até tendências de mercado da bebida milenar.
Como foi o seu começo com o vinho?
Profissionalmente, foi por acaso. Fui trabalhar em um restaurante, que ficava em um shopping, como ajudante de garçom. Era um lugar que não tinha muitas opções de vinhos, mas que tinha clientes com interesse na bebida. Em uma parte do meu tempo de descanso ia para a livraria ler sobre temas variados, inclusive sobre vinhos. O assunto acabou despertando meu interesse a partir daí não parei mais de estudar e de me dedicar à profissão.
Quando percebeu que foi "picado pela mosquinha" do mundo do vinho?
Eu não sei se houve esse momento! É claro que foi uma decisão emocional por conta do interesse que o vinho despertou em mim. Mas também foi uma decisão com dose de pragmatismo, uma vez que observei o mercado no interior de São Paulo, onde morava e moro até hoje, e vi que naquele momento não havia muitos profissionais nessa área. Percebi uma oportunidade de desenvolvimento profissional e por isso abracei a profissão.
Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
Sem dúvida, foi vencer pela primeira vez o concurso brasileiro de sommelieres, logo no início da minha carreira. Foi uma decisão estratégica me dedicar aos concursos, uma vez que vi ali a oportunidade de me destacar profissionalmente sem necessariamente estar morando ou atuando em uma capital ou restaurante de renome. Foi um momento que coroou meu esforço, foram quatro anos de dedicação para a vitória em 2012.
Qual a sua hora de degustar um vinho?
Não tenho uma hora de tomar vinho. Por conta da profissão, muitas vezes me pego no meio da semana, na parte da manhã, tendo que degustar. Mas há o momento ao lado da pessoa que a gente ama, em família, entre amigos. São os momentos de abrir uma garrafa especial.
Qual a sua harmonização dos sonhos?
Bourgone maduro com um bom queijo époisse também maduro, refinado. Para mim, é uma harmonização imbatível.
O que diria para quem quer entrar no mercado de vinhos?
Não construa a sua carreira em cima de ilusões. É um trabalho, é uma profissão como outra qualquer, tem muitos momentos difíceis, muitas ocasiões em que você vai ter que fazer trabalhos enfadonhos e repetitivos. Não é só alegria, não é só beber. Aliás, muitas e muitas vezes a gente passa longos períodos sem beber e focando realmente no trabalho. Tenha consciência de que é uma profissão como outra qualquer, com todas as demandas que você pode esperar.
Qual a dica para novos consumidores?
Provar de tudo! Não se apegar a preconceitos, a opiniões, não se apegar sequer a seus favoritos. Estar sempre aberto a provar novos vinhos, novas uvas, novas referências e, assim, ir expandindo o seu gosto e o seu paladar.
Como você imagina o vinho brasileiro daqui 10 anos?
Imagino que vai seguir no seu caminho de evolução, de compreensão do terroir, de compreensão da qualidade que o nosso clima oferece. Acredito que o vinho brasileiro vai seguir no caminho de distanciamento de emular clássico de outras regiões, focando em vinhos pesados, encorpados, amadeirados, alcoólicos, que não é aquilo que o nosso clima oferece naturalmente. E mesmo em anos mais quentes, mais secos, nós temos condições de produzir bebidas mais frescas e frutadas do que os nossos vizinhos latino-americanos. Eu torço para que o vinho brasileiro siga nesse caminho de evolução e de compreensão da sua própria identidade.
Prefere vinhos varietais ou de corte?
Vinho bom! O vinho bom pode ser varietal e de corte. Como tudo nesse mundo, depende! Depende da uva, da região, do estilo e da proposta do produtor.
Alguma variedade de uva em especial?
Não é segredo para ninguém o carinho especial que tenho pela uva nebbiolo. É a uva que produz os vinhos de Barolo e Barbaresco. Por ter uma boa dose de versatilidade, produzindo desde rótulos mais delicados, mais frutados, como alguns exemplares que vemos aqui no brasil, ou mesmo alguns mais simples, como a DOC Piemonte, até aqueles que estão entre os grandes vinhos do mundo, que são os grande Barolos.
Como você percebe o potencial dos vinhos brasileiros no mercado internacional?
Hoje, o potencial é o exotismo. O vinho brasileiro ainda não tem uma identidade clara devido a todas as situações que temos aqui: custo brasil, carga tributária, o produto não é competitivo em termos de preço lá fora. Hoje, o consumidor estrangeiro busca um vinho brasileiro sem referência do que vai encontrar dentro da garrafa, é muito mais pela curiosidade, pelo exotismo. É como nós procurarmos uma bebida turca, algo que foge do normal. Eu vejo muito potencial nos mercados externos, conforme o vinho brasileiro for encontrando e fixando a sua identidade, as suas diferentes identidades regionais.
Qual a sua aposta na tendência do mercado do vinho?
O vinho em lata. Vejo com bons olhos, tanto que estou diretamente envolvido no projeto dos vinhos Arya. Vejo como uma vertente em franco crescimento no mercado brasileiro, com cada vez maior aceitação do consumidor. Vejo uma busca cada vez maior por vinhos mais frescos, menos alcoólicos, menos amadeirados e mais versáteis para consumo no dia a dia. Vinho que você pode consumir de forma descontraída, sem necessariamente precisar de um prato encorpado.