Temos o costume de afirmar que vinho bom é vinho caro e que vinho bom é vinho fino, aqueles feitos com variedades europeias, como cabernet sauvignon e merlot. Nessas situações, esquecemos dos vinhos de mesa, ou comuns, como são usualmente chamados. Nesta semana, quero apresentar essa bebida que faz parte da história vitivinícola e da cultura do nosso Estado. Sem preconceitos ou tabus.
DE ONDE SURGIU?
A grande maioria da vinícolas nasceu produzindo o vinho comum para consumo próprio das famílias. O hábito chegou ao Estado junto com os imigrantes italianos, que cultivavam as uvas e elaboravam as bebidas para acompanhar as mesas fartas e as refeições do dia a dia. Uma taça fazia parte da típica “colazione” em meio ao vinhedo, dos jantares e até serviam como ingrediente da sopa nos dias de inverno na serra gaúcha.
A CULTURA NO ESTADO
A produção da uva no Rio Grande do Sul iniciou com os jesuítas, na época do Tratado de Tordesilhas, mas se intensificou com a imigração açoriana, tendo os primeiros cultivos em Porto Alegre, na Ilha dos Marinheiros. Só depois, com a chegada dos imigrantes italianos, que a Serra passou a ser reconhecida como a região da uva e do vinho.
COMO SÃO PRODUZIDOS?
Os vinhos comuns são elaborados a partir de uvas americanas, como isabel, bordô e niágara. As videiras se adaptam facilmente em solos férteis, como os que encontramos na Serra. As variedades são de baixa acidez e apresentam aromas típicos da fruta – aquele que sentimos quando entramos no setor hortifrúti do supermercado. O produto final costuma ter pouca persistência em boca e baixo teor alcoólico. É o vinho ideal para beber no dia a dia, no almoço que antecede um dia de trabalho, por exemplo.
O VINHO COLONIAL
Além de ser conhecido como vinho de mesa ou comum, também podemos chamar de colonial. O motivo é simples: faz referência ao local de produção e de consumo. Se você faz cara feia para esse tipo de bebida, tenho um desafio: vá a uma festa de comunidade (assim que acabar o isolamento social, é claro), aquelas que geralmente têm um santo envolvido. Experimente a sopa de capeletti, depois a maionese feita em casa, a salada de radicci e o galeto. Não se assuste se o vinho chegar à mesa em jarras. Provavelmente, ele foi produzido pela própria comunidade local. É vinho bom, bem feito e que faz parte da cultura. Harmoniza com o ambiente, com a festividade e com os pratos típicos preparados com todo o carinho do mundo. Não tenha preconceitos.
COMO HARMONIZAR?
Se você deseja vivenciar uma experiência dessas em casa, minha dica é preparar um café no fim do dia. Sirva queijos, salames, pão, polenta brustolada, biscoito e marmeladas. Um copo de vinho bem cheio, para cumprir com a tradição, garante festa. Entre um sanduíche de polenta e um gole da bebida, a conversa pode rolar solta. Se quiser, ainda pode soltar umas palavras como “dio” e “madonna” e falar com as mãos. Está permitido ser feliz.