Cerveja combina com verão, com sol, com praia e com piscina. E, não, este texto não trata das clássicas pilsens. Trata-se de um estilo perfeito para os meses mais quentes do ano: a witbier tem caído no gosto do público. Elaborada com trigo, é leve, refrescante e conta com sabores cítricos e condimentados de frutas e especiarias, co- mo laranja e coentro.
– A witbier é um dos estilos que mais combinam com o verão brasileiro, e cada vez mais cervejarias do país estão produzindo suas versões – conta Marco Zimmermann, sommelier de cervejas. – A bebida passou a ser produzida há pouco tempo no Brasil, mas já existem várias versões por aqui. Foi um dos estilos com mais lançamentos no ano de 2014.
Especialistas apostam na witbier para encher os copos em bares, restaurantes e cervejarias. E além de estar em alta, é uma ótima opção para quem não está muito acostumado com estilos mais encorpados. Nas páginas a seguir, conheça história, características e dicas de rótulos para experimentar essa cerveja o quanto antes.
CARACTERÍSTICAS
Estilo tradicional da Bélgica, a witbier é uma cerveja condimentada, cítrica e aromática. Leve e de teor alcoólico baixo, é feita essencialmente com trigo não maltado, levando ainda em sua composição malte do mesmo cereal e também de cevada.
– O trigo não maltado produz cervejas mais leves e menos doces do que as cervejas de trigo maltado, como as alemãs – explica Marco Zimmermann.
Os ingredientes que se destacam na receita, no entanto, são as frutas cítricas e as especiarias, tradicionalmente, casca de laranja e semente de coentro, que conferem refrescância à bebida. Algumas variações podem incluir aveia, camomila, limão siciliano, gengibre e pimenta em grãos.
– O lúpulo confere amargor à cerveja e é usado para contrabalançar o malte, que adoça. Como a witbier não leva muito malte, o lúpulo também não é necessário em grande quantidade. Para dar mais sabor, então, são usadas as especiarias – explica o mestre-cervejeiro Sady Homrich.
Principalmente em função do trigo, sua coloração é muito clara, de um amarelo- palha. Mas, assim como outras cervejas de trigo, a witbier não é filtrada, o que a deixa turva (sem limpidez), uma característica conferida pela levedura.
– O residual de fermento agrega mais sabor à cerveja, por isso a escolha por não filtrar as bebidas feitas com trigo – esclarece a sommelier de cerveja Luísa Sartoretto.
HISTÓRIA
A witbier surgiu na Bélgica como uma descendente das cervejas medievais, que eram saborizadas com condimentos em uma época em que o lúpulo ainda não havia sido descoberto. Quando ele surgiu, passou a ser adicionado às bebidas, mas com uma percepção bem sutil.
Foi apenas no século 19, porém, que a região leste do país – local propício para o cultivo de cevada, trigo e aveia – ficou tomada pelas cervejarias. Na receita, porém, o destaque ficava mesmo com as especiarias e as frutas levadas por comerciantes holandeses. Surgia aí a witbier.
O crescimento do mercado das lagers, comercializadas em massa, forçou as cervejarias belgas a fecharem suas portas no século 20. Lamentando o sumiço das witbiers, o leiteiro Pierre Celis resolveu, nos anos 1960, reposicionar o estilo no mapa ao passar a produzir uma cerveja com uma receita da qual se lembrava de um breve trabalho na cervejaria Tomsin, última fábrica a fechar as portas. Nas garrafas, grãos e lúpulo, com adição de sementes moídas de coentro e casca de laranja. A cerveja foi bem recebida. Estava criada a Hoegaarden, hoje tradicional no ramo cervejeiro.
Depois de vender a empresa para a Interbrew (atual AB InBev) após um incêndio, Celis se mudou para os Estados Unidos, onde passou a produzir a Celis White com sua receita original, também referência entre as witbiers.
PRODUÇÃO E CONSUMO
Complexa nos aromas e sabores, refrescante e fácil de beber.
– A witbier é ótima para a iniciação do consumidor um pouco mais leigo no mercado da cerveja artesanal. Tem assimilação fácil, mas com um paladar diferente das cervejas de produção em massa – explica Luísa Sartoretto.
No quesito produção, Fabian Ponzi, especialista em cerveja, explica que há pelo menos um ano as cervejarias já vêm investindo nesse estilo.
– Começou pelas artesanais, mas agora marcas como a Bohemia também estão entrando no mercado com as witbiers. No fim do ano passado, lançaram um rótulo com pimenta rosa – lembra.
Mesmo com a produção de witbier pipocando aqui e ali, não é algo que se possa chamar de grande produção. Segundo Luísa, isso acontece principalmente em decorrência de algumas etapas mais complicadas no processo de fabricação.
– Para gerar todas as características que uma cerveja de trigo requer, a temperatura de fermentação deve ser controlada com maestria, coisa que os belgas já fazem há muito tempo. Esse controle não é algo que se aprenda de um dia para o outro, por isso as cervejarias brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer – analisa Luísa.
HARMONIZAÇÃO
Como é uma cerveja leve e refrescante, vai muito bem com pratos igualmente leves. Para Sady Homrich, é a cerveja perfeita para beber bem gelada, na beira da praia, com petiscos como frutos do mar. Experimente também com sushis, sashimis, carpaccio de atum, tartare de salmão e ceviche.
Ou harmonize com uma salada. A caprese é a mais indicada, pois a acidez do tomate destaca as especiarias. Para quem quer ir além, combine a witbier com uma feijoada, pois, nesse caso, a cerveja faz o papel da laranja.
COPO
Pode até não parecer, mas o copo influencia, sim, na experiência de beber uma cerveja. Por isso, cada estilo da bebida tem um recipiente específico, que destaca principalmente os aromas e os sabores. O copo tradicional para beber uma witbier é o tumbler. Robusto e pesado, ele tem a boca um pouco mais larga que a base sextavada, propício para as cervejas que não formam muito creme, como é o caso da witbier. Apesar de ser o copo clássico, a boca larga não favorece a percepção dos aromas, que se dissipam muito rápido.
FAXE WITBIER
Será lançada em breve no mercado brasileiro a witbier da cervejaria dinamarquesa Faxe. Lá fora, tem arrancado elogios. Com o diferencial de ser produzida em uma fábrica artesanal da empresa localizada na Lituânia, a bebida segue a receita belga com sementes de coentro e cascas de laranja.
Veja aqui uma lista que preparamos com 8 witbiers que traduzem o estilo.
* Conteúdo produzido por Juliana Palma