— Matthew Broderick aprontando pra valer, armando as maiores loucuras numa divertida história. Curtindo a Vida Adoidado, nesta terça, na Sessão da Tarde — dizia o empolgado locutor Dirceu Rabello em uma das chamadas da Globo em meados dos anos 2000.
É muito difícil não ser invadido por uma sensação nostalgia e não ler esta transcrição com a voz do narrador, não é? Isto porque a Sessão da Tarde se enraizou no imaginário popular e, mais do que isso, virou sinônimo para todo um gênero cinematográfico — quem, por exemplo, nunca falou: "Esse filme é bem Sessão da Tarde"? —, que é basicamente formado por títulos leves e para toda a família.
O programa estreou na grade da Globo em 4 de março de 1974, mas restrito a duas praças: São Paulo e Rio de Janeiro. Na primeira, o título exibido foi Oito e Meio (1963), de Federico Fellini, enquanto na segunda, o escolhido foi Os Perigos de Paulina (1967), de Herbert B. Leonard e Joshua Shelley — sim, foram dois filmes diferentes no mesmo dia. E não, não foi A Lagoa Azul (1980) que começou a atração, até porque o filme sequer existia na época.
Ainda assim, a produção estrelada por Brooke Shields está entre as mais reprisadas da sessão cinematográfica das tardes da Globo. Outros títulos que são figurinhas carimbadas e queridinhos do público são: Curtindo a Vida Adoidado (1986), Um Príncipe em Nova York (1988), Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990), De Volta à Lagoa Azul (1991) e De Repente 30 (2004) — todos exibidos mais de 15 vezes. Entre os nacionais, brilharam no plim-plim O Auto da Compadecida (2000), A Princesa Xuxa e os Trapalhões (1989) e Lua de Cristal (1990), reprisados mais de 10 vezes.
Assim, para várias gerações, foi no programa vespertino o primeiro contato com o cinema. E, mesmo com a disseminação de conteúdo por diversas plataformas digitais, com filmes podendo ser encontrados em serviços de streaming, a atração segue sendo um sucesso de audiência, de acordo com o Gabriel Jacome, diretor de conteúdo da Globo:
— A Sessão da Tarde é um programa que faz parte da vida da população brasileira. Muitas pessoas têm uma relação afetiva, lembram da infância, juventude, conecta passado e presente. Aos 50 anos, a sessão segue muito atual e relevante, pois todos os dias, 20 milhões de pessoas assistem à Sessão da Tarde. Isso representa, por exemplo, o dobro do público de Barbie, filme de mais espectadores que o Brasil teve em 2023.
No total, segundo Jacome, são exibidos 240 filmes por ano na Sessão da Tarde, de segunda a sexta-feira, proporcionando para muitos brasileiros a oportunidade de assistir a títulos do cinema nacional e mundial de forma gratuita. De acordo com o crítico de cinema e editor da revista digital Almanaque21, Rodrigo de Oliveira, o programa é uma importante ferramenta de introdução à cinefilia, principalmente para o público que tem apenas TV aberta em casa.
— Uma boa programação é o segredo de uma sessão de cinema como essa se manter por tanto tempo. Eu via na Sessão da Tarde Os Goonies, Curtindo a Vida Adoidado. Aliás, conheci John Hughes, um dos meus diretores favoritos, através da Sessão da Tarde. Tinha um monte de coisas legais que passavam e, agora, tenho observado, com os 50 anos, que estão pensando bem a programação, com filmes bacanas e não aqueles filmes que ninguém ouviu falar. Isso é curadoria boa, que conversa com um público que está querendo ligar a televisão e assistir a um filme legal — analisa Oliveira.
Vozes
Se a curadoria da Sessão da Tarde é importante para fazer com que o programa seja relevante, tem outro ingrediente fundamental para que ela tenha se tornado inesquecível: as vozes nacionais. E isto vem desde as chamadas, que ficaram eternizadas com frases como "essa turminha do barulho", até a dublagem, que fez com que os filmes pudessem ser compreendidos por todos.
Uma das vozes mais marcantes da atração é a de Miriam Ficher, responsável por inúmeras dublagens icônicas, como a de Drew Barrymore em Como Se Fosse a Primeira Vez (2004), presente frequentemente na Sessão da Tarde. De acordo com a atriz, este movimento de colocar os títulos dentro da grade de uma TV aberta, com dublagens, atinge o país inteiro, levando a sétima arte de forma democrática às pessoas, amparando, por exemplo, deficientes visuais e analfabetos.
— Quando vi anunciando os 50 anos da Sessão da Tarde, fiquei muito emocionada, pensando: "Poxa, eu fiz parte desta trajetória, desta história toda". As pessoas às vezes me falam: "Você tem voz da Sessão da Tarde" (risos). E eu acho isso muito engraçado. As pessoas têm uma memória afetiva em relação a isso, me contando que eu fiz parte da infância delas. Esse é um programa que causa um envolvimento emocional mesmo — aponta Miriam.
Também presente em incontáveis versões nacionais de filmes exibidos na atração, Luiz Feier Motta, dublador de Sylvester Stallone no Brasil, entre muitos outros, concorda com o posicionamento de Miriam, reforçando a importância de um programa como a Sessão da Tarde em solo nacional, levando cultura, informação e entretenimento por todo o país. Além disso, ele reforça que, se uma atração fica no ar por cinco décadas, quer dizer que a audiência dá resultado.
— A TV aberta leva o cinema para qualquer um que tenha um aparelho de TV e que possa sintonizá-lo. Em qualquer rincão, por exemplo, a TV Globo e a Sessão da Tarde estão lá. Essa é a função social da TV aberta. Já na questão da dublagem, a parcela da população que domina o inglês é uma muito pequena. E a maioria dos brasileiros é extremamente pobre e sem cultura, sem curso de língua estrangeira. Então, não vai entender nada do filme no idioma original. Então, essa é a função da dublagem no Brasil— reflete Motta.
Comemoração
Para celebrar as bodas de ouro da Sessão da Tarde com o público brasileiro, a TV Globo anunciou que vai exibir uma programação especial durante o mês de março, apresentando títulos que foram sucesso de bilheteria e, também, integrantes de franquias consolidadas — muitos deles, inéditos na TV aberta. Por exemplo, no dia do aniversário, nesta segunda-feira (4), o escolhido foi o remake em live-action de Mulan (2020), da Disney.
Veja a programação:
Primeira semana:
- 4/3 - Mulan (inédito na TV aberta)
- 5/3 - Space Jam: Um Novo Legado (inédito na TV aberta)
- 6/3 - O Príncipe Esquecido (inédito na TV aberta)
- 7/3 - Power Rangers (inédito na TV aberta)
- 8/3 - Tô Ryca 2 (Inédito na TV aberta)
Destaques da segunda semana:
- 11/3 - Malévola: Dona do Mal
- 12/3 - Uma Pitada de Sorte (Inédito na TV aberta)
- 14/3 - Marley & Eu
- 15/3 - Ghostbusters: Mais Além (Inédito na TV aberta)
Destaques terceira semana:
- 20/3 - Dolittle (Inédito na TV aberta)
- 21/3 - Minha Vida em Marte
Destaques quarta semana:
- 27/3 - Sonic – O Filme
- 29/3 - Shrek