Vale o Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho, nova série do Globoplay que tem supervisão de Pedro Bial, revela o complexo mundo da prática de apostas que acontece há mais de 130 anos. Em sete episódios, o documentário mostra quem forma a cúpula de famílias bicheiras que controlou parte do Rio de Janeiro.
A produção retrata a relação entre os empresários, o crime organizado e o carnaval. Abaixo, acompanhe a explicação sobre as histórias dessas famílias apresentadas pelo Gshow.
Entenda quem são as famílias envolvidas
Cinco grandes famílias fazem parte do cenário do jogo do bicho há décadas. Mesmo com a morte dos patriarcas, a tradição seguiu de pai para filho nas gerações seguintes. A série inclui relatos dos próprios bicheiros e de seus herdeiros e esposas.
Família Garcia
Waldemir Garcia controlava pontos do jogo na Grande Tijuca, Centro e Zona Sul da capital fluminense. "Seu Miro", como era conhecido, investiu o dinheiro que conseguiu com a organização da prática criminosa na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.
Um dos filhos de Miro, Maninho, tocava o negócio com o pai até ser morto em 2004. Violento a ponto de ser temido pela própria velha guarda dos bicheiros, ele era conhecido como o "rei do Rio". Bid, seu irmão, inicialmente não participava das atividades criminosas da família, mas tentou reassumir os pontos do jogo e foi assassinado em 2020.
Myro Garcia, filho de Maninho, também foi assassinado, vítima de um sequestro em 2017. Ele tinha 27 anos. Suas irmãs mais velhas, Shanna e Tamara, estão envolvidas na organização criminosa por meio dos maridos.
Zé Personal, primeiro marido de Shanna, foi morto na disputa de pontos do jogo do bicho. O segundo marido da herdeira, Rafael Gomes, foi patrono da Salgueiro e operador do "QG da propina" no governo de Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro entre 2017 e 2021.
O marido de Tamara, Bernardo Bello, passou a controlar os pontos de jogos da família. Acusado de não repassar os lucros para os herdeiros de Maninho, ele rompe com os Garcia e se torna presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel entre 2017 e 2018.
Família Andrade
O grande patriarca da família Andrade foi Castor, contraventor responsável pelo início da associação de bicheiros com as escolas de samba do carnaval carioca. Castor investia na cultura, mais especificamente na Mocidade Independente de Padre Miguel, como uma forma de desassociar a sua imagem do crime organizado. Tinha pontos de bicho na Zona Oeste e na região da Costa Verde do estado.
Paulinho de Andrade, filho de Castor, chefiou os negócios da família por um ano, quando o pai morreu em 1997. Já em 1998, ele e seu segurança foram assassinados em uma emboscada na Barra da Tijuca. Carmém Lúcia, irmã de Paulinho, era casada com Fernando Iggnácio, que tomou a frente da operação após a morte do cunhado. Iggnácio foi assassinado em 2020.
O sobrinho de Castor, Rogério de Andrade, assume a organização da família após os crimes, pelos quais ele chegou, inclusive, a ser investigado.
Família Guimarães
Ainda vivo, Aílton Guimarães Jorge, de 81 anos, organizou o jogo do bicho e a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) com a lógica de hierarquia que aprendeu no exército. Ele controlava pontos de jogo em parte da Zona Norte da capital fluminense e também em Niterói, São Gonçalo, Petrópolis e Itaboraí. Parte do seu dinheiro é destinado a patrocinar a Unidos de Vila Isabel. Seu filho Luiz Guimarães é o atual presidente da Unidos.
Família Escafura
José Caruzzo Escafura, mais conhecido como Piruinha, de 93 anos, segue em atividade no jogo do bicho até hoje. Segundo o Ministério Público, ele controla pontos de jogo na Zona Norte do Rio, mais especificamente nos bairros Madureira, Abolição, Cascadura, Piedade, Maria da Graça e Inhaúma. Seu filho Haylton Carlos foi morto em uma disputa por pontos de caça-níquel em 2017.
Família Abraão
Aos 86 anos, Aniz Abraão David, ou Anísio, ainda controla pontos do jogo do bicho na Baixada Fluminense. Após virar presidente da Beija-Flor de Nilópolis em 1965, ele e os demais membros da sua família vem se alternando na direção da escola. Anísio é o presidente de honra da Beija-Flor. Gabriel David, um dos seus cinco filhos e atual diretor de marketing da Liesa, é o seu provável sucessor.