Ainda que a prática do jogo do bicho seja proibida por lei, ela se organiza como um negócio de milhões, dividido por territórios e chefiado por representantes de famílias poderosas, nos moldes de uma máfia. A série documental original Vale o Escrito — A Guerra do Jogo do Bicho conta a história do submundo da prática no Rio de Janeiro e a relação com o carnaval carioca.
Disponibilizada no Globoplay na quarta-feira (1º), a série mostra a história de dois desses núcleos familiares, que vivem sangrentas guerras de sucessão, com brigas internas pelo poder, fraudes, traições, prisões, vinganças e assassinatos.
Com análises de historiadores e jornalistas, Vale O Escrito — A Guerra do Jogo do Bicho explica como, a partir da influência do jogo do bicho, esses líderes se tornaram patronos de escolas de samba das comunidades onde operam seus negócios.
Os episódios mostram o papel duplo de chefes da contravenção e benfeitores sociais das comunidades, prestando suporte às atividades educacionais e culturais, com influência nas condições de vida de suas regiões e na profissionalização do Carnaval.
Esta não é a primeira vez que esse mundo e a dualidade de personagens são retratados em uma produção audiovisual. A série Doutor Castor, também do Globoplay, lançada em 2021, narra a trajetória do banqueiro do jogo do bicho Castor de Andrade, um homem cruel tratado como rei do Rio, atuando como bandido-herói entre dois mundos.
Vale O Escrito — A Guerra do Jogo do Bicho tem supervisão artística de Pedro Bial e é produzida pelo Conversa.doc, núcleo de documentários do Conversa com Bial. A direção artística é de Monica Almeida e os diretores são Fellipe Awi, Ricardo Calil e Gian Carlo Bellotti.
Depoimentos de bicheiros
A série traz os próprios protagonistas do jogo do bicho contando suas histórias. Bicheiros, seus herdeiros e suas mulheres falam sobre a dinâmica do negócio, com críticas e acusações mútuas. As negociações com entrevistados e o trabalho de pesquisa levaram mais de dois anos.
Além deles, importantes nomes do Carnaval, como o carnavalesco Milton Cunha e o intérprete Neguinho da Beija-Flor, falam sobre o que representam essas figuras.
Cúpula da Contravenção
São sete episódios. O primeiro, aberto para não assinantes, traz um histórico do surgimento desta prática ilegal, há mais de 130 anos. Ele mostra ainda a estruturação a partir da criação de um grupo, na década de 1970, chamado de Cúpula da Contravenção, formado pelos chefões da época. Eles dividiram os territórios e pontos de jogos do Estado entre si, evitando conflitos e fortalecendo os negócios.
Esse ainda é o modelo vigente, embora o surgimento de uma nova geração de contraventores o tenha colocado à prova. Além disso, assassinatos que abalaram o Rio de Janeiro são revisitados. Novos detalhes e informações estabelecem conexões que não podiam ser feitas quando os crimes aconteceram.