O programa Timeline, da Rádio Gaúcha, recebeu nesta sexta-feira (5) o ator Marcelo Médici e a jornalista Natuza Nery para homenagear Jô Soares, que morreu durante a madrugada. Aos 84 anos, ele estava internado desde 28 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde deu entrada para tratar uma pneumonia.
A relação entre os humoristas começou em 2002. Jô foi assistir a uma peça de Marcelo e o chamou para uma entrevista no Programa do Jô. A participação ocorreu logo antes de um jogo do Brasil na Copa do Mundo, e por isso teve muita audiência — o que, segundo o ator, marcou um "antes e depois" em sua carreira.
— No dia seguinte, parecia que eu tinha concorrido ao Oscar. Eu fiquei muito nervoso, mas teve um retorno muito grande — contou Médici.
O ator disse que Jô era, sobretudo, muito generoso.
— Depois eu estreei meu solo e liguei pra ele: "Jô, vou estrear um solo agora, será que você poderia falar no programa?". E ele disse: "Não, você vem aqui". Aí ele me encaixou e eu fui de novo — lembrou o artista. — Ele ajudava espetáculos de teatro de pessoas que não eram conhecidas. Porque a gente sabe a dificuldade que é isso. E ele dava essa oportunidade para a gente.
Médici apresenta, neste sábado (6) e domingo (7), no Theatro São Pedro, a comédia Teatro para Quem Não Gosta. Segundo ele, a ideia para montar a peça surgiu justamente a partir de uma entrevista que o ator assistiu de Jô.
— Ele comentou que um ator italiano, Vittorio Gassman, fazia um monólogo que ele interpretava, em uma hora, os grandes personagens da dramaturgia mundial. E eu pensei: "cara, isso é muito divertido".
Amizade nos bastidores
Natuza Nery relembrou momentos com Jô Soares, de quem se tornou amiga depois de participar do quadro Meninas do Jô, no Programa do Jô.
— Parece que o Jô botou uma estrelinha no meu ombro depois do Meninas. Ele virou uma espécie de padrinho — contou a jornalista. — Ele era apaixonado por política. A política esteve no trabalho dele como humorista, diretor de teatro, escritor. Era uma paixão dele e era a minha conexão com ele. Quando ele me ligava, sobretudo era para fazer comentários sobre política. O jornalismo nos uniu.
Natuza disse que o amigo esteve no hospital algumas vezes durante o ano. Ele teve uma pneumonia e se recuperou, mas estava relatando falta de fôlego. O último contato entre eles ocorreu na semana passada:
— No dia 27 (de julho) eu perdi meu pai e tinha uma mensagem dele, dizendo que tinha ficado sabendo, que eu ficasse bem. E terminou de um jeito que ele sempre terminava: "Te amo, menina". E eu só vi a mensagem dois dias depois. E eu respondi para ele dizendo que o meu pai era tão obcecado por ele que tinha uns escritos dele, que era compositor, dizendo que o Jô tinha de ser presidente do Brasil. Eu não sei se ele ouviu essa mensagem.
Ela também recordou que Jô era uma grande pessoa em sua vida privada. Segundo a jornalista, a equipe de funcionários do apresentador, que o acompanhou por muitos anos, estava "desolada" com a notícia da morte dele.
— A figura pública do Jô é muito conhecida e tocou muita gente. Mas ele também tocou a vida de pessoas que tão com ele, segurando a mão dele há muitos anos. E o Jô ajudou muita gente, o Jô criou filhos de outras pessoas, bancou educação de filhos de outras pessoas... um cara como ele não vem muitas vezes ao planeta Terra.