Se quem não gosta de samba bom sujeito não é, como cantou Dorival Caymmi, quem não gosta de teatro também não deve ser grande coisa. Mas a boa notícia é que a chance de se redimir chega neste sábado (6) e domingo (7) ao Theatro São Pedro: a comédia Teatro para Quem Não Gosta, criada e protagonizada por Marcelo Médici e Ricardo Rathsam, que apesar do título controverso é uma legítima carta de amor à arte milenar da representação.
Uma carta que começou a ser escrita em 2018, a partir de um questionamento que há tempos assombrava a dupla: "O teatro está morto?". Pode parecer um receio desmedido à primeira vista, afinal, não estão eles próprios estrelando um espetáculo teatral? Estão. E não um espetáculo qualquer. Um espetáculo que tem cenário assinado por Kleber Montanheiro, 32 personagens em cena, incontáveis figurinos criados por Fabio Namatame, trilha sonora de Ricardo Severo, iluminação cênica de Adriano Tosta e, no resumo da ópera, um formato grandioso que, este sim, os atores lamentam que pode estar começando a definhar.
— Esse teatro que a gente está fazendo no Teatro para Quem Não Gosta está difícil de ser feito. A gente quis que a experiência do teatro fosse completa neste espetáculo. Mas, fazendo este tipo de teatro hoje em dia, a gente dá uma "catada de cavaco", a gente se coloca em uma contramão — analisa Marcelo Médici, opinando que há um crescimento de montagens do tipo "minimalistas", com um ator, um microfone e um texto por vezes pouco trabalhado.
A peça é, então, uma espécie de resposta-manifesto da dupla, que faz da comédia seu ato de resistência ao cenário pouco risível que identificam assombrar o teatro brasileiro. Ao longo do espetáculo, narram a história de mais de 2 mil anos da manifestação artística, relembrando de forma cômica os mais diferentes momentos pelos quais o gênero passou e reinterpretando desde clássicos como Édipo Rei e Romeu e Julieta até A Pequena Sereia.
— Quando na minha vida eu imaginei que poderia fazer no mesmo espetáculo Romeu e a Pequena Sereia? Romeu eu já não ia poder fazer mais, porque já estou velho, mas nesta peça eu posso. Quando a gente começa a atuar, a gente pensa: "Ainda não tenho idade para fazer tal personagem". Eu agora estou na fase do "já não tenho mais idade para fazer" — diverte-se Médici, que interpreta 20 personagens na montagem enquanto Rathsam dá vida a outros 12, todos com direito a uma caracterização elaborada.
O resultado do vai e vem de personas e figurinos diverte os atores e também o público, fazendo rir bons e maus sujeitos, que gostam e que não gostam de teatro. Mas que já estão passando a gostar, como conta Médici:
— O pessoal mais velho no teatro adora, porque fazemos referência ao teatro de revista, falamos de nomes de atores e atrizes que as pessoas sabem quem foram. E o pessoal mais novo também adora, porque descobre muita coisa que não sabia. Isso é o mais legal: é uma comédia total, mas tudo de histórico que a gente passa para o público é real. Teve toda uma pesquisa, não saiu da nossa cabeça. Mas é claro que a gente faz uma bagunça, uma chinelagem, para poder contar esta história.
E parte da história do teatro passa também pela parceria de Marcelo Médici e Ricardo Rathsam. Eles já trabalharam juntos em cinco produções. Médici dirigiu Rathsam em Enquanto Não Fazemos Novela, Rathsam dirigiu Médici em Cada um com seus Pobrema, e os dois dividiram palco em Cada Dois com seus Pobrema, Eu Era Tudo pra Ela e Ela me Deixou e agora em Teatro para Quem Não Gosta.
Foi com este espetáculo que em 2018 venceram o Prêmio do Humor, distinção promovida por Fábio Porchat que já se tornou referência no mercado da comédia. A premiação mais importante para eles, porém, é conquistada ao final de cada sessão do espetáculo, ao ver a plateia aplaudindo de pé: a certeza de que, apesar dos pesares e de todas as dificuldades — enfrentadas inclusive nesta peça, que só estreou graças a uma ação entre amigos —, o teatro vai continuar vivo.
— A gente tem certeza de que o teatro é eterno. Nunca nenhum tipo de experiência, por maior que seja a tecnologia, vai se comparar a você assistir a um espetáculo. É algo que nunca vai ser superado. E o teatro tem essa coisa muito bonita que é o efêmero. Quem assistir em Porto Alegre no sábado vai ver um espetáculo, quem assistir no domingo vai ver outro — finaliza Médici.
Teatro para Quem Não Gosta
- Neste sábado (6), às 21h, e domingo (7), às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Ingressos inteiros a partir de R$ 50, disponíveis no site do Theatro São Pedro.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante.