Desde os três anos de idade, a paulista Isabella Gasparini já sonhava em se tornar uma bailarina e interpretar as princesas, cisnes e personagens dos grandes repertórios do mundo do ballet. Seus primeiros passos foram na escola da mãe, o Ballet Márcia Lago, que existe há 45 anos em São Paulo.
Percebendo que tinha jeito para a dança, a jovem bailarina, hoje com 33 anos, foi alçando voos maiores fora do Brasil, passando pelo Ballet Nacional do Canadá e pelo Northern Ballet, na Inglaterra.
Sua grande oportunidade veio em 2014, quando foi aceita para integrar o elenco do Royal Ballet de Londres, um dos mais importantes no mundo. Entrar para uma companhia desse porte não é fácil. Isabella explica que o Royal costuma buscar bailarinos dentro de sua própria escola e que nomes de fora precisam passar por audições particulares, que não são abertas para qualquer um.
— No Royal, você tem que conseguir uma audição particular. Tem que ser convidado para fazer uma aula com a companhia, daí você faz os três dias, o diretor senta, te assiste e aí depois você tem uma entrevista e ele te fala se tem um contrato ou não... o que ele achou. Eu tentei três vezes, só na terceira que eu consegui entrar, porque é muito disputado — conta Isabella.
A bailarina começou no corpo de baile, que é o primeiro estágio em uma companhia. Nessa fase, o desafio para ganhar espaço é intenso, porque é preciso se destacar em meio a coreografias nas quais todos fazem os mesmos passos.
— É um mistério para mim também como que eu consegui entrar, porque eu fiz uma apresentação lá no teatro, no Royal Opera House, num palco menor e não o principal. Eu acho que talvez eles tenham me visto lá e entrado em contato — acrescenta.
A brasileira já foi promovida a primeira artista, e desde 2019 é solista, posição na qual faz papéis de destaque, dançando em ballets conhecidos como O Quebra-Nozes, A Bela Adormecida, Dom Quixote e O Lago dos Cisnes. Agora, o foco de Isabella é seguir evoluindo para atingir os próximos passos na carreira, que são primeira solista e, depois, a tão cobiçada posição de primeira bailarina.
A busca pelo sonho vem acompanhada de uma rotina de ensaios que exige dedicação e muito esforço para dar conta de tantas coreografias. Ao mesmo tempo em que estão em cartaz no Royal Opera House (principal casa de espetáculos no distrito de Covent Garden, em Londres), os bailarinos também precisam ensaiar outros repertórios:
— A gente faz ensaios de manhã, volta pra sala de aula, faz ensaios de outras coisas, três repertórios diferentes, coreografias diferentes. Tem momentos em que estamos montando outros ballets, tem um trabalho com um coreógrafo novo, e para a noite a gente tem que apresentar outro espetáculo.
Diante de tantos passos para decorar, Isabella confessa que teve que se esforçar para não se perder logo que entrou na companhia:
— Foram vários momentos em que eu tive que aprender no mesmo dia e dançar no palco. Ia tentando assistir os outros para copiar, uma coisa que a gente acha que vai ser um desastre né, porque se você correu na direção errada quando você está no corpo de baile já era né... Passei por vários momentos desses, mas que me levaram aonde eu estou, para mostrar que eu tinha responsabilidade.
De volta ao Brasil
Isabella esteve em Porto Alegre entre 17 e 20 de julho para ministrar aulas a bailarinos do Ballet Vera Bublitz. Ela também aproveitou para participar dos ensaios de Dom Quixote, que será apresentado pela escola gaúcha no aniversário de 25 anos do Teatro do Sesi, nos dias 24 e 25 de setembro.
A solista do Royal retornará à Capital para este espetáculo, no qual viverá a protagonista Kitri, ao lado do bailarino Paulo Rodrigues, que interpretará o barbeiro Basílio. Os ingressos para as apresentações podem ser adquiridos pelo site Sympla e variam de R$ 25 a R$ 110.