Eva Schul, 74 anos; Eduardo Severino, 59; Mônica Dantas, 54; Robson Lima Duarte, 60; Suzi Weber, 57. Mais de 300 anos divididos em cinco velhos corpos dançantes, cunhados todos eles pelas marcas de quem já viveu e dançou mais de meio século. Corpos que não pretendem parar de dançar tão cedo, mesmo que alguém um dia lhes diga que já não têm a mesma flexibilidade de antes. Corpos que personificam o projeto Novos Velhos Corpos 50+, que leva ao Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333), em Porto Alegre, uma série de ações que visam a combater o etarismo (preconceito contra idosos) na dança.
A principal delas — uma instalação de videodança que reúne os cinco renomados bailarinos e coreógrafos sob direção de fotografia de Alex Sernambi, direção teatral de Lisandro Bellotto e com trilha sonora do músico mineiro Neném Menezes — será inaugurada no espaço nesta sexta-feira (5), às 19h, com performance ao vivo do grupo de dançarinos (Eva Schul, que recentemente testou positivo para a covid-19, ainda não tem sua presença confirmada no evento). Após o lançamento, a obra ficará disponível para visitação até o dia 9 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Ainda compõem o projeto a realização de três oficinas de dança (veja datas e informações ao final do texto) voltadas a pessoas com mais de 50 anos, sendo uma delas exclusiva a alunos do Centro de Referência do Envelhecimento e Movimento (Crem) da UFRGS, a projeção de números artísticos protagonizados pelo quinteto em prédios do entorno do Campus Central da universidade e duas sessões de um espetáculo a ser apresentado no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa nos dias 2 e 3 de setembro.
A ideia inicial para o conjunto de ações partiu da bailarina, coreógrafa e professora Suzi Weber, que há quase 10 anos se dedica a pesquisas sobre o envelhecimento. Conforme ela, o mercado da dança, assim como o de outras manifestações artísticas, tende a supervalorizar a juventude e a deixar de lado os corpos envelhecidos, mesmo que estes ainda tenham muito a oferecer.
— Todas as artes têm essa expectativa negativa em relação à velhice, porque isso é algo que está na sociedade. E esse trabalho é um manifesto no sentido de valorizar o que é ser velho. É dizer: "Eu posso ser velho, porque ser velho é um privilégio, é sinal de que eu cheguei lá" — explica Suzi.
Na prática, é como se os profissionais da dança tivessem um prazo de validade pré-estabelecido, pelo qual é difícil passar ileso. Nem mesmo Eva Schul conseguiu contorná-lo, ainda que seja uma das mais premiadas bailarinas e coreógrafas do país, com passagens por companhias renomadas como o Balé de Nova York.
Foi atenta a este prazo que há alguns anos Eva decidiu abrir mão de subir aos palcos para se dedicar a coreografar e dirigir, também suas paixões. Um prazo que, de certo modo, ela própria impôs a si, como confessa, mas que é finalmente extrapolado neste projeto, que marca também sua volta à cena.
— Como venho de uma geração diferente, tenho muito mais preconceito com o corpo que envelhece. Primeiro, porque venho da dança clássica, que é muito crítica. Um bailarino com 40 anos já é velho e ultrapassado na dança clássica. Mas, como esses bailarinos (de Velhos Novos Corpos 50+) são também meus amigos e meus alunos, eles começaram a insistir que eu ainda tinha muito para dar e que isso tinha que ser mostrado. E acho que a gente conseguiu isso nessa performance — conta Eva. — Considero muito especial voltar a me expor na cena com eles, pois a nossa relação é muito mais que uma relação de sala de aula ou de palco, é uma relação realmente de família. Não sei se com outras pessoas eu faria isso.
É este estímulo já incitado em Eva que o projeto deseja despertar também no público. Para o elenco, o maior retorno que Novos Velhos Corpos 50+ pode trazer é fazer com que as pessoas, sejam elas profissionais da dança ou não, percebam que, independentemente da idade, do formato, do número de linhas de expressão e até mesmo das dores que carrega consigo, todo corpo é um corpo passível de estar em movimento. Diz Suzi:
— Envelhecer tem muita dor, muito machucado, muita doença, afinal, se temos mais de 50 anos, todos nós já tivemos alguma coisa. Mas a gente entende que, com a dança, pode fazer novos circuitos no corpo. Não é simples, não é fácil, mas a gente está nessa resistência, acreditando que com a arte se pode relativizar essas questões da idade.
Eva completa:
— O movimento, por si, é belo de qualquer maneira. Ainda se confunde muito o artístico com somente o espetacular, o acrobático, quando o essencial na dança é simplesmente o gesto. E um gesto expressivo não tem idade.
Novos Velhos Corpos 50+
- Performance ao vivo: nesta sexta-feira (5), às 19h, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333), em Porto Alegre, com os bailarinos Eva Schul (participação a confirmar), Eduardo Severino, Mônica Dantas, Robson Lima Duarte e Suzi Weber. Entrada franca.
- Instalação de videodança: inauguração nesta sexta, às 19h, com a performance ao vivo. Visitação gratuita até o dia 9 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 18h. Agendamento de visitas em grupo pelo telefone (51) 3308-1981.
- Oficinas de dança abertas ao público: dias 8 de setembro e 10 de novembro (horários a confirmar). As inscrições serão abertas no dia 8 de agosto no site do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS.
- Outras informações sobre as atividades do projeto podem ser obtidas no Instagram @novosvelhoscorpos.