Stranger Things está caminhando para o seu desfecho — nesta sexta-feira (27), estreia a primeira parte da penúltima temporada da série fenômeno da Netflix. E os fãs estão ansiosos para ver a turminha de Hawkins novamente na TV depois de quase três anos de espera, já que a terceira temporada foi lançada no distante 2019.
E um dos personagens favoritos dos apaixonados pelo programa é Dustin Henderson, vivido por Gaten Matarazzo, que retorna para o quarto ano tendo a difícil missão de derrotar, ao lado de seus amigos, uma nova ameaça que parece ter saído diretamente de seu RPG favorito, Dungeons & Dragons.
O ator, em entrevista, deu detalhes do que esperar desta nova temporada de Stranger Things, quais foram as referências buscadas pelos criadores, os irmãos Duffer, para aumentar o terror do programa, como foi o clima nos bastidores, qual foi a diferença de atuar depois de completar 18 anos e como está a relação dele com Steve (Joe Keery). Leia abaixo.
Como foi voltar para a temporada 4 depois de tanto tempo?
No começo, estava muito empolgado e nervoso porque o nível da série aumenta cada vez mais. É muita pressão, mas temos bastante fé nos irmãos Duffer, no que eles criaram e no amor que sentem pela série. Isso é reconfortante ao entrar em uma temporada grandiosa como esta. Todos nós estamos muito felizes em voltar, não há dúvidas.
Conte um pouco sobre como terminou a temporada 3.
A temporada 3 terminou no verão de 1985. Conseguimos derrotar o Devorador de Mentes, além do monstro maior, que veio dos componentes físicos dele e ainda tinha poder sobre o nosso mundo.
Como a temporada 4 se difere das anteriores?
A temporada 4 é maior do que as outras em vários aspectos. Definitivamente é a mais assustadora que já fizemos. Acho que a temporada 3 foi bem diferente em termos de estética e estilo. Era muito vibrante, com tons de neon, e tinha aquele clima feliz e empolgado de verão. Contudo, isso era uma espécie de disfarce. Era o que gostaríamos de ver e o que as pessoas projetavam, mas na verdade coisas horríveis estavam acontecendo. Até o Starcourt Mall, o centro daquele verão maravilhoso, era só uma fachada e nós tivemos de voltar as atenções para o que estava realmente acontecendo em Hawkins. Uma das melhores partes desta temporada é a estética parecida com a da primeira e segunda temporadas, com tons, cores e saturações mais sombrias, além do visual e da forma como a temporada se desenrola. Acho ótimo porque parece uma versão mais acentuada das duas primeiras temporadas. É mais grandiosa e mais sombria.
Fale um pouco desse clima de filme de terror clássico que Hawkins tem nesta temporada.
A cada temporada, os irmãos Duffer escolhem um aspecto da época em que a série se passa, algo que o público vai amar e ainda não foi explorado na trama. Isso é sensacional. Na primeira temporada, houve muitas comparações com Os Goonies, Conta Comigo e várias histórias de amadurecimento, além de filmes como Alien: O Oitavo Passageiro e O Enigma do Outro Mundo, mas nós conseguimos ir além disso e seguir em frente, com novas histórias e influências. Este ano definitivamente tem uma ênfase maior no terror dos anos 1980. Filmes como A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13.
Como Dustin está no começo da temporada 4?
Ele está começando o Ensino Médio, o que é uma novidade e tanto. É uma grande mudança na vida do Dustin. Ele está tentando viver da melhor forma possível depois das experiências que teve com os amigos e espera continuar a adolescência de modo confiante ou, pelo menos, confortável. Ele está fazendo de tudo para se enturmar no Colégio Hawkins e, ao mesmo tempo, procurando se manter fiel ao lado nerd jogando Dungeons & Dragons. Dustin está tentando evitar que as pessoas ao seu redor mudem o seu jeito de ser.
Quais são as outras pressões sociais que Dustin enfrenta no Ensino Médio?
É muito raro que as amizades do Ensino Fundamental continuem intactas conforme envelhecemos. Neste grupo, estamos crescendo e nos transformando em pessoas bem diferentes. Lucas não quer continuar nerd e sofrendo bullying. Dustin consegue entender isso claramente, mas acha difícil abrir mão de algo tão importante para ele. Isso está causando uma divisão, não só no grupo de amigos, mas nele mesmo, internamente.
Qual foi a maior mudança para o Dustin da temporada 1 até agora?
Eu diria que ele está mais confiante. É isso que tento incorporar ao meu trabalho, mesmo que não esteja necessariamente enfatizado no roteiro. Ele está muito feliz por estar no Ensino Médio. Por mais que seja algo assustador e que Dustin continue ansioso, esquisito e nerd como sempre, acho que ele entra nesta nova fase com um pouco mais de orgulho. Dustin sabe quem ele é e vai tentar agir de acordo com esta identidade recém-conquistada.
Você pode dar uma visão geral da história desta temporada?
Nós começamos no início da primavera de 1986, é o primeiro ano do Ensino Médio para o nosso grupo, o que é muito animador. Porque todos nós estamos nos recuperando de alguma grande perda. Este é o primeiro ano em que toda a cidade de Hawkins se envolveu no que está acontecendo, enquanto nosso grupo continua tentando evitar que a notícia se espalhe. Se todo mundo soubesse exatamente o que está acontecendo, seria o caos. Todos nós sabemos que a batalha de Starcourt Mall foi um ataque do Devorador de Mentes, mas temos de tratar como se fosse apenas um incêndio e as vítimas tivessem morrido em um acidente trágico. Claro que isso é uma ofensa à memória delas, mas se não fosse assim, sabe-se lá como as pessoas iriam reagir. A sensação é de que tem algo à espreita, tentando se manter conectado ao nosso mundo e especialmente a Eleven. Definitivamente ainda não acabou.
Como esta temporada expande a trama para além de Hawkins, usando novas locações?
Acho que é uma temporada muito ambiciosa e estou muito empolgado. Adoro o fato de poder observar esse aspecto de longe porque minha trama continua em Hawkins, o que foi um alívio para mim. Amo gravar em Atlanta e nesses estúdios, mas foi divertido saber de tudo o que estava acontecendo nas outras locações. Tivemos cenas gravadas na Lituânia e no Novo México. Além de essa variedade acrescentar uma dinâmica interessante à narrativa, também há uma determinada estética e estilo que mostramos ao longo da temporada.
O clima desta temporada mudou com todo mundo espalhado por várias locações?
Dividir o grupo fisicamente reforça a ideia de que nós já estávamos separados como grupo. A separação física acentua a sensação de que estamos vivendo experiências diferentes e, embora o trauma seja o mesmo, a distância física entre nós dificulta muito a situação. Afinal, é mais fácil nos derrubar se não estamos juntos.
O que pode nos contar sobre Eddie Munson (Joseph Quinn), um personagem novo nesta temporada?
Eddie Munson é uma excelente adição à temporada. Estou empolgadíssimo com o personagem. Ele está no segundo ano do Ensino Médio no Colégio Hawkins. Acho até que repetiu uma ou duas vezes. Ele não está nem aí para os estudos, mas Dustin o admira muito. Eddie é líder do Hellfire, o clube de RPG do Colégio Hawkins. Agora que estão no Ensino Médio, os meninos do grupo podem entrar neste clube. No começo, Dustin gosta mesmo do Eddie. Ele é uma pessoa que segue os próprios interesses, tem atitude e um jeito despreocupado, e está em outro patamar. Dustin não apenas se vê no Eddie, como vê o que deseja ser na vida.
O que descobrimos sobre o Mundo Invertido nesta temporada?
Perceber o quanto ele é vasto fez com o que o grupo se desse conta do quanto somos vulneráveis e do quanto a nossa dimensão é frágil, especialmente depois que aconteceu a conexão inicial entre ela e o Mundo Invertido, quando a Eleven abriu o portal pela primeira vez, na temporada 1. Isso abriu as porteiras. Agora está bem claro que o outro lado sempre vai voltar mais forte do que nunca, não importa o quanto a gente lute. Precisamos descobrir o que pode acabar com o problema de uma vez por todas, mas não sabemos se existe algo em nossa dimensão que seja capaz disso. Esta é uma temporada em que praticamente não há esperança e nós temos essa consciência. Isso é o mais assustador.
Como o grupo enfrenta os desafios desta temporada?
Acho que a gente está bem casca grossa nesta temporada. Aliás, a melhor forma de descrever esta temporada é exatamente esta: "casca grossa". Mas assim como o clima divertido da temporada 3, boa parte disso pode ser só um disfarce. Acho que esta é a primeira temporada em que entendemos a nossa humanidade e mortalidade. Sabemos que a mortalidade não só é provável, como iminente. É uma descoberta assustadora que deixa os personagens arrasados. Eles estão começando a perceber que são as únicas pessoas que sabem o que realmente está acontecendo. Eles são a única esperança.
Como é a relação entre Dustin e Steve nesta temporada?
Eles ainda são grandes amigos, como acontece desde a temporada 2. Continua sendo uma dinâmica maravilhosa e muito divertida. Steve já terminou a escola e está tentando começar uma vida nova. Já Dustin acabou de entrar no Ensino Médio. Eles estão tentando manter a amizade, mas nesta situação, nem todos continuariam amigos por muito tempo. Quando Dustin começa a conhecer e admirar gente nova na escola, como Eddie, acho que Steve fica com um pouco de ciúme. É bem engraçado, especialmente porque ele tem 19 anos e o Dustin, 14. Talvez seja porque ele considera Dustin um irmão caçula, mas acho que ele o vê mais como um colega. O respeito que Steve tem pelo Dustin é comovente, fofo e verdadeiro. É algo já estabelecido e tem uma história que vai além do que vimos nas últimas temporadas, mas está definitivamente claro que eles continuam muito amigos.
A relação entre os dois muda quando Dustin faz amizade com Eddie?
É bem divertido observar a dinâmica dos dois conforme Dustin se aproxima de Eddie, a quem ele passa a admirar por ser o líder do Clube Hellfire. Eddie e Steve são totalmente diferentes e gastam muita energia odiando o tipo de pessoa que o outro representa: Steve é o certinho e CDF, enquanto Eddie é o metaleiro que não está nem aí para a escola. Eles definitivamente não seriam amigos, mas acho que as pessoas não precisam ficar com medo de Dustin e Steve se afastarem.
Você pode falar um pouco do escopo desta temporada?
Fico impressionado como o nível se eleva a cada ano. Veja o Starcourt Mall da temporada passada, por exemplo. Nós realmente alugamos um grande shopping center e reformamos para deixá-lo com a cara dos anos 1980. Eu me lembro de pensar: "Este é o auge da série. Não tem como superar isso". Aí voltamos para a temporada 4 e é claro que superamos. A parte boa é que passamos bastante tempo no Mundo Invertido nesta temporada. Existem muitos cenários com a versão do Mundo Normal e a do Mundo Invertido. São basicamente cenários duplicados e um deles está decorado como o Mundo Invertido. É muito legal, especialmente quando estão no mesmo estúdio. É de cair o queixo. A equipe de efeitos visuais, contrarregras, o departamento de arte e todos os designers conhecem a série e os personagens tão bem quanto os roteiristas e atores. Então, quando eles projetam cenários como o quarto do Dustin, é tudo perfeito. O trailer do Eddie também é 100% sintonizado com o personagem. É reconfortante e muito bacana ver que estamos em ótimas mãos.
Como você vê o equilíbrio entre drama, terror, ação e comédia na série?
Isso sempre me impressionou, desde a temporada 1. Os irmãos Duffer sabem equilibrar tudo de um jeito maravilhoso. Existem vários momentos leves e divertidos na série que fazem as pessoas rirem e se divertirem com esses personagens, criando identificação. Quando nós os vemos enfrentar situações terríveis, tudo fica ainda mais emocionante porque você já se apegou a esses personagens, ao elenco e ao jeito que trabalham juntos. Existem vários elementos que se unem para fazer da série o que ela é. E um ajuda o outro.
Como é a produção de Stranger Things? Você pode descrever os bastidores de algumas cenas em que trabalhou?
Esta é a primeira temporada que estou com mais de 18 anos, então agora posso ter um dia de trabalho mais longo, o que me deixou imensamente feliz. Sinceramente, os dias até parecem mais curtos porque, quando você tem pouco tempo, está sempre olhando o relógio e pensando: "Quando vou para casa?" Agora, minha cabeça está só no trabalho. Não preciso mais me preocupar com a escola porque já terminei o Ensino Médio e posso me concentrar nas gravações. Com isso, pude conhecer melhor todo mundo no set. Não só os meus colegas de elenco, como também a equipe maravilhosa que faz desta série uma experiência tão colaborativa. Cada departamento faz o seu melhor com muito afinco e é incrível ver como todos trabalham juntos. Obviamente, é algo que acontece desde a temporada 1, mas eu não tinha vivenciado este aspecto do trabalho até agora. Acho maravilhoso ter esta experiência neste momento e me igualar aos colegas que estão vivendo isso nos últimos seis anos. É uma grande honra. Fico imensamente feliz por fazer parte desta equipe.
O que você mais quer que o público veja nesta temporada?
Esta temporada é muito, muito assustadora. Estou doido para que os fãs assistam. É uma progressão maravilhosa e necessária para a série. Acho que estava claro que Stranger Things iria por este caminho. A história precisava se intensificar. É fundamental deixar bem claro para o público que nossos personagens são mortais e que talvez eles não saiam vivos de tudo isso. Em muitas séries, há o conforto de saber que os roteiristas não vão matar determinados personagens porque são queridos pelo público, mas não significa que isso vá acontecer nesta história. Seria um desserviço aos personagens e a quem assiste à série se não pudéssemos sentir medo e preocupação por essas pessoas. É isso que estou mais empolgado para ver.