Na primeira temporada de Stranger Things, lá em 2016, Steve Harrington, personagem de Joe Keery, não era um dos mais queridos pelo público — na verdade, a sua arrogância fez com que ele se tornasse uma das figuras mais detestáveis daquele primeiro ano da série.
Pois bem, felizmente, o tempo passou e Steve encontrou a redenção. Agora, ele é parte essencial do grupo principal da série, que busca investigar os mistérios que rondam Hawkins e, consequentemente, derrotar as criaturas que surgem do Mundo Invertido.
Ex-namorado ciumento de Nancy Wheeler (Natalia Dyer), Steve virou queridinho do público após criar uma inesperada relação cheia de irmandade com Dustin Henderson (Gaten Matarazzo) na segunda temporada, tornar-se a babá do ano para toda a criançada e, ainda, por engatar, no terceiro ano, uma amizade com Robin Buckley (Maya Hawke), com quem divide todas as suas dúvidas e inseguranças.
Assim, com o passar dos anos, Steve passou de odiado a um dos personagens mais amados de Stranger Things. Abaixo, o seu intérprete, Joe Keery, fala sobre o que esperar da quarta temporada da série, que estreia nesta sexta-feira (27), como foram os bastidores e ainda o que esperar do ano final da atração da Netflix.
Como foi voltar para a temporada 4 depois de tanto tempo?
O intervalo foi bem longo para quem está assistindo, mas nem tanto para quem estava gravando. Para mim, foi uma quantidade normal de tempo, mas sempre é fácil voltar para esse trabalho. Foi bom ter novos colegas de elenco neste ano e foi ótimo ter Joseph Quinn, com quem acabei fazendo muitas cenas nesta temporada. Adorei trabalhar com ele e com Eduardo Franco e Jamie Campbell Bower.
Conte um pouco sobre como terminou a temporada 3 e como começa a temporada 4.
Tem uma grande lacuna entre elas. Agora incorporamos Robin ao grupo de pessoas que sabe tudo a respeito deste elemento sobrenatural que está atuando em Hawkins. Então, no início da temporada, sabemos que está acontecendo algo, mas não exatamente o quê.
Vamos falar sobre a primeira leitura de roteiro. Como os irmãos Duffer descreveram a visão deles para esta temporada?
A temporada 3 era brilhante, vibrante e divertida. Afinal, era verão. Para a temporada 4, acredito que eles queriam voltar à temporada 2, agora enfatizando os elementos de terror da série, e fizeram isso por meio do novo vilão. Até as cores da série parecem retomar a primeira temporada, com mais tons de marrom, dourado e uma paleta mais escura.
O clima desta temporada mudou com todo mundo espalhado em várias locações? Como foi para você estar no grupo de Hawkins?
Colocar os personagens em cenários variados dá uma boa noção da magnitude da série. Acho que os filmes de Star Wars fazem isso muito bem e sei que os Duffer queriam que esta temporada tivesse essa noção de extensão. Ao mostrar várias locações, dá para sentir a amplitude da série. Acredito que esta tenha sido a intenção deles. Quanto a estar no grupo de Hawkins, eu adoro essa trama. Acho que é o principal núcleo da série. É onde tudo começou e para onde tudo vai convergir.
Vamos falar agora sobre o desenvolvimento do Steve nesta temporada. O Ensino Médio é um marco importante para alguns dos personagens mais jovens e eles passam por várias mudanças. Steve vive alguma transformação nesta temporada?
Uma das coisas de que mais gostei no personagem foi a amizade com a Robin, que passou a ser fundamental para o caráter dele. E também acho isso muito bom porque não existem muitas histórias de amizade entre homem e mulher representadas na tela, que fiquem apenas na amizade. Foi isso que a nossa relação virou. Nossas histórias estão interligadas porque um tenta arrumar relacionamento para o outro no começo da temporada. Mas Steve continua no mesmo ponto em que parou. Ele ainda está sem rumo, procurando algo, mas com tudo o que enfrenta nesta temporada, acho que ele consegue entender melhor o seu rumo na vida. Os Duffer sempre fazem um belo trabalho ao dar um propósito a cada integrante do grupo. Eles entendem mesmo os personagens e sabem onde cada um deles se encaixa. Os dois escrevem muito bem. E isso me faz sentir que entendo Steve.
Como a relação entre Steve e Dustin evoluiu?
Não considero isso ruim, mas não acho que tenha evoluído tanto assim. Acredito que eles continuem grandes amigos, mas esta temporada mostra um pouco de ciúme nessa relação. Steve está desconfiado da amizade de Dustin com Eddie e chega a brigar com ele por causa disso, mas os dois ainda são unha e carne. Dificilmente vai aparecer algo capaz de separá-los, o que é muito bom. É uma relação inusitada, que acabou sendo muito proveitosa, especialmente nos bastidores. Trabalhar com Gaten é muito fácil e incrível.
Como é o clima nos bastidores e com os colegas de cena?
É muito bom. A gente tem uma espécie de código e eu sinto que todo mundo entende o que os Duffer estão buscando. É muito divertido fazer parte desta série. E ainda fizemos coisas incríveis neste ano, com as cenas embaixo d’água e muita ação. Foram algumas das sequências mais marcantes que já fiz. Nesses momentos, sempre parava e pensava no quanto aquela experiência era maravilhosa e inigualável.
Você pode falar um pouco da sua preparação para as cenas no tanque e o treinamento para as cenas de ação?
Treinei mergulho livre para expandir a capacidade respiratória e ficar mais confortável embaixo d'água. Consegui ficar uns dois minutos e meio embaixo d'água sem respirar porque, se houvesse algum problema nas cenas submarinas ou se precisassem de mais tempo para ajeitar a câmera, eu poderia continuar submerso. É tudo uma questão de agilizar a produção e minimizar o tempo necessário para reconfigurar algumas coisas. Enfim, é um esforço para manter a máquina das gravações funcionando a todo vapor. Foi uma experiência recompensadora e imersiva. Você nem precisa atuar muito porque está debaixo d'água, olhando para os belos cenários que a equipe criou. Essa foi uma das partes mais gratificantes da temporada porque tivemos muito tempo para nos preparar. Foi maravilhoso chegar bem-preparado e empolgado para fazer essas cenas. Sinceramente, fiquei bem triste quando os três dias de gravação dessa sequência terminaram.
O que você pode nos contar sobre esse cenário e a grandiosidade dele?
Era imenso. Provavelmente tinha uns seis metros de altura e uns 12 de largura, com um deque ao redor. Também tinha um cenário lindo no fundo, com umas entradas para que as câmeras pudessem ficar embaixo dos cenários. Foram vários dias neste tanque com a melhor equipe do mercado. Adorei trocar ideias com os caras que vivem disso. Fiz várias perguntas e aprendi muito com a experiência deles. Foi legal demais, um daqueles momentos que parecem um sonho. Nunca vou esquecer dessa experiência. Espero fazer algo assim de novo.
O que você pode falar sobre o escopo da temporada e as novas descobertas sobre o Mundo Invertido?
Desde o começo do processo de escrita, os Duffer definiram um arco que ia um pouco além deste ano. Com o novo vilão, eles escreveram esta temporada pensando na mitologia da série, mas também estão escrevendo para concluir a história, o que eu acho ótimo. Você também percebe isso porque a quarta temporada termina de um jeito diferente das anteriores. Tudo o que aconteceu até agora tem um custo e, como espectador, esses são os meus momentos favoritos, quando dá para sentir o peso das coisas. Espero que, na próxima temporada, a gente possa sentir o peso do que está por vir.
Por que você acha que os fãs se mantêm tão fiéis e dedicados a Stranger Things?
Às vezes é difícil até de compreender. É realmente incrível que esse grupo de personagens escritos pelos Duffer para esta história sejam admirados por tanta gente. Acho que só vou apreciar totalmente isso quando a série acabar. Estamos chegando perto do fim e, especialmente neste ano, estou saboreando todos os momentos incríveis no set com as pessoas a quem me apeguei ao longo do tempo.
Com a temporada 4 chegando ao fim, o que você espera ver na temporada 5?
Acho que a temporada 5 vai ser caótica, uma verdadeira loucura. Existem muitas tramas para serem fechadas. Tenho expectativas para a próxima temporada, mas acho que os Duffer estão mais concentrados em fazer um final emocionante. Tenho toda a fé do mundo nesses caras. Eles são os melhores e ninguém supera.
A série equilibra ação, humor, terror e drama de um modo bastante coeso, não é?
Sim e não é algo fácil de fazer. São basicamente nove filmes. Se você pensar nos recursos que essa empreitada exige e no que os Duffer conseguiram fazer, é incrível. Em termos de incorporar vários elementos, acho que começa pela compreensão profunda dos personagens e das interações entre eles porque, quando recebo os roteiros, fica bem claro para mim como eles querem que o Steve esteja na cena. Nós atuamos em cima do roteiro e, na hora de gravar, tem mais coisas a fazer, mas eles são imensamente talentosos escrevendo para esses personagens. Os Duffer sabem chegar nesse equilíbrio de escrever algo que vai assustar, fazer rir e também chorar após atingir o público no meio do peito. Escrever com o coração é o superpoder deles.