Uma das cenas mais impactantes da nova temporada de Sob Pressão não mostra internados em UTIs. Tampouco tem relação com a pandemia do coronavírus. Carolina e Evandro, o casal protagonista do seriado da Globo, abraça-se no consultório escuro ao perceber que o surgimento de Francisco, o filho de uma ex-namorada dele no hospital, traduz uma batalha que ficou travada na vida deles.
— Por mais que a gente tente deixar o passado para trás, ele sempre volta — dispara Carolina (Marjorie Estiano).
A frase norteia a nova fase da série médica, que estreia nesta quinta (12), logo após Império, na RBS TV. Depois de uma temporada especial, em que os dois enfrentaram os atendimentos em um hospital de campanha contra a covid-19, agora o foco se volta às pessoas em meio às dificuldades enfrentadas pelo sistema público de saúde.
Indicada ao Emmy Internacional pelo papel, Marjorie acredita que as escolhas de Carolina pesam mais nesta temporada. Com a maternidade como chave de várias discussões com Evandro, a médica fará com que o marido pense melhor no significado de formar uma família. Por isso, para o ator Julio Andrade, a fase inédita de Sob Pressão vai muito além da medicina.
— Família é algo que a gente não escolhe e, depois de quase ter morrido para a covid, Evandro passou a pesar mais a vida pessoal e ser mais calmo. O desenho do personagem segue ali e essa temporada tem muito de mim, da minha relação com a vida e de como entendo a família — garante, em entrevista a GZH, o ator gaúcho, que interpreta o personagem desde a primeira temporada.
Os dramas de Sob Pressão seguem dialogando diretamente com a realidade do sistema público de saúde. Mais uma vez sob direção artística de Andrucha Waddington e texto coordenado por Lucas Paraizo, entre um atendimento e outro, o público se verá envolvido por temáticas como o HIV na terceira idade, a homofobia e a ocorrência de feminicídios.
Segundo Paraizo, os assuntos já estavam previstos para serem inseridos na série antes da pandemia e ganharam ainda mais força durante o período de distanciamento social. O número de mulheres idosas infectadas pelo vírus da aids, por exemplo, cresceu 657% entre 2007 e 2017, de acordo com um boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em 2018. Mesmo com queda em 2019, especialistas acreditam que a pandemia interferiu nos diagnósticos.
— Falar de outras emergências é mostrar que existe um descompasso grande nas esferas públicas a respeito desses outros assuntos, e o quanto tudo isso afeta pacientes e médicos. Nosso desejo é trazer esperança, seja nos relacionamentos ou em uma melhor qualidade na saúde do nosso país — reflete o autor.
Estreias
Para relatar essas histórias, são cerca de cem participações especiais nos 11 episódios. Ary Fontoura, Arlete Salles, Yanna Lavigne, Ailton Graça e Grace Passô devem brilhar em algumas das tramas inéditas. Márcio Maranhão, médico que atua como colaborador direto no roteiro, afirma que essas inclusões ajudam a reforçar a missão de Sob Pressão.
— Se a arte cura, o Sob Pressão é o remédio, e a gente consegue perceber esse efeito terapêutico nos diálogos dos personagens tendo a saúde pública como protagonista. A obra traduz muito do que falta nessa sociedade tão adoecida e tão febril. Esses personagens trazem muito da emoção de que todos cuidam de todos, algo humanizado — reforça Maranhão.
Na nova fase, além das participações, três novos profissionais da saúde estreiam no quadro fixo no seriado: o anestesista Gustavo (Marcelo Batista), a enfermeira recém-formada Lívia (Barbara Reis) e o neurocirurgião Mauro (David Junior). Para Junior, seu personagem ajuda a encarar a realidade e serve como inspiração para os dilemas de Carolina e Evandro:
— Todos têm erros e acertos durante a vida inteira, mas temos que lidar com eles. É o que o Mauro tenta fazer em todos os episódios, levando paz e fazendo o melhor para cada paciente.
A chave não é voltar ao passado, mas dar o nosso melhor daqui pra frente. Os atores contam que sentiam uma certa tensão durante as gravações, seguindo dezenas de protocolos sanitários.
Drica Moraes, mais uma vez interpretando a médica Vera, garante que sentiu um “medo real” de se contagiar com o coronavírus, ao mesmo tempo em que a vacinação seguia atrasada em todo o país naquele momento.
— A gente estava realmente impregnado dessa nuvem, mas isso nos deu um peso maior na relação com os personagens e os casos dos pacientes. A gente tremia literalmente o tempo todo trabalhando e imaginando que aquilo tudo é real. Tem a esperança, mas tem essa dor de estar aqui falando as mesmas coisas, em um país que não solidifica sua base nas questões essenciais — destaca Drica.