Que tal começar o novo ano com uma minissérie sobre um vírus de gripe mortal capaz de dizimar a humanidade em dias? É o tipo de escapismo oferecido por The Stand, produção em nove capítulos da CBS, que estreia no Brasil neste domingo (3) pela plataforma Starzplay.
A história foi publicada em 1978 pelo "rei do terror", Stephen King. Lançado no Brasil como A Dança da Morte, o livro ganhou uma edição expandida nos anos 1990 e uma primeira minissérie em 1994. À parte seu sucesso pelos últimos 40 anos, todavia, é indiscutível que a trama ganha novos contornos depois deste 2020.
Não que o projeto seja um fruto direto da atual pandemia. As gravações para a minissérie tiveram início em setembro de 2019, meses antes dos primeiros registros do novo coronavírus. O que pode explicar a forma desapaixonada como o surto do “Capitão Viajante”, como é chamada a doença, se desenrola na produção.
Em questão de horas, o vírus se espalha pelos Estados Unidos. Quarentenas são impostas, a internet é tirada do ar, hospitais entram em colapso. E, então, em menos de dois dias pelo menos 99% da população está morta. Há terror nessa urgência, mas, ao mesmo tempo, é impossível não compará-la ao suspense mais lento e angustiante de acompanhar por dias e meses o desenrolar de uma pandemia sem fim.
Aos sobreviventes do vírus letal de The Stand resta reconstruir a sociedade a partir das ruínas do que ficou para trás. Contudo, o renascimento não garante um mundo melhor per se, e as forças que buscam dar forma ao futuro passam a lutar entre si.
Dicotomia
Há duas grandes forças em ação: de um lado, a centenária anciã Mãe Abagail (Whoopi Goldberg), uma emissária de Deus, defendendo a justiça, a piedade e a esperança. Do outro, Randall Flagg, o Homem de Preto (Alexander Skarsgård), embaixador do mal — personagem que se tornou um vilão icônico de King e retornou em outras obras, como A Torre Negra.
A tentação e os chamados divinos chegam aos sobreviventes por meio de sonhos e dividem o que restou da humanidade em duas colônias antagonistas, dispostas a se enfrentarem em uma batalha de proporções bíblicas.
Como é recorrente na obra de King, a grande questão reside na forma que pessoas ordinárias reagem a situações extraordinárias, sejam naturais ou sobrenaturais. Face um vírus mortal ou forças malignas, o que é preciso para transformar um ser humano normal em um seguidor das trevas ou em redentor da humanidade?
Não parece um acaso a minissérie abrir justamente com Harold Lauder (Owen Teague), epítome desses questionamentos. Um garoto inábil, sem amigos, ignorado pela garota que quer ter, perseguido pelos colegas, sonhando em ser um escritor, mas colecionando rejeições. O que é preciso para salvá-lo? E quão pouco é necessário para jogá-lo nos braços da escuridão?
São essas, de certa forma, as perguntas deixadas por The Stand desde o primeiro episódio.
Reinado
A estreia neste domingo vem menos de um ano depois do lançamento da adaptação para a televisão The Outsider, pela HBO, indicando que o reinado de King no terror ainda está longe de acabar. Apenas na última década, seus livros inspiraram séries como Saco de Ossos e Under The Dome (disponíveis no Globoplay), O Nevoeiro (Netflix) e Sr. Mercedes (Starzplay). No cinema, é uma lista ainda mais impressionante, com títulos como It: A Coisa e It Capítulo Dois, Campo do Medo, Doutor Sono, 1922, Jogo Perigoso e os remakes de Carrie e Cemitério Maldito.
Conhecido por ter uma visão crítica de algumas adaptações do seu trabalho (o caso mais conhecido é sua rejeição ao clássico O Iluminado, de Stanley Kubrick), King está feliz com pelo menos parte das modificações feitas em The Stand:
— Uma melhoria clara está na diversidade do elenco — afirmou em entrevista ao The New York Times. — O livro era muito branco; a minissérie (de 1994) era muito branca. Eles fizeram uma produção multicultural agora, o que faz todo o sentido.
Outra novidade na trama foi presente do próprio autor. Ele escreveu um novo final para a minissérie, diferente do visto nos livros pelas últimas quatro décadas:
— Eu sempre soube que havia uma coisa a mais que eu precisava dizer, uma cena mais que eu gostaria de escrever, e eu finalmente fiz isso. E fiquei contente.
Criada por Josh Boone e Benjamin Cavell, The Stand foi lançada originalmente pela CBS All Access nos Estados Unidos, em dezembro de 2020. Por aqui, os episódios serão semanais, sempre aos domingos, para assinantes do Starzplay. É possível adquirir o serviço via plataformas como Amazon Prime Video, Apple TV, Clato TV e dispositivos Roku.
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- Episódios semanais aos domingos para assinantes do Starzplay