Recém-lançada pela Netflix, Emily em Paris propõe discussões sobre moda, relacionamentos e feminilidade em um tom conhecido por quem já assistiu O Diabo Veste Prada e Gossip Girl. Mas diferentemente dessas produções, a comédia protagonizada por Lily Collins se passa na capital francesa, e é justamente a representação do país europeu e de seus moradores pela série que virou alvo de polêmicas.
Produzida por Darren Star, criador de Sex and the City, a comédia narra as aventuras da gerente de marketing americana Emily por Paris, trazendo à tona as diferenças culturais entre os dois países. O enredo é baseado em suas experiências na cidade.
No entanto, parte da imprensa e do público da França afirmam que a série apresenta uma visão estereotipada e não realista sobre a cidade. As críticas vão desde as escolhas estéticas da produção, com boinas, cigarros e croissants, até a representação dos hábitos parisienses.
Confira os estereótipos mais citados por franceses que assistiram à série:
Preguiça
Logo nos primeiros episódios, após chegar em Paris, Emily estranha os hábitos de seus colegas de escritório, que só começam a trabalhar depois das 10h. De acordo com duas francesas ouvidas pelo site americano Bustle, o expediente francês é realmente mais curto e os trabalhadores têm mais feriados e folgas. Isso, no entanto, não atrapalha o desempenho dos franceses, que lideram os rankings de produtividade no mundo.
Sem banho
Na série, após fazer sexo com Emily, um francês se nega a tomar banho. Em outro momento, a água acaba enquanto a protagonista está embaixo do chuveiro — o que é raro de acontecer na realidade. Segundo os franceses, todos têm acesso a água e a produtos de higiene no país. Uma pesquisa do grupo BVA aponta que 56% dos franceses tomam banho diariamente — este é o segundo maior índice entre os países europeus, atrás somente da Espanha.
Sexualidade
Em mais de uma ocasião, a série mostra os homens franceses sem pudores quando o assunto é sexualidade. De acordo com o jornal Le Parisien, eles "são retratados como amantes incríveis e insaciáveis na cama. Além disso, todos os personagens masculinos encontrados pela heroína, fora seus colegas, fazem alguma tentativa de seduzi-la. Uma cadeia de constrangedores e irritantes clichês". Em uma cena, em frente aos colegas de trabalho de Emily, sua chefe, Sylvie, sugere que ela faça sexo para relaxar. Outro clichê é de que os franceses têm tendência à traição.
Intolerância
A série também foi criticada por representar os parisienses como sendo intolerantes. Em uma cena da série, o personagem Thomas despreza seu vizinho, Gabriel, após ele dizer que é da Normandia. Além disso, a produção mostra que os franceses não gostam de falar inglês e não têm paciência com turistas que não entendem o idioma. Isso fica claro principalmente nos primeiros episódios, quando Emily expressa suas dificuldades com a língua, que não conhecia até ter de ir à França a trabalho.
Segundo os franceses, os parisienses realmente têm preconceito com quem vem de outras regiões do país e também são apegados ao idioma, pois o consideram um importante símbolo nacional. Eles ponderam, no entanto, que esses hábitos são mais comuns entre idosos, e que, apesar de parecer grosseria, são traços culturais.
Machismo
Uma das cenas que mais chamam a atenção na série é quando a empresa de marketing onde Emily trabalha grava um comercial de perfume. A propagando exibe uma mulher desfilando nua, em um local movimentado da cidade, enquanto passa por uma fileira de homens vestindo terno e gravata.
Quando Emily intervém no projeto, afirmando que ele é politicamente incorreto, sua chefe a chama de puritana:
— Eu sou uma mulher. Não uma feminista — diz Sylvie.
Ao contrário do mostrado na série, a França tem acompanhado a crescente onda feminista, tendo criado sua versão do movimento #MeToo, o #BalanceTonPorc (exponha seu porco, em português). Assim como em outros países, um comercial como o mostrado na série da Netflix não seria bem aceito entre os franceses.
Grosseria
Em diversas ocasiões, Emily se sente desprezada pelos parisienses, desde seus colegas de trabalho até atendentes de lojas. Em uma cena, Emily sai de casa e pisa em um cocô de cachorro na calçada, enquanto a dona do animal fuma e finge que nada de estranho aconteceu.
Em outro momento, Emily pergunta a Sylvie por que ela não quer conhecê-la e a chefe responde:
— Você vem para Paris. Você entra no meu escritório. Você nem se preocupa em aprender a língua. Você trata a cidade como se fosse seu parque de diversões. E depois de um ano de comida, sexo, vinho e talvez um pouco de cultura, você vai voltar para de onde veio.
Culinária
Emily aparece com frequência comendo croissants ou pratos gourmetizados. Gabriel, personagem por quem ela se apaixona, trabalha como chefe de cozinha e sonha em montar seu restaurante próprio, outro clichê associado à França. O seriado também evidencia o consumo de vinhos e espumantes em Paris, principalmente em almoços.
Cidade perfeita
Shows de arte, desfiles de moda e jantares elegantes são os cenários de Emily em Paris, ao contrário da realidade da cidade. Conforme apontam os franceses, as ruas de Paris, assim como qualquer outra metrópole, têm lixo, pichações e outros problemas urbanos, além de seguidamente serem palco de protestos.
Fashionistas
Além de Emily, que está sempre vestindo boinas, saltos e bolsas de grife, os personagens franceses aparecem com roupas extravagantes. Apesar de Paris ser berço de importantes grifes e de sediar diversos eventos de moda, seus habitantes costumam se vestir casualmente, de maneira semelhante a de outros países.
Cigarros
Ao chegar ao novo trabalho, Emily é surpreendida pelo seu chefe, que entra na sala fumando. Em outro momento, uma colega usa o almoço para fumar. Apesar de o tabagismo ser comum em países europeus, os franceses não fumam em locais fechados, principalmente no trabalho. As gerações mais novas também não costumam usar cigarros, e sim vaporizadores.