Na noite desta segunda-feira (17), foi a vez do comediante Marcelo Adnet, 38 anos, ser alvo das perguntas da bancada do Roda Viva, programa da TV Cultura. Durante a entrevista, conduzida pela jornalista Vera Magalhães, o humorista respondeu questões sobre trabalho, carreira e a situação do Brasil, tudo direto de sua casa.
Os convidados a fazer as perguntas eram o humorista e escritor Hélio de la Peña, a humorista Bruna Braga, o escritor Antonio Prata, a jornalista Anna Virginia Ballousier e o apresentador Marcelo Tas. A entrevista está disponível na íntegra no YouTube.
Adnet, já conhecido por suas constantes imitações de figuras políticas — especialmente do presidente Jair Bolsonaro — não se esquivou das questões sobre política e se declarou um progressista convicto.
— Me considero de esquerda, sem dúvidas. Me considero progressista. Não comunista [...], mas de esquerda sim, eu acho que é óbvio. Você tem que ser de esquerda no Brasil. Como é que eu vou morar no Brasil e não ser de esquerda? Eu acho muito complicado — declarou.
Em seguida, o humorista esclareceu que acha que as políticas progressistas são as únicas que fazem diferença para "diminuir as diferenças abissais no país". De acordo com ele, de outra forma as desigualdades só aumentarão.
Apesar de admitir grande interesse pelo campo da política e pelo impacto que os políticos têm na sociedade, Adnet negou ter planos de migrar para cargos públicos. Ele afirmou temer pela própria vida, revelando que recebe ameaças constantes por expor sua opinião na internet e na televisão como comediante.
O ódio, no entanto, não intimidou Adnet nesta noite. Ele reiterou críticas ao presidente, afirmando que Bolsonaro é "um cara contra a cultura", citando, como exemplo, o plano para taxar livros.
— Nosso presidente vem investindo contra a cultura. A cultura perdeu seu ministério, ela foi caindo, caindo, hoje você nem ouve falar na Secretaria de Cultura, só por umas notícias tristes relativas a ela. Então é uma destruição da cultura — ressaltou.
Humor na pandemia
Atualmente no ar com o programa diário Sinta-se Em Casa, do Globoplay, Adnet vem fazendo sucesso com crônicas sobre os absurdos do cotidiano brasileiro. Durante a noite no Roda Viva, ele contou alguns bastidores da atração, como é a gravação caseira e o processo de escolha dos quadros ("A produção sou eu, Patrícia, os gatos e os cachorros", citou, com referência especial ao gato mais novo, Romarinho).
Sobre a escolha das pautas de suas piadas, Adnet afirmou que tenta criticar apenas aqueles que acredita merecerem suas alfinetadas. Segundo o humorista, ele não se sente à vontade fazendo graça, como já foi comum um dia, com "preto, gay e mulher gostosa".
— Toda piada tem um alvo. Eu tento fazer com que o alvo da piada seja merecido.
Apesar disso, ele também fez questão de sublinhar que esta é apenas sua visão do humor, que é um campo que abrange diferentes personalidades e profissionais, cada um com suas escolhas criativas e pessoais.
— Gosto fazer humor que sacaneia quem deve ser sacaneado. Mas isso não é uma regra, eu acho que o humor é plural.
Em relação ao atual estado do Brasil, Adnet afirmou sentir que os políticos representam uma "concorrência desleal" aos comediantes, por estarem constantemente envolvidos em situações absurdas.
— Existem momentos em que eu me limito a reproduzir o que aconteceu. Coloco ali só um molhinho, uma piada a mais para amarrar, para dizer "olha, isso aqui é um quadro de ficção" — concluiu.