Felipe Neto foi o entrevistado da noite desta segunda-feira (18) do programa Roda Viva, da TV Cultura. Considerado o segundo youtuber mais assistido do país, o também empresário falou sobre seu posicionamento político e a importância das redes sociais diante das mudanças na sociedade. Em um dos momentos mais polêmicos da atração, ainda no primeiro bloco, Neto disse que "errou muito no passado" e que passou "os últimos quatro anos tentando corrigir suas posturas".
- Faço mea culpa, sem problema algum. Um defeito que eu não tenho é o da teimosia. Errei muito no passado, aprendi muito com esses erros. Não sou adorador de um projeto petista, mas, no momento do impeachment, daquilo que podemos chamar de golpe, a minha colaboração, embora fosse nada comparável com a que tenho hoje nas redes sociais, sem dúvida ela existiu. Assim como eu errei naquele momento do golpe, eu posso vir a errar de novo, e de novo, e de novo - considerou.
O youtuber também refletiu que "a discussão de hoje não é sobre política, e sim sobre liberdade e opressão". Recentemente, Neto publicou um vídeo incentivando outras personalidades famosas na internet a se posicionarem contra o atual governo de Jair Bolsonaro.
- Quando se vê o presidente fazendo as coisas que está fazendo, como ele lida com a realidade, não é política, não é lado. Não podemos validar opressão, fascismo. A gente está lidando com um assunto radical. Não estamos falando de lados e todos sabem que a covid-19 é uma ameaça. Sabemos que o Bolsonaro é uma ameaça. Eu estou mostrando como você pode se informar de uma maneira básica, e que não precisa de muito para ver a ameaça que é o atual governo. Eu não quero que falem de política, eu não estou pedindo para concordar - destacou. - Demorou para eu ter feito aquele vídeo. Já não dá mais para ficar calado. Qualquer pessoa que fique calada já é conivente com o que está acontecendo.
Em outro momento, Neto frisou que o brasileiro tem a necessidade de ter um "salvador da pátria".
- Temos isso de acreditar em salvadores da pátria, mas não sei de onde surgiu e temos que desconstruir isso. Ele não tem como salvar a pátria, Bolsonaro e o (Sergio) Moro não têm como salvar a pátria, ninguém é salvador da pátria. A política tem que viver de convivência, resolvendo tudo coletivamente.
Comunicação
Felipe Neto também reconheceu que proferiu falas machistas no passado, mas que "voltou atrás para corrigir" suas posturas. Ele garante que "não se sente justiceiro" e que não deseja ter esse papel. Consciente de sua relevância nas redes sociais, enxerga a comunicação com movimentos de esquerda e de direita como uma solução para o cenário instável que o país enfrenta.
- A derrubada do regime de opressão é independente de bandeiras políticas. Estamos vendo (Marcelo) Freixo e (Wilson) Witzel se comunicando, falando juntos de mobilização, e é a prova de que não é política. Nós não podemos validar o negacionismo e o revisionismo histórico que está sendo feito. Essas pessoas precisam ser desmascaradas.
Para o youtuber, a grande barreira é a eficiência de Bolsonaro em se comunicar com seus apoiadores.
- O governo focou em um público, para manter base de 30% e sabe como falar com eles. A equipe do presidente não está preocupada com plano de governo, ela quer inflamar e vive do caos, vive da promoção do caos, do desespero, do medo. É isso que a alimenta e a população se identifica pela ignorância. Já a oposição faz tudo errado há muito tempo, está desunida, tem dificuldade de falar e está aprendendo a usar as redes sociais.
Diante das especulações, Neto negou que tenha "qualquer projeto de poder" e de candidatura para 2022.
Ameaças
No ano passado, o empresário também foi alvo de ameaças durante o caso da Bienal do Rio. Na ocasião, ele doou livros com temática LGBT+ para o evento logo após o prefeito Marcelo Crivella determinar a retirada de exemplares de uma HQ que mostrava um beijo gay entre os personagens. Na bancada de entrevistados, a jornalista Rachel Sheherazade quis saber se Neto acredita que o chamado "gabinete do ódio", que youtuber apontou como os responsáveis pela disseminação de informações do governo, tem relação com as opressões que ele recebeu.
- Eu não sei, mas é difícil imaginar que não tenha. A gente está na polícia, estão com o caso em andamento. Na época, eu e minha mãe recebemos ameaças de morte. É um assunto sensível ainda para mim. (...) A gente não pode validar esse tipo de lado, isso não pode ser considerado normal - disse.
Neto torce para que a investigação consiga chegar aos responsáveis.
- Sim, se a Polícia Federal puder trabalhar, que é o pânico da família Bolsonaro, quero que tragam resultados. O que acontece no gabinete do ódio é um crime muito grave, com consequências trágicas para todo mundo, espero que cheguem aos culpados - frisou.