Daniel de Oliveira já se imaginava no papel do bicampeão mundial de boxe Éder Jofre muito tempo antes do filme 10 Segundos Para Vencer, lançado nos cinemas em setembro de 2018 e que ganhou versão em minissérie com quatro episódios, que estreia nesta terça-feira (8) na RBS TV, às 23h. O ator conta em entrevista que há quase 10 anos procurou Jofre para realizar o projeto, mas ouviu deste que o filme já estava sendo feito por outras pessoas. No entanto, o destino deu muitas voltas, e o papel veio parar com ele.
A minissérie da Globo, baseada no longa-metragem dirigido por José Alvarenga Júnior, mostra toda a trajetória do pugilista destacando como ponto de conflito o mesmo elemento que ajudou a fazer de Éder Jofre um vencedor: sua relação com o pai, o ex-boxeador e treinador argentino Kid Jofre, vivido com brilho por Osmar Prado, em performance vencedora do Kikito de melhor ator no Festival de Gramado.
Éder nasceu em São Paulo, em 1936, e deixou de lado o sonho de trabalhar com desenho e arquitetura para seguir a tradição da família de pugilistas. Eleito o maior peso galo da história do boxe mundial, o brasileiro fez uma carreira brilhante e surpreendente nos ringues, com 81 lutas e apenas duas derrotas por pontos, sem nunca ter sofrido um nocaute.
O chamado Galinho de Ouro sagrou-se campeão mundial na categoria em 1961, nos Estados Unidos – e defendeu o título até 1965, vencendo todas as lutas por nocaute. Em 1966, decidiu se afastar do esporte, mas voltou em 1970, em nova categoria: o peso pena. Venceu então todos os 25 combates que enfrentou, até conquistar o título de bicampeão mundial, em 1973, aos 37 anos.
Como foi viver o Éder Jofre no cinema e, agora, na minissérie?
Um prazer! Comecei esse projeto no dia do meu aniversário. Quer presente melhor? Sendo que eu tenho uma história curiosa para contar desse filme. Há quase 10 anos, estava fazendo um longa em São Paulo, chamado Boca (2010), com o Flávio Frederico, e tive um insight tomando banho. Soquei o azulejo e falei: “Opa, vou fazer o Éder Jofre no cinema”. Cheguei a ligar para ele na época, que me respondeu: “Já tem um cara fazendo um negócio de filme meu para o cinema”. Desliguei o telefone e esqueci. Depois de oito anos, me chamaram para o projeto. Tinha que ser meu!
Você esteve com o Éder Jofre antes de começar a trabalhar no filme?
Estive e foi maravilhoso. A gente foi visitá-lo em São Paulo. O José Alvarenga Jr. (diretor), todo mundo... Foi até curioso, porque perdemos o voo, o tempo estava fechado no aeroporto do Rio e, aí, a gente foi de van para São Paulo. Naquele almoço com o Éder, vi que era pouco, precisava ter mais encontros com ele. E me mandei para São Paulo, passei uma semana lá, trocando ideia.
Você se machucou filmando 10 Segundos Para Vencer?
Não dá para fazer um filme de boxe e não se machucar. Mas eu faço krav magá há 11 anos, então já estou acostumado com soco e tal. O boxe até dilatou isso, comecei a viciar em soco. Olha só, que onda... Eu falei para o meu professor, meu mestre de boxe, o Cesário Figueiredo: “Cesário, não é por nada, mas eu levo umas pancadas e estou gostando”. E ele me falou que é assim mesmo, que é normal.
Você fez muitos personagens reais no cinema. Gosta desse tipo de trabalho?
Gosto e é mesmo coisa recorrente na minha carreira. Se olhar para trás, vejo Cazuza, que foi o primeiro e muito importante, pois abriu a porta para os outros. Fiz o Stuart Angel Jones, filho da Zuzu Angel; o Frei Betto; o Santos Dumont em um curta; o William da Silva Lima no 400 Contra 1; o Hiroito de Moraes Joanides no Boca; enfim, foram vários personagens do Brasil e, agora, tenho o Éder também.
O seu corpo mudou muito para interpretar o Éder?
Sim, fiz regime mesmo. É malhar pra caramba, intensificar mais... Foi difícil, porque precisa ter disciplina até de treinamento e de dieta, não dá para fugir. Aos 39 (hoje, Daniel tem 41 anos), fazer um boxeador que passa por várias fases mais novo, tem de dar uma secada pelo menos. Em Cazuza (2004), eu tinha ficado muito magro, mas aí era outra proposta. O que acho interessante é isso! É trabalhar com o corpo em prol do personagem. Se tiver de engordar, engorda. Se tiver de emagrecer, emagrece. Brincar com isso para que, esteticamente, você entre em outro universo.
Você já está escalado para alguma novela?
Por enquanto, não. Vou fazer uma participação na série da Hebe, em São Paulo. Enfim, faço o Luís Ramos, um namorado dela. Eles ficaram juntos por oito anos. A série passa muito rápido, faço só uma participação em dois capítulos. Imagina quantas histórias a Hebe não tem e, por isso, é meio rápido o que vou fazer.
E você vem em um filme de terror, não é?
Sim, é o Morto Não Fala, que eu fiz em Porto Alegre, com o George Moura, Jorge Furtado e a direção do Denisson Ramalho. As pessoas do Brasil não veem tanto terror. Quando assistem, é de fora, principalmente americano. Para mim, foi um prazer. Eu estava bem curioso para saber como era fazer um filme de terror, e chegou o Denisson, que é um craque. Vi os curtas dele, achei muito bons, e todo mundo para quem falei só o elogiava.
Você e sua mulher, Sophie Charlotte, têm a mesma profissão. Sente ciúme das cenas românticas dela em Ilha de Ferro (série disponível no Globoplay)?
Não, está tranquilo. Se eu ficar nessa, é um tiro no pé. Porque eu faço a mesma coisa, a gente tem a mesma profissão. Não dá para ter ciúme, eu seria um chato de galocha. As pessoas só estão juntas porque se amam.