Estamos em 1985. Samantha vive o auge de sua carreira artística ainda na infância. Aos nove anos, integra o grupo musical Turminha Plimplom, estrela um programa na TV aberta e é adorada pelos fãs. Corta para 2018. A mesma Samantha, agora na faixa dos 40, faz um show com músicas infantis em uma casa noturna praticamente vazia. Da fama ao ostracismo, passaram-se 33 anos, e ela não aceita o fato de não ser mais convidada para programas televisivos e passar anônima pelas ruas. Tenta a todo custo retomar o sucesso perdido. Esse é mote de Samantha!, terceira produção brasileira da Netflix, que estreia nesta sexta-feira (6) e chega cheia de referências aos anos 1980.
Comédia produzida pela plataforma em parceria com a Los Bragas, produtora da atriz Alice Braga - que faz uma pequena participação na história -, Samantha! é estrelada por Emanuelle Araújo, que vive a personagem título. A trama brinca com o imaginário popular brasileiro ao resgatar tipos muito comuns em nossa cultura. Desde o ambiente da TV aberta da década de 1980, com seus personagens politicamente incorretos, até a geração que endeusa os digitais influencers, tudo está retratado na série, que faz críticas por meio do humor. Aliás, muitos famosos (até Roberto Carlos) viram piada no roteiro.
Samantha é daquelas pessoas que topam tudo para aparecer na mídia. Casou com Dodói (Douglas Silva, o Acerola da série Cidade dos Homens), astro do futebol, enquanto ele cumpria pena. Tem dois filhos, e mesmo precisando sustentá-los sozinha, pois o marido não encontra um destino após sair da prisão, ainda encontra motivação para seguir as orientações de Marcinho (Daniel Furlan, o Renanzinho do fenômeno da internet Choque de Cultura), empresário totalmente sem escrúpulos e com ideias sempre sensacionalistas. Só que sempre que aparece uma oportunidade, ela acaba desperdiçando-a por puro descontrole emocional.
Todos os caminhos levam a Simony
A inspiração nos personagens reais oitentistas aparecem a todo momento. Vão das fotos de Xuxa e Mara Maravilha em um dos cenários, às participações especiais de Gretchen e Luciana Vendramini, além de uma referência direta a Fofão. Mas muita coisa fará lembrar de Simony, a estrela mirim da Turma do Balão Mágico, que, na fase adulta, casou com o rapper Afro X quando ele estava preso, e recentemente anunciou a volta à ativa do antigo grupo da infância. Ainda assim, a produção apresenta muitas outras referências famosas daquela época, como o assistente de palco de Samantha ser um "cigarrinho" (lembrando que Xuxa teve um mosquito da dengue) e a mensagem diabólica no vinil tocado ao contrário (novamente, Xuxa). E ainda tem criança fazendo propaganda de cerveja.
Todos os exageros midiáticos dos anos 1980 são postos em cena. Mas o roteiro vai além ao fazer um paralelo com os anos 2010. Lorena Comparato vive a blogueira que tenta provar para Samantha que hoje a TV aberta é passado e a fama agora é medida em likes.
Das três produções brasileiras da Netflix - antes tivemos 3% e O Mecanismo -, Samantha! é o principal destaque até aqui. Mesmo não sendo uma comédia fora da curva (a Netflix liberou todos os sete episódios para imprensa antes da estreia), é uma série divertida, que mexe com a memória afetiva ao mesmo tempo em que reflete sobre o comportamento do brasileiro. Tem alguns problemas de roteiro, que fica repetitivo em alguns momentos, mas cumpre seu papel. Emanuelle Araújo tem bom ritmo para o humor e Daniel Furlan nos faz rir em todas as cenas. E ainda deixa um gancho sensacional para uma segunda temporada - por favor, Netflix, queremos ver se Samantha irá mesmo ser tão audaciosa.