A terceira temporada de Black Mirror, exibida em 2016 na Netflix, transformou o programa, criação original da BBC, em um fenômeno de massa, com sua abordagem ficcional de resultados imprevistos de novas tecnologias. A ponto de haver se tornado corrente a expressão “isso é muito Black Mirror” para definir notícias do mundo real que parecem ter saído de um roteiro da série.
O próprio Charlie Brooker, o criador da atração, comentou em um festival em Nova York em outubro deste ano que os fãs o avisam pelo e-mail ou pelas redes sociais de qualquer novo desenvolvimento tecnológico ameaçador usando a mesma frase. Ele e todos nós provavelmente devemos nos preparar para ouvi-la de novo, já que a quarta temporada está sendo disponibilizada a partir desta sexta-feira, dia 29, na Netflix.
Em seu quarto ano, Black Mirror terá seis episódios. Como se tornou marca da série, um fio unificador às vezes tênue – embora não totalmente, no caso desses novos episódios – une o conjunto, mas cada história tem tom, narrativa e características próprios. Arkangel, dirigido por Jodie Foster, tem pegada de um filme independente. U.S.S Callister, sátira aos aspectos mais risíveis da mitologia de Star Trek, é camp e colorido. Metalhead, dirigido por David Slade, o mesmo de American Gods e da série Hannibal, é um tenso suspense em preto e branco.
Para além das diferenças de estilo, permanece a proposta da série de usar a ficção científica para imaginar mudanças provocadas por inovações tecnológicas que nada têm de rocambolescas, pelo contrário, são apenas extrapolações da tecnologia já disponível. Nesta temporada, se há algum tema que pode ser visto com mais frequência é a relação humana com imensos bancos de dados e informações que hoje chamamos de “nuvem”. Mais de uma história lida com as consequências de transferir recordações ou decisões para sistemas eletrônicos. Tudo muito Black Mirror, claro.
Episódio 1 – Arkangel
A atriz e diretora Jodie Foster assina este episódio no qual Rosemarie De Witt (de La La Land e Madmen) vive uma mãe que, após quase perder a filha pequena na multidão, adere a uma nova tecnologia que permite rastrear a criança o tempo todo. O dispositivo, contudo, transforma a relação entre as duas em um inferno.
Episódio 2 – U.S.S Callister
Episódio no qual a série troca o tom sombrio metafórico habitual por uma sátira camp ao universo de explorações espaciais de Star Trek e suas raízes na cultura pop. Cristian Milioti (a “mãe” de How I Met Your Mother) é uma mulher que se vê engajada na tripulação de uma nave chefiada por capitão de um heroísmo constrangedor.
Episódio 3 – Crocodile
Uma investigadora entrevista várias pessoas com o auxílio de um dispositivo que permite acesso direto às memórias dos interrogados. Um novo ângulo para algo que a série já havia abordado em The Entire History of You, da segunda temporada. Dirigido por John Hilcoat, da ótima distopia A Estrada, adaptada de Cormac McCarthy.
Episódio 4 – Hang the DJ
No mundo do futuro, o mais usado aplicativo de encontros, chamado de O Sistema, não apenas decide com quem você deve sair, mas quanto tempo um eventual envolvimento deve durar. Georgina Campbell (de Broadchurch) e Joe Cole (de Peaky Blinders) vivem um casal lidando com as consequências dessa dinâmica.
Episódio 5 – Metalhead
Um dos episódios mais singulares da temporada, e não apenas por ser o primeiro da série totalmente em preto e branco. Em ritmo de um tenso thriller , uma mulher, vivida por Maxine Peake (da série inglesa Silk), vê-se como a presa numa caçada misteriosa empreendida por um tipo de autômato que parece ter invadido sua casa. Dirigido por David Slade, de séries aclamadas como Hannibal e American Gods.
Episódio 6 – Black Museum
Dirigido por Colm McCarthy, que já comandou episódios de séries como Dr. Who e Peaky Blinders, tem uma estrutura que lembra White Christmas, o “episódio de Natal” de Black Mirror. Em uma região rural do Sudoeste dos EUA, o curador de um museu dedicado a crimes conta a uma visitante três histórias envolvendo objetos em exposição.