A meritocracia não só pode levar à arrogância como também gerou um ressentimento nos menos favorecidos que contribuiu para que populistas de extrema-direita chegassem ao poder. Essas são algumas das ressalvas feitas pelo filósofo político americano Michael Sandel, que nesta quarta-feira (9), às 20h, estará na Casa da Ospa (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre, como convidado do Fronteiras do Pensamento.
Autor dos livros Liberalismo e os Limites da Justiça (1982), Justiça: O Que é Fazer a Coisa Certa? (2009) e seu mais recente, Tirania do Mérito: O que Aconteceu Com o Bem Comum? (2020), entre outras obras que foram traduzidas para mais de 20 idiomas e viraram best-sellers, Sandel também é professor na Universidade Harvard. Na Capital, irá falar sobre diferentes temas que giram em torno do descontentamento com a democracia, título de seu novo trabalho.
Em suas palestras, Sandel também costuma atacar o egoísmo das elites. Para o filósofo, uma das razões para que o sistema democrático gere frustrações é o aprofundamento das desigualdades.
— Aqueles que chegaram ao topo passaram a acreditar que seu sucesso é mérito exclusivamente deles e que, portanto, merecem as recompensas que o mercado lhes concede. Por implicação, aqueles que lutam e ficam para trás devem merecer o seu destino. Assim, não temos apenas desigualdades de renda, mas desigualdades de estima social, honra, reconhecimento e respeito — disse ele em entrevista recente a GZH, concedida ao repórter Marcel Hartmann.
Sandel entende que o conceito de meritocracia não se resume apenas a destinar funções e cargos sociais importantes a pessoas qualificadas para tal — isso, por si só, é benéfico. O problema, segundo o filósofo, é que esta noção de sucesso alcançado pela própria dedicação faz os vencedores não reconhecerem as estruturas que os favoreceram, gerando uma soberba.
— Isso faz com que esqueçam a sorte e a boa fortuna que os ajudaram e também o quanto são devedores daqueles que os ajudaram a tornar suas conquistas possíveis. Todos somos devedores por qualquer conquista que tenhamos alcançado, seja à família, aos professores, à vizinhança, ao nosso país e aos tempos em que vivemos — reflete o filósofo.
Para ele, a meritocracia gera descontentamento entre pessoas de origem menos abastadas, que acabam se apoiando em discursos populistas como o do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
— O que possibilitou a eleição de Trump foi sua habilidade em apelar para o ressentimento que muitos trabalhadores têm contra as elites. Muitos trabalhadores sentem-se menosprezados. É essa política de queixa, ressentimento e humilhação que tem alimentado figuras políticas autoritárias e populistas de direita — defende Sandel.
A primeira convidada do Fronteiras do Pensamento neste ano foi a escritora espanhola Rosa Montero, no dia 31 de maio. Depois dela, foi a vez de Nadia Murad, no dia 21 de junho, e de Rafael Yuste, no dia 5 de julho. Os próximos convidados serão o teórico da mídia norte-americano Douglas Rushkoff (13 de setembro) e o arqueólogo britânico David Wengrow (4 de outubro). Ainda é possível se inscrever para a temporada pelo site do evento (fronteiras.com), o que dá acesso à gravação das palestras presenciais já realizadas e aos demais conteúdos online da plataforma. Também pelo site, interessados podem adquirir ingressos exclusivamente para a conferência desta noite com Sandel.
O Fronteiras do Pensamento tem o patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Sulgás e CMPC, parceria cultural da Casa da Memória Unimed Federação/RS, parceria acadêmica da Unisinos, parceria educacional do Colégio Bertoni Med, parceria institucional da Prefeitura de Porto Alegre e do Instituto Unicred, serviço médico Unimed Porto Alegre, promoção do Grupo RBS e realização da Delos Bureau, uma empresa do Grupo DC Set especializada em entretenimento cultural.