O norte-americano Steven Johnson conduzirá nesta quarta-feira (14) o terceiro encontro presencial do Fronteiras do Pensamento 2022, ciclo de conferências cujo tema neste ano é Tecnologias para a Vida. O evento com o autor e teórico da mídia ocorrerá às 20h na Casa da Ospa no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre. A palestra "O Espaço da Inovação: Como Novas Ideias Expandem o Futuro Próximo" abordará a importância da criatividade. Aos 54 anos, Johnson é especializado em história das invenções nas áreas da saúde e da inovação e é um dos mais respeitados autores de não ficção da atualidade, com 13 livros publicados.
Johnson é autor dos best-sellers De Onde Vêm as Boas Ideias (2010) e O Mapa Fantasma (2006) e publicou também os reconhecidos Emergência (2001) e Cultura da Interface (2000), entre outros títulos, traduzidos para mais de 10 idiomas. Escreve para a New York Times Magazine e a revista Wired, além de apresentar as séries How We Got to Now e Extra Life, da PBS, e o podcast American Innovations. Ele é graduado em Semiótica pela Universidade Brown e pós-graduado em literatura inglesa pela Universidade Columbia.
O pesquisador apresentará na conferência a sua visão sobre como entender e assimilar a criatividade. Baseando-se em suas obras sobre a história do progresso e da inovação, como O Poder Inovador da Diversão (2016), Longevidade (2021) e a já citada De Onde Vêm as Boas Ideias, o autor explicará os padrões e práticas de pessoas, lugares e organizações dotados de extraordinária criatividade, demonstrando como redes e espaços criativos podem produzir ideias transformadoras que impactam positivamente a sociedade.
Com uma mente provocativa e analítica, o pensador é fascinado por criações e por como novas ideias vêm ao mundo. Ele classifica a inovação como uma ideia que adquiriu forma e encontrou um público ou que é útil para as pessoas.
— A inovação não precisa ser um objeto, como um smartphone ou um satélite. Às vezes, as maiores e mais poderosas inovações são métodos — disse em entrevista a GZH no início do mês, citando como exemplo o método científico, que permitiu o surgimento de milhares de inovações.
Seu livro De Onde Vêm as Boas Ideias desafia a história popular de um gênio solitário tendo um momento instantâneo de inspiração. Ao invés disso, o autor argumenta que o pensamento inovador deriva de um processo lento, gradual e em rede, no qual intuições são cultivadas pela exposição a outras disciplinas e pensadores. Atualmente, o autor não se interessa apenas pelo surgimento das boas ideias, como também pelas consequências não intencionais dessas inovações, como a criação dos clorofluorcarbonetos (CFCs), que destruíram a camada de ozônio.
Outros temas abordados por Johnson em suas obras são as investigações sobre o impacto colossal da internet na vida das pessoas, bem como a maneira pela qual a nossa atenção se distribui de forma diferente com as mídias eletrônicas. Ele acredita que a internet afeta a criatividade tanto positiva quanto negativamente.
— A criatividade vem de conexões surpreendentes entre ideias ou de colaborações improváveis com outras pessoas, e a internet tornou esses links fortuitos bem mais comuns. Por outro lado, você precisa de tempo para que as ideias evoluam na sua cabeça. Precisa de tempo para que sua mente possa vagar um pouco — ponderou, destacando a importância do ato de caminhar e pensar.
Apesar de considerar legítimas as questões problemáticas que envolvem as redes sociais, o autor acredita que, da maneira que as utiliza, não é afetado, e que ainda vê o lado positivo da internet, tendo o Twitter como uma fonte de inspiração e descobertas. O grande problema, explica, vem do fato de que a criação de perfis e relacionamentos na web foi conduzida por empresas privadas, como Facebook e LinkedIn, com financiamento através de publicidade e investidores — o que introduziu problemas e incentivos distorcidos.
Além disso, ressalta que artefatos da cultura popular, como games e séries de televisão, estão se tornando cada vez mais complexos e exigindo mais de nossos cérebros, nos tornando mais inteligentes.
Saúde
O norte-americano considera como a maior conquista da humanidade, devido ao seu impacto direto, o fato de a expectativa de vida ter duplicado, o que foi possibilitado pelas inovações do último século.
Johnson avalia que a pandemia mudou o comportamento de diversas pessoas a fim de diminuir a disseminação do vírus. Contudo, expôs a anticiência que ainda existe, o que atribui à falta de celebração das conquistas de saúde pública e da medicina. A anticiência foi um dos motivos que o levaram a escrever Longevidade. O semioticista acredita na importância de divulgar narrativas sobre grandes avanços nessas áreas para tornar a ciência mais popular:
— Todo estudante sabe sobre a viagem do homem à Lua em 1969, mas a maior parte deles não conhece a história igualmente heroica da erradicação da varíola, que aconteceu por volta do mesmo período, ainda que a erradicação dessa doença tenha sido algo muito maior em termos de impacto na nossa vida atual.
Neste sentido, em relação à pandemia, torce para que as escolas acrescentem mais conteúdo sobre saúde pública e medicina nos currículos, especialmente nas aulas de História. Ele destaca ainda dois legados tecnológicos da crise sanitária a longo prazo: o rápido desenvolvimento da vacina, como um marco e um avanço fundamental, com as vacinas de RNA mensageiro como um dos grandes triunfos na história da ciência; e o teletrabalho se consolidando como uma realidade, no que diz respeito ao estilo de vida.
Para o futuro, aposta na inteligência artificial e destaca também a tecnologia de RNA mensageiro e a imunoterapia (tratamento que fortalece o sistema de defesas do organismo para combater doenças como o câncer) como avanços na saúde. Contudo, ressalta principalmente a diversão como um dos motores da novidade e da inovação.
— Para continuar surpreendendo as pessoas, você tem de continuar desenvolvendo coisas novas, desafiar expectativas. E isso leva a outras ideias que são mais sérias, úteis ou práticas. Você encontrará o futuro onde quer que as pessoas mais estejam se divertindo — salientou em entrevista à Folha de S.Paulo, citando como exemplo a exploração de ferramentas de criação de imagem com inteligência artificial.
Programação presencial e online
A temporada 2022 do Fronteiras do Pensamento conta com 12 conferências presenciais e online. Passarão pela Casa da Ospa ainda Luc Ferry, Élisabeth Roudinesco e Marcelo Gleiser. No ambiente virtual, Maria Homem, Martha Gabriel, Rodrigo Petronio, Mayana Zatz, Jorge Caldeira e Sidarta Ribeiro compartilham suas ideias. Inscrições para ter acesso aos eventos presenciais e aos conteúdos digitais ainda podem ser realizadas pelo site.
O Fronteiras do Pensamento tem patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Unimed Porto Alegre, Dexco e Icatu Seguros, com parceria acadêmica da PUCRS, parceria empresarial de Uniodonto, Sinergy e Colégio Bertoni Med, parceria institucional do Pacto Global e promoção do Grupo RBS.