Fundado em agosto de 2017, o Agulha se consolidou nos últimos anos como um dos bares mais efervescentes da cena cultural de Porto Alegre, mas agora corre o risco de fechar. Localizado no bairro São Geraldo, na zona norte da Capital, o espaço se tornou um dos empreendimentos que revitalizaram o 4º Distrito com a oferta de gastronomia e shows. Contudo, veio a pandemia, e as atividades foram suspensas. A crise bateu. Para tentar sobreviver, o bar lança nesta quarta-feira (24) o Clube do Agulha.
Disponível no site oficial do Agulha, a campanha traz sete modalidades de assinatura, com valores mensais que vão de R$ 10 a R$ 1.500. As contrapartidas disponíveis pelo Clube variam: há playlist com novidades da música brasileira, cartazes e fotos de shows, doces, cestas de café da manhã, drinques, entre outros presentes.
O valor de R$ 1,5 mil entra na categoria Apoiador Master, destinado a pessoas físicas ou jurídicas. O patrocinador poderá inserir sua marca/nome no cenário do palco e nos materiais de divulgação de shows (físicos ou virtuais). Além disso, irá garantir ingressos para todos as apresentações no Agulha e poderá participar das passagens de som das bandas que gosta.
Em cerca de 300 shows, o Agulha se tornou um palco eclético para artistas locais, nacionais e internacionais — do jazz ao hip hop, do rock a MPB —, recebendo de nomes emergentes a consolidados. De Duda Beat a Jards Macalé. Do pós-punk da banda britânica Shame ao dreampop canadense do Men I Trust. Um papel similar que espaços como Garagem Hermética, Dr Jekyll e Manara tiveram no passado.
No presente, a situação do bar é descrita pelo proprietário, Eduardo Titton Fontana, como delicadíssima:
— É de um fim de festa. As medidas que a gente tomou para ter alguma arrecadação não foram suficientes. As estratégias que a gente traçou também, dentro de suas possibilidades de êxito, não pagam as contas.
Mesmo que a prefeitura de Porto Alegre tenha adotado regras da bandeira vermelha pela cogestão, na última segunda-feira (22), permitindo a reabertura de bares com as devidas restrições, Titton entende que o Agulha não deve reabrir enquanto a situação dos hospitais for grave — na segunda, a fila por leito de UTI na Capital chegava a 277 pessoas, enquanto a taxa de ocupação geral era de 113,5%. Portanto, a aposta do empresário está na campanha.
Ao longo de 2020, o Agulha procurou manter seus 10 funcionários e tentou cortar todo o resto de despesa — água, luz e internet. Houve negociação de aluguel e com fornecedores.
— Tivemos êxito num aspecto, pois não demitimos ninguém, apenas uma pessoa saiu por motivos pessoais. Porém, o tempo de pandemia se mostrou muito maior do que o previsto e nos colocou numa situação financeira bem delicada. Principalmente pela falta de perspectiva a curto e médio prazos — lembra Titton.
Entre as estratégias que foram adotadas pelo bar no ano passado estão a criação de um site com produtos do Agulha (camiseta, pijama, meias, adesivos, bebidas, entre outros). Houve a realização de lives, mas o empresário ressalta que isso trazia mais custos do que retorno. Também houve telentrega em alguns períodos, mas não conseguiram uma quantidade de venda que justificasse a operação.
Em novembro, o Agulha retomou as atividades presenciais. Porém, com o agravamento da pandemia no Estado, o bar voltou a anunciar a suspensão das atividades em fevereiro.
— Na parte de gastronomia e coquetelaria, em que a gente tem bastante força, os problemas incluem inflação, diminuição do poder aquisitivo e dificuldade dessa operação nos formatos que são possíveis. Essas vendas não conseguiam sustentar o Agulha. Nossa estrutura é de um desenho que precisava mais gente. Mesmo no redesenho que fizemos, pela limitação, é superdifícil encontrar um ponto que gere empate ou lucro — lamenta Titton.
Sem conseguir visualizar a realização de shows neste ano, que seria o principal pilar do Agulha, a perspectiva do empresário para 2021 é bastante pessimista. Titon conta que o Clube talvez seja o último movimento para tentar, com essas vendas, garantir o mínimo necessário para pagamentos de contas e salários.
— Do jeito que estamos nesta situação, sem subsídios e sem incentivo governamental, pelos nossos cálculos, entre abril e maio seria nosso ponto final. Ou temos êxito nessa arrecadação ou em abril a gente vai ter que anunciar algum tipo de fim ou suspensão de atividades — conclui.