Por Cláudio Senna Venzke
Professor universitário, doutor em Administração e educador organizacional
Um mosaico, com diferentes culturas e formações acadêmicas, se formou ao longo da edição 2020 do Fronteiras do Pensamento, desta vez em uma experiência online. O conjunto teve como elemento central a necessidade de repensarmos a nossa trajetória como humanos, principalmente olhando para aquilo que não gerou prosperidade e que precisa ser reinventado, para que sejamos realmente humanidade.
A linha crítica e os posicionamentos firmes que cada palestrante adotou foram bálsamos tão necessários nesta época de tentativas e de retrocessos em diferentes áreas. Começando por Mia Couto, que, com a sua poética, nos desafiou na complexa tarefa de dialogar com o diferente, para que consigamos, juntos, nos reinventar e nos libertar das falsas certezas, assim como tantos outros simulacros e negacionismos que nos assolam.
Para tratar sobre a complexidade, nada melhor do que ver e ouvir de maneira clara, já que as condições técnicas melhoraram ao longo da temporada, o físico Fritjof Capra por meio de sua visão sistêmica.
Com sua fluidez característica, Capra discorreu sobre a forma como nos apropriamos dos recursos do planeta, gerando efeitos que muitas vezes não prevemos, citando especificamente a pandemia pela qual ainda estamos passando. Colocando-nos também frente à responsabilidade de cooperarmos e entendermos a ilusão de que poderíamos ter crescimento ilimitado.
Esta temporada do Fronteiras do Pensamento nos mostrou que uma reinvenção do humano, de forma ética, deve englobar uma grande diversidade de dimensões, como a econômica, que foi abordada por Paul Collier. Autor de vários livros sobre desenvolvimento econômico, o pensador britânico nos apresentou a necessidade de curarmos algumas feridas que o capitalismo gerou, embora ele defenda esse sistema como o caminho para uma possível prosperidade. Dessas feridas, a principal é a desigualdade social e suas decorrências. Outro ponto a ser curado, num caminho de reinvenção do humano, é a forma como líderes, políticos e organizações têm lidado com as situações complexas que enfrentamos, pois decisões unidirecionais, de cima para baixo, não têm a capacidade de responder às necessidades comuns, pois falta uma noção de comunidade interligada.
Com relação aos líderes, o historiador Timothy Snyder aponta a urgência de que sejam estimuladores da noção de um futuro melhor, onde possa haver mobilidade social. Pois, quando o futuro não aparece no nosso horizonte, cria-se espaço para o surgimento de figuras autoritárias, que nos prendem no presente por diferentes meios, entre eles o medo.
Dessa forma, vejo o Fronteiras do Pensamento como um meio para irmos além dos questionamentos sobre quem somos, como humanos. Recebemos subsídios para nos reinventarmos, para agirmos na construção de um futuro próspero e com liberdade, para sermos agentes de transformação visando à construção das estruturas que mantêm as instituições democráticas em pleno funcionamento.
Sou grato a cada palestrante desta temporada, alguns não citados aqui, pelos seus saberes e generosidade de compartilhá-los.