Em meio ao sofrimento de uma pandemia, algumas compensações podem ajudar a manter o controle emocional. Talvez a principal delas seja a redescoberta da simplicidade da vida, a derrubada de amarras e defesas sociais que costumam levar as pessoas a uma existência de angústias, para Andrew Solomon.
Referência mundial em depressão e saúde mental, o escritor americano foi o palestrante da noite desta quarta-feira (11) no Fronteiras do Pensamento. Solomon reconheceu que o coronavírus está longe de ser o mal que vem para um bem maior. Apontou, entretanto, com sua própria experiência, que o isolamento pode ser também uma forma de libertação.
— A questão não é como a pandemia nos afeta de uma forma positiva. Mas sim que, como não temos escolha, o que podemos aprender com ela — afirmou em vídeo-conferência.
Ativista LGBT+ e casado com um homem, com quem tem um filho de 11 anos, Solomon detalhou como o fato de estar isolado o absteve de precisar explicar, com a dose de cuidado e ponderação que costumava adotar, sua situação familiar.
— Eu precisava pensar como explicar que tenho uma filha e que me dou muito bem com a mãe dela, e que agora sou casado com Johnny e temos um filho. Agora não temos nem para quem dar explicação. Somos simplesmente uma família e que vive junta, se protege e se ama — discorreu.
Moradores da cosmopolita Nova York, eles se isolaram em uma fazenda naquele Estado para atravessar a pandemia. Entretanto, o modo de vida que criaram, com os cuidados de distanciamento e higiene quando precisavam sair ou receber amigos, passou a ser um incômodo para o filho, George.
— Ele está tendo dificuldade de se adaptar às regras que foram necessárias para nos proteger. Tentei superar a depressão por ele e passei a entender que a dor de ser pai tem a ver com a impotência que nos consome — reflete.
Mesmo com o sofrimento de George, que sentia saudades do “tecido da vida prévia”, ou seja, sua casa, a vizinhança e os amigos, brotava uma sensação interessante da volta a uma fase menos complicada da vida.
— Ele desenvolveu uma nostalgia engraçada de uma época em que só brincava na praça com outras crianças. Eram tempos simples e claros — contou.
Ao final da apresentação, o americano deixou uma mensagem de esperança à sua plateia virtual.
— O que levamos desta pandemia é que nos conhecemos melhor, a nós e nossas famílias. Também temos um novo presidente (nos Estados Unidos) e há evidências de uma vacina efetiva. A realidade não mudou, mas de repente se tornou promissora — concluiu.
Solomon é colaborador de publicações como The New Yorker e The New York Times. Entre suas obras mais conhecidas, estão O Demônio do Meio-Dia, estudo sobre depressão que foi finalista do Prêmio Pulitzer e venceu o National Book Award de 2001, e Longe da Árvore, pesquisa sobre como pais lidam com filhos que fogem ao padrão esperado, seja por questões médicas ou comportamentais.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre, Hospital Moinhos de Vento e Gerdau, empresa parceira Unicred RS, universidade parceira UFRGS, apoio educacional Colégio JPSul e promoção Grupo RBS.