Historiador e professor da Universidade de Yale, Timothy Snyder foi o conferencista convidado do Fronteiras do Pensamento na noite desta quarta-feira (21). De forma online, o americano falou sobre o conceito de liberdade, populismo, influência das redes sociais na polarização e a importância da liberdade de expressão. Ele também analisou as eleições presidenciais americanas que devem ser decididas nas próximas semanas.
A conversa com o historiador foi realizada de forma virtual, comandada pelo apresentador da Rádio Gaúcha Daniel Scola. A conferência com Snyder durou cerca de uma hora e teve espaço para perguntas e respostas ao final. O evento foi realizado de forma online, devido a pandemia do coronavírus, e teve início pouco das 20h.
Especializado em história da Europa Central e Oriental, Snyder é membro do Comitê de Consciência do Museu Memorial do Holocausto nos Estados Unidos. Dias após a eleição de Donald Trump, Snyder publicou nas redes sociais um texto que foi rapidamente compartilhado por dezenas de milhares de pessoas. O texto tinha uma ideia sobre as vinte lições que o século 20 trouxe, que foi aperfeiçoada na obra Sobre a Tirania, lançada em 2017.
No evento desta noite, Snyder falou novamente sobre Trump, dessa vez analisando a possibilidade de ele tentar permanecer como presidente dos EUA mesmo se perder a eleição:
— Ele vai tentar, isso é algo esperado. Pela lógica, teria que fazer isso, tentar continuar no poder, porque as perdas que ele terá serão enormes. Se Trump perder a eleição, e acho que ele tem poucas chances de ganhar, ele não tem como pagar suas dívidas, pode ser preso por causa de coisas que fez. Ele mesmo disse várias vezes que não aceita os resultados das eleições democráticas, a não ser que elas favoreçam a ele. Ele irá tentar, mas não acho que será bem-sucedido — afirmou.
Para o historiador, uma vitória com grande porcentagem de Joe Biden, oponente de Trump, pode ajudar a definir o futuro das eleições no país:
— É um cálculo autoritário básico. Se você quer ganhar as eleições, você precisa ganhar de uma porcentagem grande. Se Biden vencer disparado, ele desmoraliza o adversário, e será mais difícil Trump argumentar que deve permanecer no poder — analisa.
Snyder falou também sobre populismo. Na opinião dele, o enfrentamento a esse fenômeno deve ser feito por políticos que pensem no futuro.
— Um traço do que chamamos de populismo é que ele traz um líder que diz que a população precisa combater algum tipo de ameaça, seja uma pessoa ou entidade, e convence muita gente. Os populistas normalmente são saudosos ao passado, cultivam essa ideia de que não há futuro ou que o futuro é ameaçador. Então, nos obrigam a pensar sobre o futuro. Para derrotar esses políticos a longo prazo não é preciso apenas vencer eleições, precisamos de pessoas que possam imaginar um futuro mais brilhante.
Indivíduos livres
O americano falou também sobre a importância da liberdade individual, mas ressaltou que a sociedade precisa refletir sobre como pode agir para formar cidadãos realmente livres.
— Essa ideia de que a liberdade vem automaticamente porque a história está do seu lado é equivocada. É preciso que nos perguntemos o que fazer para que os indivíduos sejam o mais livres possíveis a partir de seu nascimento — afirmou. — Para ser uma pessoa livre você precisa conhecer a verdade. Se você acreditar em uma mentira, você pode sentir que é livre, dizer que é livre, mas está agindo a serviço da pessoa ou entidade que te fez acreditar naquela mentira.
Ele cita ainda a forma como as mídias sociais influenciam a polarização e estimula o sentimento de "nós contra eles":
— Um problema com as mídias sociais, por exemplo, é que elas são desenhadas para nos manter online, nos estimulando com as coisas que gostamos muito ou não gostamos nada. Esse modelo comportamental faz com que os olhos humanos fiquem fixados na tela e desenvolvemos uma certeza muito grande de que nossas ideias estão corretas. E elas podem estar equivocadas.
Timothy Snyder também é autor de Terra negra: o Holocausto como história e advertência e Thinking the Twentieth Century, escrito com Tony Judt. O livro mais recente do historiador publicado no Brasil é Na Contramão da Liberdade: a Guinada Autoritária nas Democracias Contemporâneas, em que ele revisita as histórias russa, ucraniana, europeia e norte americana para entender a atual ascensão do populismo e do autoritarismo no mundo.
O Fronteiras deste ano, que tem o tema Reinvenção do Humano, terá ainda conferencistas como Paul Collier, Alain Mabanckou, Andrew Solomon, Fritjof Capra e Isabela Figueiredo. Além de Snyder, também já passaram pela edição Mia Couto e Jonathan Haidt.
Além do streaming ao vivo com possibilidade de reprise e tradução simultânea, cada conferência tem uma aula preparatória, entrevistas exclusivas e vídeos posteriores com comentários e análise dos mediadores sobre a apresentação, enriquecendo assim a experiência do projeto.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre, Hospital Moinhos de Vento e Gerdau, empresa parceira Unicred RS, universidade parceira UFRGS, apoio educacional Colégio JPSul e promoção Grupo RBS.
Mais informações sobre o evento podem ser obtidas pela central de relacionamento no telefone 4020.2050 e ou no site www.fronteiras.com.
Confira as próximas conferências:
- 28 de outubro – Paul Collier
- 04 de novembro – Alain Mabanckou
- 11 de novembro - Andrew Solomon
- 18 de novembro – Fritjof Capra
- 09 de dezembro – Isabela Figueiredo