Entre março e abril, os números do mercado livreiro eram assustadores. Com lançamentos cancelados, lojas fechadas e a população assimilando a chegada do novo coronavírus, empresas do setor reclamavam de quedas de mais da metade do faturamento. No fim de maio, levando em conta apenas os livros físicos, a empresa de consultoria Nielsen e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) apontavam um recuo de 48% no mercado, na comparação com o mesmo mês de 2019, ou seja, 1,3 milhão a menos de livros vendidos, representando uma arrecadação de R$ 65 milhões (contra R$ 125 milhões no mesmo período do ano anterior). Uma crise sem precedentes havia chegado.
Mas não demorou até ocorrer uma reação. O levantamento mais recente de Nielsen e Snel, divulgado nesta semana, mostra que, entre 18 de maio e 14 de junho, o setor livreiro teve um faturamento de R$ 109 milhões no país. Ainda há registro de queda, na comparação com o mesmo mês do ano passado, mas trata-se de um recuo bem menor: o total arrecadado com as vendas diminuiu 3,16%. A quantidade de livros comercializados foi 5% menor do que o registrado no mesmo período em 2019, porém, 32% maior do que a quantidade vendida no mês anterior.
O novo movimento do mercado indica uma recuperação rápida após o cenário inicial de dificuldades. Segundo o estudo, a evolução é visível e representa uma potencial reversão na curva de queda por causa da pandemia. O presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira, nota, no entanto, que será importante observar a reabertura das lojas físicas e a volta da agenda de lançamentos, que movimentam o mercado e atraem o público, mostrando-se fundamentais para a saúde do setor como um todo.
Outra pesquisa, intitulada Produção e Vendas do Setor Livreiro, divulgada em junho pelo Snel e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), mostra que o fechamento das livrarias físicas, em março, interrompeu uma trajetória ascendente do setor, na comparação com os anos anteriores. Em 2019, o faturamento total subiu 6% em relação a 2018, somando vendas para o governo e para o mercado – o que mostra que os livros vinham dando um jeito de driblar a crise que havia levado ao fechamento de 20 mil livrarias durante a década de 2010 e à entrada em recuperação judicial das grandes redes Saraiva e Cultura.
Em 2020, mesmo com a reação recente, os números acumulados ainda mostram queda. O relatório de Nielsen e Snel aponta que o mercado livreiro encolheu 13% em relação a 2019.
Uma aposta das empresas do setor para reverter a crise advinda da pandemia são os boxes com vários livros, séries e coleções. De março a maio, conforme a Nielsen e a consultoria PublishNews, 10 boxes ficaram entre os 20 livros mais vendidos no país (uma caixa com os romances de Jane Austen da editora Martin Claret, outras de Sherlock Holmes, Lewis Carroll e Edgar Allan Poe, todas da Pandorga, além da trilogia O Senhor dos Anéis, da HarperCollins, e da coleção Harry Potter, da Rocco, entre outras). Adquirindo um conjunto de livros, o preço de cada um, individualmente, fica mais em conta, além do fetiche pelo objeto que é a caixa em si. Os próprios clássicos se tornaram uma opção para o público durante o isolamento social: 1984, de George Orwell (Companhia das Letras), e A Peste, de Albert Camus (Record), chegaram a figurar no ranking de mais vendidos. Já os saldões, anunciados por diversos selos em março e abril (as editoras 34, Todavia e Autêntica, por exemplo), mostraram-se um recurso pontual para fisgar leitores.
Mas a grande aposta do setor deve ser os e-books, opções mais baratas e cada vez mais difundidas. A Bookwire, uma das principais distribuidoras de livros digitais do Brasil, estima ter vendido mais e-books durante a pandemia do que em todo o ano de 2019 – que já havia sido seu melhor ano, com um incremento de 57% no volume de vendas, na comparação com 2018. O levantamento da Nielsen e da Snel, que soma os dados de todas as distribuidoras, indica que as vendas de e-books aumentaram 4,46% entre maio e junho, na comparação com o mesmo período de 2019.
Por isso, e pelos sinais de recuperação, o gestor da Nielsen Ismael Borges afirmou, em nota, que “o pior já pode ter passado”:
– Os dados do período seis de 2020 (maio e junho) confirmam uma animadora rota de recuperação desde o pior momento da pandemia para o mercado livreiro.
Marcos da Veiga Pereira acrescentou que o próximo período será fundamental para prever o futuro, já que deve trazer dados de lojas físicas que foram reabertas em alguns pontos do país:
– Estamos acompanhando de perto e torcendo para que as livrarias voltem a abrir e possam receber os novos lançamentos, fundamentais para a saúde de nossa indústria.