O dramaturgo Roberto Alvim foi nomeado, na tarde desta quinta-feira (7), para comandar a Secretaria Especial de Cultura. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. A mudança ocorre após a transferência da secretaria, que integrava o Ministério da Cidadania para o Ministério do Turismo, chefiado por Marcelo Álvaro Antônio.
Alvim exercia o cargo de diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte (Fundação Nacional de Artes) e ganhou notoriedade recentemente por chamar a atriz Fernanda Montenegro de "sórdida" nas redes sociais.
A crítica ocorreu após a artista ter posado como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira com livros para a revista literária Quatro Cinco Um.
O ex-deputado Marcos Soares, que estava sendo cotado para assumir o cargo, deve ser indicado para outra vaga.
Presença política
Respeitado no meio artístico até se aliar a Jair Bolsonaro, o diretor de teatro Roberto Alvim disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em julho, que sofreu uma perseguição por parte da esquerda por conta de suas opiniões conservadoras.
Alvim comandava o Clube Noir, renomado espaço teatral em São Paulo, até a casa ter as atividades encerradas neste ano — declínio que, segundo ele, é resultado de um boicote promovido pela esquerda após assumir-se de direita.
No seu currículo, há trabalhos ao lado de nomes como Caco Ciocler, Nathalia Timberg e, um dos mais importantes, Chico Buarque. Há três anos, ele dirigiu a montagem Leite Derramado, baseada no romance homônimo do compositor. Se na época Alvim era próximo de Chico, hoje considera que a aproximação de Bolsonaro representa o fim de sua carreira no teatro.
No dia 18 de julho, Alvim foi nomeado diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, importante braço do extinto Ministério da Cultura. A nomeação foi feita após Bolsonaro entrar em contato com ele por telefone e demonstrar conhecer sua situação.
— O presidente foi extremamente gentil (ao telefone). Disse que estava preocupado com o meu caso. Perguntou se eu tinha família e disse que queria ajudar. Ele falou que conversaria com o ministro para pedir que ele entrasse em contato comigo — contou Alvim, referindo-se a Osmar Terra, titular do Ministério da Cidadania.
Um mês antes de ser escalado para a Funarte, Alvim havia alarmado o meio artístico ao anunciar, no Facebook, que estava querendo reunir artistas conservadores para criar "uma máquina de guerra cultural".
Crise na subpasta
A publicação do decreto que nomeou Alvim foi realizada um dia após a exoneração do economista Ricardo Braga do comando da subpasta, que permaneceu dois meses no cargo e assumiu outra cadeira no Ministério da Educação.
Braga havia assumido o cargo na Cultura após Henrique Pires, o titular anterior, pedir demissão em agosto. Na ocasião, Pires disse que preferia "cair fora" a "ficar e bater palma para censura". Ele se referia ao cancelamento de um edital da Ancine (Agência Nacional do Cinema) que previa financiamentos a produções audiovisuais, entre elas filmes com temática LGBT+.
A nomeação de Braga no início de setembro foi criticada pelo setor por sua falta de experiência na cultura. Ele se formou em economia pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP) e fez trajetória profissional em bancos e corretoras de investimento.