Respeitado no meio artístico até se aliar a Jair Bolsonaro, o diretor de teatro Roberto Alvim disse, em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo publicada neste domingo (28) no jornal Folha de S.Paulo, que sofreu uma perseguição por parte da esquerda por conta de suas opiniões conservadoras.
Alvim comandava o Clube Noir, renomado espaço teatral em São Paulo, até a casa ter as atividades encerradas neste ano — declínio que, diz ele, é resultado de um boicote promovido pela esquerda após assumir-se de direita.
No seu currículo, há trabalhos ao lado de nomes como Caco Ciocler, Nathalia Timberg e, um dos mais importantes, Chico Buarque. Há três anos, ele dirigiu a montagem Leite Derramado, baseada no romance homônimo do compositor. Se na época Alvim era próximo de Chico, hoje considera que a aproximação de Bolsonaro representa o fim de sua carreira no teatro.
— Fiz um suicídio profissional. Tenho certeza absoluta. Cheguei a pensar em alternativas, porque não teria mais como trabalhar no teatro brasileiro — afirmou.
No dia 18, Alvim foi nomeado diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, importante braço do extinto Ministério da Cultura, agora incorporado pela pasta da Cidadania. A nomeação foi feita após Bolsonaro entrar em contato com ele por telefone e demonstrar conhecer sua situação.
— O presidente foi extremamente gentil (ao telefone). Disse que estava preocupado com o meu caso. Perguntou se eu tinha família e disse que queria ajudar. Ele falou que conversaria com o ministro para pedir que ele entrasse em contato comigo — contou Alvim, referindo-se a Osmar Terra, titular do Ministério da Cidadania.
O cargo no governo teria feito com que sofresse mais ataques.
— Depois disso, as pessoas começaram a falar que eu era oportunista e que estava querendo pegar uma carona no governo. Quando, na verdade, durante os anos do PT começou a circular muito dinheiro no Clube Noir. Se fosse para pensar no meu bem estar, teria feito campanha para eles.
Um mês antes de ser escalado para a Funarte, Alvim havia alarmado o meio artístico ao anunciar, no Facebook, que estava querendo reunir artistas conservadores para criar "uma máquina de guerra cultural". Sobre o uso do termo bélico, ele rebate:
— Guerra cultural foi o que fizeram comigo durante todo esse tempo. A esquerda perpetua essa guerra permanente na história da cultura brasileira. Sempre houve defenestração brutal dos artistas que manifestassem alguma tendência à direita. Dizem que não é possível ser artista e conservador ao mesmo tempo.
Na entrevista à coluna, Alvim também entrou em detalhes de sua vida pessoal, como o vício em álcool e drogas, o que o levou a agredir sua mulher.
— Você acha que quando chega em casa depois de três dias, vindo sabe Deus de onde, da esbórnia, e sua mulher pergunta "Onde você tava?", você acha que vira para ela e diz "Eu tava ali, meu amor"? Não. Você mete a mão na cara dela, se for o caso, fala para ela calar a boca. Se ela não calar, você vai ser agressivo porque está fora de controle. E ela aguentou muita coisa por causa disso — revelou.
A partir desse e de outros infortúnios — teve um tumor no intestino, posteriormente diagnosticado como benigno —, Alvim passou a se aproximar da religião. Considera que a ligação de Bolsonaro foi um milagre e garante que, com o comando de 13 teatros da rede federal em suas mãos, não irá censurar obras ou fazer perseguições à artistas que pensam diferente.
— Só uma pessoa muito tacanha pode ser favorável à censura. Não sou idiota de lançar um edital para artistas conservadores. Seria um petismo com sinal invertido.
Posicionamento que, diz ele, encontra respaldo no próprio Bolsonaro.
— O presidente nunca disse que eu deveria fazer uma perseguição à esquerda. Talvez esteja demorando mais tempo para criar efetivamente políticas interessantes nesse campo, porque o governo foi muito atacado por artistas durante a campanha. Aos poucos, as coisas estão se soltando — avalia.