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Em meio à agenda atribulada, Yamandu Costa planejou dois grandes projetos para 2015. Um deles foi se apresentar, em junho, na novíssima e monumental Philharmonie, em Paris, sob regência da maestrina mexicana Alondra de la Parra. O segundo virá à luz hoje, às 20h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, quando o virtuose será o solista da estreia do Concerto para Violão, do compositor gaúcho Vagner Cunha. Estará acompanhado da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro, sob regência de Antônio Carlos Borges-Cunha, pai de Vagner. O programa, que encerra a temporada oficial da orquestra, será repetido amanhã, às 18h (veja mais informações abaixo).
Assista a um trecho do ensaio do Concerto para Violão, de Vagner Cunha, com a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro (regência de Antônio Carlos Borges-Cunha) e Yamandu Costa:
A nova composição de Vagner é um desafio técnico mesmo para o tarimbado violonista, para quem foi escrita: Yamandu estuda a partitura há cerca de seis meses, em diálogo constante com o compositor, e considera o primeiro minuto e meio particularmente difícil:
- Estrear uma obra é diferente de tocar uma da qual você já tem referências. Quem não tocou o Concierto de Aranjuez (uma das peças que Yamandu mostrou em Paris)? É difícil de executar, mas você pode escolher uma referência, seja do Paco de Lucía, do John Williams, do Narciso Yepes. Quando você toca uma nova composição, sai do zero, cria a referência que vai ficar.
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A composição também representou um desafio para Vagner, que já criou concertos para piano, violino e viola. Sua pouca familiaridade com o violão acabou sendo um trunfo na busca de uma dicção singular. Com pouco menos de meia hora de duração e cinco movimentos interligados, a obra é uma das raras, em seu formato, dedicadas ao violão de sete cordas que Yamandu toca (o instrumento tradicionalmente tem seis). As referências foram a música regional gaúcha e a judaica do leste europeu, elementos com os quais Vagner dialoga desde o Concerto para Viola, estreado pela Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) em 2013. Afirma o compositor:
- Faço a música que gostaria de ouvir. Nunca penso se é radical, se é isso ou aquilo. Muitos compositores afastaram o público por tratar o tonalismo como um bicho do qual não se pode chegar perto. Faço a minha história: música tonal e atonal, sem ficar preocupado com isso.
A primeira parte do programa terá obras que dialogam com a peça de Vagner: o Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4, de Villa-Lobos; o primeiro movimento do Concerto Fronteira, de Yamandu; e Rasqueado e Milonga, de Tasso Bangel (do histórico Conjunto Farroupilha), que fará uma participação. O maestro Cunha observa:
- O programa tem brasilidade e universalidade. Dentro da brasilidade, vejo uma expressão do pampa. Esta obra de Villa-Lobos tem um motivo melódico que remete a características da milonga.
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ORQUESTRA DE CÂMARA THEATRO SÃO PEDRO E YAMANDU COSTA
Neste sábado (14/11), às 20h, e domingo (15/11), às 18h
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20 (galerias), R$ 40 (camarote lateral), R$ 60 (camarote central) e R$ 80 (plateia e cadeiras extras). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda na bilheteria do teatro até sexta, das 13h até a hora do espetáculo de cada noite, e sábado e domingo, das 15h até a hora dos concertos.
POR DENTRO DO CONCERTO PARA VIOLÃO
O compositor gaúcho Vagner Cunha explica os cinco movimentos interligados da obra que será estreada neste fim de semana:
I) "Inicia como chaconne (forma musical surgida na Europa no século 17) para violão solo que se transforma em uma atmosfera épica orquestral. Talvez seja a seção mais difícil tecnicamente para o violão. A imagem que a inspira é um voo rasante e veloz pelas paisagens do pampa. As escalas orientais são introduzidas ao final do movimento."
II) "Valsa temperada com escalas e ritmos judaicos do leste europeu. Ocorre uma espécie de fusão entre valsa e rancheira gaúcha."
III) "Mistura de habanera com milonga. As escalas orientais também estão presentes neste movimento. Há espaço para improvisos do solista. Termina em uma cadência de violão solo, introduzindo a berceuse (composição musical típica do século 19) que vem a seguir."
IV) "Este é o movimento mais singelo e transparente harmonicamente. A atmosfera de cantiga de ninar aos poucos se transforma em vários parâmetros - rítmico, melódico, harmônico, de timbre."
V) "Junto com a orquestra, o solista celebra o rito final. Este movimento é uma dança inventada. Não há alusão proposital a qualquer gênero pré-existente de música, ainda que prevaleçam escalas orientais e ritmos similares aos de danças da Europa do leste."
VEM AÍ
Veja a previsão da programação da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro para a temporada de concertos oficiais em 2016:
MARÇO
Clara Schumann e Chiquinha Gonzaga
Incluindo a primeira audição no Brasil do Concerto para Piano, de Clara Schumann.
Solista: Olinda Allessandrini.
ABRIL
Radamés Gnattali
Concertos para acordeom, bandolim, sax e violão.
Solistas: Luciano Maia (acordeom), Rafael Ferrari (bandolim), Amauri Iablonovski (sax alto) e Mario Ulloa (violão).
MAIO
Canção brasileira
Convidados: Guinga e Mônica Salmaso.
JUNHO
Beethoven: Concerto para Violino
Solista: Cármelo de los Santos.
JULHO
Mozart e Shostakovich
Com a família Capparelli Gerling. Solistas: Ingrid Gerling (violino), Daphne Gerling (viola) e Cristina Capparelli Gerling (piano). Regente: Fredi Gerling.
AGOSTO
Luigi Cherubini: Réquiem
Com o Coral Porto Alegre. Regente: Tobias Volkmann.
SETEMBRO
David Liebman & Edu Martins
Fusão de jazz contemporâneo e música brasileira. Convidados: David Liebman (sax) e Edu Martins (contrabaixo).
OUTUBRO
Árias francesas
Obras de Berlioz, Delibes, Massenet, Meyerbeer e Gounod. Solista: Carla Maffioletti (soprano).
NOVEMBRO
Compositores da América Latina
Regente: Andrea Vela (Equador).
DEZEMBRO
Vivaldi: Glória
Com o Coral Porto Alegre e solistas.