Do mito grego à novela oitentista Mandala, passando pela tragédia Édipo Rei, de Sófocles, e - claro - pelo Complexo de Édipo, de Freud, a história do homem que tem como destino matar o pai e casar com a mãe entrou de vez na cultura pop.
De olho nesse amálgama de referências tão díspares entre si, a Aquela Cia. (RJ) montou o musical Edypop, que tem sessões neste sábado (23/5), às 21h, e domingo (24/5), às 18h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, dentro da programação do 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA. Da mesma companhia o público gaúcho teve a oportunidade de assistir, na edição de 2014, ao espetáculo Cara de Cavalo, sobre o bandido homônimo que viveu no Rio nos anos 1960.
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Escrito por Pedro Kosovski, o novo trabalho reconta o mito de Édipo com algunas cositas más. Laio, o rei de Tebas, passa por dois infernos: um deles é a predição do oráculo de que será morto pelo filho Edy, que por sua vez desposará a mulher do pai, Jocasta; o outro inferno é a multidão de mascarados que, insatisfeita com a situação de Tebas, quer invadir o castelo (se você pensou nas manifestações de 2013 no Brasil, acertou a referência). Entre eles, está ninguém menos do que um certo John, que não por acaso tem a cara de John Lennon. Para tentar ajudar o marido a superar os problemas, Jocasta chama um certo Freud. Quem também aparece é o irmão de Jocasta, chamado não de Creonte, mas de Clement Greenberg - como o célebre crítico de arte americano que tinha ressalvas sobre a Pop Art. É o segundo espetáculo da Aquela Cia. com Letícia Spiller (aqui, no papel de Jocasta), depois de Outside, um Musical Noir (2011), sobre o universo artístico de David Bowie.
- Tínhamos vontade de entrar na questão da tragédia e nos perguntamos: "Qual é a tragédia mais pop?". Édipo, claro. A questão que surgiu foi: o que une Édipo, o mais pop dos heróis gregos, e John Lennon, o mais edipiano dos artistas pop? Lennon lamentava pela mãe que morreu quando ele tinha 17 anos e não conseguiu amar - conta Kosovski, autor do texto, que interpretará o papel de uma das moiras nas sessões em Porto Alegre.
Edypop é resultado de uma pesquisa sobre a linguagem do gênero musical que não repisasse os modelos da Broadway e dos musicais biográficos que viraram moda nos palcos brasileiros. Além de uma banda, haverá um coro de atores escolhidos em uma oficina que será realizada hoje em Porto Alegre (inscrições encerradas). Serão apresentadas canções compostas para o espetáculo por Kosovski e pelo diretor musical Felipe Storino e sucessos de Lennon com os Beatles (Tomorrow Never Knows e Cry Baby Cry) e em carreira solo (como Mother e Jealous Guy).
O diretor Marco André Nunes observa que a intenção foi criar um espetáculo que fosse ele mesmo pop, mas oferecesse, ao mesmo tempo, uma mirada crítica sobre o fenômeno:
- O pop é homogeneizante, voraz, devora tudo. Faz com que você tenha uma visão superficial das coisas. Mas o pop tem uma beleza. Se interessa a tanta gente é porque tem um encanto. Nós "popificamos" o mito, mas tem momentos de erudição dentro dessa popificação. O espectador que estiver atento a isso vai ter um prazer muito maior ao assistir ao espetáculo, mas qualquer um pode acompanhar e fruir.
Assista a um trecho do espetáculo Edypop:
EDYPOP
Neste sábado (23/5), às 21h, e domingo (24/5), às 18h. Duração: 100 minutos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 7 (comerciários e dependentes com cartão Sesc/Senac), R$ 10 (estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 14 (empresários com cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público geral). Venda antecipada no Sesc Centro (Alberto Bins, 665, fone 51 3284-2071) hoje, das 8h às 19h45min, e amanhã, das 8h às 13h. Se ainda houver ingressos, serão vendidos na bilheteria do teatro, uma hora antes de cada sessão.
Outros destaques do fim de semana no 10º Festival Palco Giratório
Nosso olhar
Uma das grandes apostas da curadoria do Festival Palco Giratório neste ano, Proibido Elefantes é um espetáculo da Cia. Gira Dança (RN) que trata de como o olhar constitui a realidade e vice-versa, em uma verdadeira via de mão dupla - colocando em debate também a questão da acessibilidade.
Nesta sexta (22/5), às 19h, no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Independência, 75)
História de amor
Releitura de Bent, de Martin Sherman (que virou filme), a peça Os Homens do Triângulo Rosa, da Cia. Teatro ao Quadrado (RS), aborda, com delicadeza, a relação entre homossexuais perseguidos e presos durante o regime nazista.
Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h, até o dia 31, no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307)
Encontro mundial
Espetáculo do grupo mineiro Espanca! (que também trouxe ao festival Dente de Leão), Congresso Internacional do Medo mostra um encontro entre diferentes pessoas para debater questões relacionadas aos desafios da humanidade.
Neste sábado (23/5) e domingo (24/5), às 19h, no Teatro Sesc Centro (Alberto Bins, 665)
Relações familiares
Na peça Mameloschn: Língua Mãe, a premiada Ato Cia. Cênica (RS) - de O Feio - mostra três gerações de mulheres e suas questões geracionais e identitárias.
Neste sábado (23/5) e domingo (24/5), às 20h, no Auditório do Instituto Goethe (24 de Outubro, 112)