Quatro anos depois de ser premiado no Festival de Gramado e um ano após a morte de seu diretor, o longa-metragem Quase um Tango, finalmente, entra em cartaz. O último trabalho do cineasta Sérgio Silva pode ser conferido desta sexta até o dia 22 de agosto, no Cine Santander.
A estreia encerra o longo percurso do filme até chegar à sala de cinema, embora não no prazo e tampouco na forma desejados por Sérgio, razão da frustração que o diretor e professor expressava sempre que perguntado sobre os rumos de seu derradeiro trabalho.
Luiz Paulo Vasconcellos: "Meu amigo Sérgio Silva"
Sérgio morreu no dia 15 de agosto de 2012, aos 66 anos, em decorrência de um câncer de pulmão. À época, como agora, estava em curso o Festival de Gramado, evento no qual ele havia conquistado grande reconhecimento como cineasta. Exibiu na Serra, fora de competição, em 1997, Anahy de las Misiones, longa aplaudido por público e crítica e posteriormente consagrado com sete troféus no Festival de Brasília, entre eles melhor filme, direção e atriz, para Araci Esteves. Em 2003, com Noite de João, viu Marcelo Serrado erguer o Kikito de melhor ator. E no Festival de Gramado de 2009, exibindo Quase um Tango, o próprio Sérgio subiu ao palco para receber o troféu de melhor roteiro pelo filme que valeu o prêmio de atuação feminina a Vivianne Pasmanter.
Após três realizar três longas de época - o primeiro, Heimweh/Nostalgia (1990), em 16mm, foi codirigido com o crítico de cinema Tuio Becker -, Sérgio dedicou-se a apresentar em Quase um Tango uma trama contemporânea. Escreveu o roteiro já pensando em Marcos Palmeira para o papel de Batavo, um ingênuo agricultor gaúcho filho de pai holandês que, após ser abandonado pela mulher, decide deixar o campo para reconstruir a vida em Porto Alegre. Vivianne interpreta as quatro personagens femininas que se relacionam com o protagonista.
Contemplado na edição de 2005 do extinto prêmio RGE, o filme teve realização conturbada, creditada ao atraso nos repasses da verba de R$ 1,5 milhão - o orçamento total era de R$ 3,6 milhões, mas, via leis de incentivo, só chegou a R$ 2,1 milhões, segundo a produtora Gisele Hiltl.
Sérgio captou as imagens em 35mm. Mas, sem dinheiro para fazer cópia em película, o diretor aceitou apresentar o filme em Gramado no suporte digital, opção que, dizia, prejudicou o investimento em fotografia e iluminação. "Eu me arrependo muito dessa decisão. Foi uma frustração muito grande. Não quero mais passar por isso", afirmou Sérgio a ZH em maio de 2010, quando ainda não tinha previsão para lançar o filme.
- Fizemos uma correção de luz para exibir o filme em Gramado. Sérgio sofreu muito com esse processo. Ele era um homem de cinema, não lidava bem com o digital. O grande problema se chama grana. Precisávamos de R$ 180 mil para fazer as cópias em película - afirma Gisele.
De acordo com a produtora, o histórico de Sérgio, a repercussão e as premiações em Gramado e os nomes conhecidos do elenco apontavam um prazo menor para Quase um Tango estrear aos cinemas:
- Chegamos a alinhavar a distribuição nacional com a Downtown, mas não foi adiante também por razões financeiras.
Com a nova lei da TV paga, que estimula a presença de conteúdo nacional na televisão, a exibição de Quase um Tango, prevê Gisele, deve ter melhor sorte do que na odisseia cumprida rumo ao cinema. De acordo com ela, Canal Brasil e Prime Box Brazil já manifestaram interesse pelo filme.
Quase um Tango será exibido no Cine Santander a partir de uma matriz em DVD. A sessão das 19h de hoje será seguida de debate com Gisele e outros integrantes da equipe do filme: o montador Giba Assis Brasil, a atriz Lourdes Kauffmann, o assistente de direção Vicente Moreno e o diretor de platô João Divino.