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Sob nova direção artística, Ospa anuncia temporada 2025 com clássicos, óperas e estreias; veja destaques

Manfredo Schmiedt, que assumiu o cargo, comanda o primeiro concerto do ano nesta sexta-feira (14) na Casa da Ospa

Fábio Prikladnicki

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Vinícius Angeli / Divulgação
Manfredo Schmiedt vai reger o primeiro concerto da temporada.

A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) abre a temporada 2025, em que celebra 75 anos, com novo diretor artístico: Manfredo Schmiedt foi anunciado em novembro para o posto ocupado durante 10 anos por Evandro Matté.

Schmiedt é figura conhecida dos músicos e do público. Durante 32 anos, regeu o Coro Sinfônico da orquestra (agora sob comando de Diego Schuck Biasibetti), tendo sido também maestro titular e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

É ele quem vai conduzir o primeiro espetáculo do ano nesta sexta-feira (14), às 20h, na Casa da Ospa, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), com o Concerto para Harpa e Orquestra de Reinhold Glière, trazendo a russa Ekaterina Dvoretskaya como solista, e Scheherazade, de Rimsky-Korsakov.

Os ingressos já estão esgotados, mas a apresentação será transmitida gratuitamente pelo YouTube da Ospa

Diversidade na temporada 2025

Embora tenha sido anunciado no final do ano passado, o novo diretor artístico diz que a temporada já terá sua marca: a diversidade. Serão executadas obras de diferentes períodos da música, trazendo solistas dos mais variados instrumentos e maestros convidados do Brasil e do Exterior.

Schmiedt explica que a programação do ano foi criada a partir de sugestões da comissão artística formada por músicos da orquestra e pela experiência que ele mesmo acumulou em sua longa trajetória:

— O objetivo é que o público possa vir para os concertos e ter uma experiência muito especial.

Serão cerca de 90 concertos, contando os da Sinfônica, do Coro e dos grupos da Escola da Ospa. Apresentações em cidades como Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Venâncio Aires marcarão os 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul (veja destaques da temporada abaixo).

Vinícius Angeli / Divulgação
Maioria dos concertos será na Casa da Ospa, em Porto Alegre.

Investimentos em formação

A temporada 2025 foi apresentada em evento realizado na segunda-feira (10) com a presença da secretária estadual da Cultura, Beatriz Araujo; do presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Fospa), Gilberto Schwartsmann; e do novo diretor artístico.

Na ocasião, foi lançada a Academia de Música Clássica, iniciativa em parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac, à qual a Ospa está vinculada) e a Fundação Pablo Komlós que será voltada a alunos em nível avançado e vai complementar a formação oferecida pela Escola de Música da Ospa.

Outra novidade é que, pela primeira vez, serão oferecidas bolsas para os integrantes do Ospa Jovem, com 80 contemplados. O objetivo é reter talentos e ampliar a programação.

Nova sede na orla do Guaíba?

Em entrevista a Zero Hora, o maestro Manfredo Schmiedt reforça duas demandas da orquestra profissional: um reajuste salarial para os músicos, com o objetivo de equiparar os vencimentos ao de conjuntos brasileiros com estrutura similar, e a realização de novo concurso para completar o quadro.

Um sonho que segue vivo, segundo o diretor artístico, é a construção de uma sala de concertos com excelência acústica para a Ospa. No início do mês, o colunista de GZH Jocimar Farina noticiou uma retomada de conversas para uma obra na orla do Guaíba.

Schmiedt entende que o espaço ocupado atualmente pela orquestra no Centro Administrativo Fernando Ferrari é "muito importante" e "dignificou o trabalho dos músicos", que durante anos atuaram de forma itinerante, mas ainda há uma aspiração por um empreendimento de referência, como a Sala São Paulo, a Cidade das Artes do Rio e a Sala Minas Gerais.

— É um sonho possível se houver a união de várias forças nesse sentido, tanto empresariais quanto governamentais, que levariam a Ospa a um novo nível.

Consultada pela reportagem, a Sedac informa, em nota, que "está tratando internamente sobre a possibilidade de reajuste salarial dos músicos da Ospa, bem como de um novo concurso público". 

Sobre a construção de uma nova sede para a Ospa na Orla, a pasta informa que "há interesse, por parte do governo, neste projeto; porém, reiteramos que não há nada de concreto".

O que vem aí na temporada 2025 da Ospa

Os concertos serão na Casa da Ospa no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre, exceto onde indicado.

Neste ano, a maioria das apresentações será nas noites de sexta-feira, mas haverá atrações nas tardes de sábado.

A programação completa está disponível no site da Ospa, que também oferece links para a compra de ingressos.

Grandes obras do repertório

Cristine Rochol / Divulgação
Olinda Allessandrini será a solista do Concerto para Piano nº 1 de Tchaikovsky.

O tempo passa, as pessoas mudam, mas os clássicos permanecem. Não apenas clássicos como também barrocos, românticos, impressionistas e contemporâneos. Haverá um pouco de cada período da história da música na temporada da Ospa.

De Beethoven, o mais popular dos eruditos, haverá a Sinfonia nº 3 (3/5, às 17h), com regência de Cláudio Cruz, e o Concerto para Violino (8/8, às 20h), sob a batuta de Manfredo Schmiedt e com solo da neozelandesa Amalia Hall.

Entre outras grandes sinfonias da programação, estão a Sétima de Bruckner (25/7, às 20h), conduzida pela grega Zoe Zeniodi (uma das cinco regentes retratadas no documentário Maestra, de 2023, de Maggie Contreras), e a Quarta do sempre monumental Mahler (7/11, às 20h), regida por Tobias Volkmann (gaúcho que atua na Orquestra Sinfônica da USP, na Orquestra Sinfônica da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina, e na Orquestra Rio Villarmônica).

Os amantes de piano poderão desfrutar o virtuosístico Concerto nº 2 de Rachmaninoff (29/8, às 20h), pelos dedos de Estefan Iatcekiw (jovem prodígio curitibano de 22 anos) e pela batuta do norte-americano Jonathan Girard, e o emocionante Concerto nº 1 de Tchaikovsky (26/9, às 20h), solado pela destacada musicista gaúcha Olinda Allessandrini e regido por Linus Lerner (também gaúcho, que atua na Southern Arizona Symphony Orchestra, nos EUA, na Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte e na Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo).

Na seara das cordas, haverá ainda o Concerto para Violoncelo de Shostakovich (4/7, às 20h), com solo do inglês Alexander Baillie e condução de Lavard Skou Larsen (gaúcho radicado na Áustria, onde leciona na Universidade Mozarteum).

Outro destaque será o espetáculo cênico-musical A História do Soldado (16/8, às 20h, e 17/8, às 18h, no Teatro Simões Lopes Neto do Multipalco) de Stravinsky. A direção cênica e a narração serão de Zé Adão Barbosa, um dos maiores nomes do teatro gaúcho, e a direção musical e a regência, de Rodolfo Saglimben.

Óperas de Puccini, Menotti e Pasatieri

Vitoria Proença / Divulgação
Eiko Senda (foto) e Marly Montini serão as protagonistas de "Turandot", de Puccini, parceria da Ospa com a Cors.

Longe do estereótipo de música hermética para público restrito, a ópera é amada no Rio Grande do Sul — basta ir a uma récita para constatar a casa cheia. Neste ano, a Ospa apresentará três peças do gênero.

A mais aguardada é Turandot, de Puccini, uma das obras mais celebradas do repertório lírico, que contém a ária Nessun Dorma (imortalizada por tenores como Luciano Pavarotti). A montagem que vai inaugurar o Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher, após 22 anos de obras, é uma parceria da Ospa com a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (Cors).

Com direção cênica de Flávio Leite e regência do argentino Carlos Vieu, as récitas são de 29 a 31 de março (sábado e segunda, às 20h, e domingo, às 18h). Ainda há ingressos disponíveis para pessoas obesas e para PCDs e seus acompanhantes, à venda pelo site do Theatro São Pedro).

Outra oportunidade para ver ópera com a Ospa será em outubro, quando a orquestra apresentará um programa com duas obras cômicas de um ato cada, com libretos escritos pelos próprios compositores: O Telefone (1947), do italiano-americano Carlo Menotti, e Signor Deluso (1974), do norte-americano Thomas Pasatieri.

Dirigido cenicamente por Áurea Baptista (artista destacada do teatro gaúcho) e regido pela norte-americana Rebecca Burkhardt, o programa duplo será apresentado nos dias 25, às 17h, e 26, às 11h, na Casa da Ospa.

Estreias mundiais

Adriana Franciosi / Agencia RBS
Compositor Celso Loureiro Chaves vai estrear "Estética do Frio IV" em setembro.

Que tal ter o privilégio de testemunhar a primeira audição de uma composição? Provando que música de concerto não é coisa do passado, a Ospa vai realizar cinco estreias mundiais na temporada.

Em homenagem aos 120 anos de nascimento do escritor Erico Verissimo (1905-1975), o compositor santista João Rocha criou a Abertura O Tempo e o Vento (16/5, às 20h), que ele mesmo vai reger. Uma curiosidade é que o programa também terá o Concerto para Clarineta de Aaron Copland, referência aos dois volumes de memórias que Erico batizou de Solo de Clarineta. O solo, nesse caso, será da mineira Ariane Rovesse, do quadro de músicos da Ospa.

Celso Loureiro Chaves, gaúcho que é um dos mais respeitados compositores brasileiros e divulgou a música de concerto em colunas para Zero Hora durante mais de 20 anos, vai estrear sua Estética do Frio IV (12/9, às 20h), que chegou a ser anunciada em temporadas anteriores, mas não foi apresentada. 

Com solos de Bruno Duarte (violão) e Elisa Machado (soprano) e regência de Claudia Feres (diretora artística e regente da Orquestra Municipal de Jundiaí) o concerto terá outras duas obras de Chaves: Estética do Frio I e Anahy de las Misiones.

Prata da casa, o regente da Ospa Jovem Arthur Barbosa vai estrear sua Suíte Caribe em uma noite de latinidades (4/4, às 20h). O violinista, maestro e compositor cearense radicado em Porto Alegre também apresentará seu Concerto para Violino, tendo Alejandro Drago (argentino que leciona na Universidade da Dakota do Norte) como solista.

Também estreiam na temporada O Boto dos Tapajós (30/5, às 20h), de Cíntia Zanco (arranjadora da Orquestra Brasil Jazz Sinfônica de São Paulo), regida por Cinthia Alireti, e Prelude — The Girl from the Bus Station (29/8, às 20h) de Thales C. Gonzaga, sob a batuta de Jonathan Girard.

Mulheres em destaque

Yaroslav Yarovoi / Divulgação
Harpista russa Ekaterina Dvoretskaya será solista do concerto de abertura da temporada 2025 da Ospa.

A música de concerto ainda é um meio predominantemente masculino, mas os nomes femininos que você leu até agora e seguirá lendo mostram que, seguindo uma tendência da Ospa nos últimos anos, elas estão cada vez mais em evidência.

Além das integrantes da orquestra e do Coro Sinfônico, as mulheres estarão bem representadas na escalação de solistas, a começar pelo concerto de abertura da temporada nesta sexta, com a russa Ekaterina Dvoretskaya solando o Concerto para Harpa de Reinhold Glière, compositor russo nascido em Kiev (na época, 1875, parte do Império Russo, hoje Ucrânia), sob regência de Manfredo Schmiedt (nesta sexta, dia 10/3, às 20h).

Área que vem ganhando cada vez mais participação feminina, a regência será destaque neste ano. Figuram entre as maestras da temporada Cinthia Alireti (regente titular e codiretora artística da Orquestra Sinfônica da Unicamp), que comandará uma noite focada no contrabaixo (30/5, às 20h); a grega Zoe Zeniodi, que regerá o concerto Noites Francesas (18/7, às 20h) e outro com a Sétima de Bruckner (25/7, às 20h); a paulista Claudia Feres, com mais de 40 anos de regência, que comandará o concerto Estética do Frio (12/9, às 20h); e a norte-americana Rebecca Burkhardt (também compositora), que conduzirá a Ospa em apresentações em Farroupilha (17/10, às 20h) e Porto Alegre (18/10, às 17h), além das noites com óperas de Menotti e Pasatieri.

O público também poderá ouvir obras de compositoras contemporâneas como Cíntia Zanco (estreia de O Boto dos Tapajós, dia 30/5, às 20h), a paulista Silvia Berg (Malabares, dia 13/6, às 20h) e Clarice Assad (Concerto para Quarteto de Percussão e Orquestra "Raízes", dias 22/11, às 17h, e 23/11, às 18h). Clarice vem de uma família musical: o pai e o tio são, respectivamente, os violonistas Sergio e Odair Assad (o Duo Assad), e a tia é a cantora e compositora Badi Assad.

Do século 19 vêm as obras das francesas Augusta Holmès (Ludus pro Patria: La Nuit et l'Amour — Interlúdio) e Louise Farrenc (Sinfonia nº 2) — ambas no dia 18/7, às 20h —, das alemãs Emilie Mayer (Sinfonia nº 1 dias 17/10, às 20h, em Farroupilha, e 18/10, às 17h, em Porto Alegre) e Fanny Mendelssohn (Abertura em Dó Maior, dia 22/8, às 20h) e da austríaca Alma Mahler (Quatro Canções para Soprano, que serão interpretadas pela cantora Ludmilla Bauerfeldt no dia 7/11).

Curiosidades: Fanny Mendelssohn era irmã de Felix Mendelssohn, e Alma Mahler foi casada com Gustav Mahler.

Compositores do Rio Grande do Sul

André Ávila / Agencia RBS
Antonio Borgesc-Cunha vai reger sua "Pedra Mística" para celebrar os 30 anos de composição e 25 de gravação.

Nem todo gaúcho sabe, mas merece saber, que o Estado é referência nacional em formação de compositores de música de concerto, principalmente devido ao ensino e à pesquisa realizados nas universidades.

É da UFRGS, por exemplo, que vêm Celso Loureiro Chaves (leia mais sobre ele acima, na seção "Estreias mundiais") e Antonio Borges-Cunha, dois nomes que serão homenageados pela Ospa neste ano.

Cunha, que foi diretor artístico da Orquestra Theatro São Pedro durante 13 anos, vai revisitar uma obra icônica como compositor: a experimental Pedra Mística, que terá seus 30 anos de composição (e 25 anos desde a gravação) celebrados no dia 2/8, às 17h, sob regência do próprio. 

O programa, que inclui duas peças de Ravel (Pavane pour une Infante Défunte e o Concerto para Piano), terá como solistas Eiko Senda (soprano), Luciane Bottona (mezzo-soprano), Flávio Leite (tenor), Daniel Germano (barítono) e Ney Fialkow (piano), e participação do Coro de Câmara da Ospa.

Outros compositores gaúchos ou atuantes no Estado que terão obras executadas pela orquestra são Arthur Barbosa (leia mais na seção "Estreias mundiais"), Daniel Wolff (Concerto Meridional, dia 13/6, às 20h, com o próprio Wolff como solista, ao violão) e Dimitri Cervo (Abertura 2018, dias 17/10, às 20h, em Farroupilha, e 18/10, às 17h, em Porto Alegre).

Outro destaque será a apresentação de Salamanca do Jarau (22/11, às 17h, e 23/11, às 18h), composição de 1935 de Luiz Cosme baseada na lenda registrada por Simões Lopes Neto. A regência será de Manfredo Schmiedt. É uma oportunidade para conhecer ou relembrar a obra de Cosme, homenageado com o nome de um auditório no quarto andar da Casa de Cultura Mario Quintana. A obra será gravada pela Ospa e disponibilizada em seu YouTube.

Indo para a música popular, outra seara na qual o Rio Grande do Sul se destaca, a Ospa vai homenagear os 60 anos do flautista e saxofonista Pedrinho Figueiredo. Um dos nomes mais respeitados da cena instrumental, ele será o solista do espetáculo De Lá para Cá (9/5, às 20h), com regência de Manfredo Schmiedt e participações dos ases Renato Borghetti (gaita ponto) e Daniel Sá (violão). No repertório, composições de Pedrinho solo ou em parceria, e outras de autores como Pery Souza, Jerônimo Jardim e Paulo Dorfman.

Concertos especiais

Tiago Coelho / Divulgação
A cantora, musicista e atriz Simone Rasslan será a narradora de "Saltimbancos".

Para apresentar sucessos de bandas como Barão Vermelho, Engenheiros do Hawaii e Queen no espetáculo Rock in Concert (12/7, às 17h, e 13/7, às 18h), a Ospa receberá como convidados Beto Vianna (vocal), Rafa Gubert (vocal), Johnny Macedo (guitarra) e Rodrigo Campagnolo (guitarra).

Em outubro, haverá outros dois concertos especiais. Highlands & Bagpipes (3/10, às 20h) vai destacar a gaita de foles, tocada pelo solista norte-americano Kevin Weed. Contando também com a mezzo-soprano Débora Dreyer, o programa inclui temas da série Outlander (2014-) e do filme Coração Valente (1995) e o Concerto for Highland Bagpipes, do próprio Weed.

No dia 11 de outubro, às 17h, o público infantil poderá curtir o espetáculo cênico-musical Os Saltimbancos, versão de Chico Buarque para o musical infantil de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, inspirado no conto Os Músicos de Bremen, dos irmãos Grimm. 

A versão da Ospa terá solistas e o Coro Infantojuvenil da Ospa, e a narradora será a cantora, musicista e atriz Simone Rasslan. Outra obra apresentada na ocasião será Tubby The Tuba, de George Kleinsinger, com o tubista da orquestra, Wilthon Matos.

Os três concertos acima serão regidos por Manfredo Schmiedt.

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