Milhares de pessoas se reuniram no Allianz Parque, em São Paulo, para acompanhar o segundo dia do festival Salve o Sul, realizado neste domingo (9) com shows de dezenas de artistas ao longo de oito horas de música. A renda obtida por meio da venda dos ingressos será destinada à recuperação do Rio Grande do Sul após a tragédia climática. Durante o evento, o público também foi convidado a contribuir através da plataforma Para Quem Doar.
Idealizado pela gaúcha Luísa Sonza em parceria com o DJ Pedro Sampaio, o festival teve seu primeiro dia de apresentações na sexta-feira (7), quando os sertanejos Chitãozinho, Xororó, Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano apresentaram o show especial Amigos. Neste domingo, artistas de diferentes gerações e estilos musicais subiram ao palco para ajudar o Rio Grande do Sul, em uma grande festa da solidariedade.
Por dois dias, então, o coração do Rio Grande do Sul bateu em um endereço diferente. Ele saiu das suas fronteiras e bateu em São Paulo. Cerca de 40 atrações, de diversas gêneros musicais, transformaram o estádio Allianz Parque no palco de um evento histórico. Um grande festival beneficente, que transmitiu cantos gauchescos e brasileiros para todo o país, no melhor estilo de O Canto Alegretense.
O evento mesclou tradição e novidades, intercalando batidas eletrônicas do pop e do funk a hinos consagrados da música nativista. E funcionou muito bem.
A abertura deste domingo ficou a cargo da própria Luísa Sonza. Por volta das 14h30min, de chiripá, chapéu e lenço atado a meia espalda, a gaúcha de Tuparendi puxou os primeiros versos de Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, de Leonardo, e foi acompanhada por nativistas como Neto Fagundes, Cristiano Quevedo, João Luiz Côrrea, Elton Saldanha, César Oliveira & Rogério Melo e Guri de Uruguaiana. O momento emocionou o público e arrancou lágrimas também de Luísa.
— Isso aqui vai ser de muita alegria, porque, no Rio Grande, a gente é faca na bota. A gente vai reconstruir o Rio Grande. Vamos fazer um show maravilhoso em homenagem a todo o Sul e a todos os brasileiros. Porque, antes de tudo, a gente é brasileiro. E se não fosse esse país todo nos ajudando, iria ficar mais difícil — declarou.
Após o número inicial, Luísa chamou ao palco seu parceiro Pedro Sampaio, que apresentou alguns de seus principais sucessos e definiu o festival como "a realização de um sonho". Na sequência, o porto-alegrense Vitor Kley convocou que "o sol volte a brilhar" com O Sol e Morena. E com a apresentação de Leo Santana, o público é que foi convocado a rebolar. O baiano levou ao Allianz Parque os hits Posturado e Calmo e Zona de Perigo.
— Me sinto abençoado e privilegiado por estar fazendo parte do Salve o Sul. Que Deus abençoe todos que estão aqui. Que Deus abençoe o Brasil e que Deus abençoe e proteja o Rio Grande do Sul — pediu o baiano.
Já Ferrugem, que subiu ao palco depois de Leo Santana, definiu o Estado como o primeiro incentivador de seu trabalho:
— Para quem não sabe, a minha carreira começou lá no Rio Grande do Sul. Eu sou muito grato e não poderia faltar nessa data especial, não poderia deixar de estar aqui somando com a minha arte.
Coube ao pagodeiro anunciar o retorno da anfitriã Luísa Sonza, que ainda subiria outras vezes ao palco durante o festival. Em sua segunda aparição, a gaúcha interpretou Luísa Manequim, Sagrado e Profano e Iguaria. A próxima atração foi Xand Avião, que levou o forró para o Allianz Parque. A festa continuou com o pagode do Menos é Mais.
Após o show do grupo brasiliense, o movimento Pra Cima, Rio Grande foi apresentado ao público que acompanhava o festival pela televisão, nos canais Multishow e BIS, no Globoplay e na RBS TV. Apresentadoras da transmissão, Kenia Saad e Sheron Menezzes foram as responsáveis por lançar nacionalmente a bandeira promovida pelo Grupo RBS para incentivar a reconstrução do Estado.
O festival seguiu com a performance do rapper Xamã. O artista rimou de improviso e apresentou as canções Malvadão 3, seu maior hit, e Leão, música de autoria dele que fez sucesso na voz de Marília Mendonça. Depois, foi a vez de Ludmilla levar uma prova do seu projeto Numanice para o Allianz Parque. Maliciosa, Maldivas, Saudade da Gente e Falta de Mim foram as escolhidas para o bloco dedicado ao pagode, mas foi com o funk de Favela Chegou que a cantora se despediu do público.
Gloria Groove adentrou o palco na sequência para interpretar Sobrevivi, Nosso Primeiro Beijo e A Tua Voz. Atração seguinte, a funkeira Lexa apresentou Chama Ela e Sapequinha, dando lugar a Carlinhos Brown. O baiano aproveitou para transmitir uma mensagem de conscientização ambiental ao público.
— Os alertas são tantos, pelos cientistas, pelos artistas, e hoje nós somos vítimas da nossa própria catástrofe. Afinal, somos nós que estamos desequilibrados com a natureza, não a natureza com a gente. Que esse momento de ajuda, de salvar o Sul, seja também o momento de salvarmos a nossa natureza. A gente precisa se equilibrar — disse.
Juntos, Luísa Sonza e Pedro Sampaio voltaram ao palco para agradecer a adesão do público ao festival. A cantora convocou a plateia a gritar o bordão "Ah, eu sou gaúcho!" e interpretou o Canto Alegretense, hino alternativo do Rio Grande do Sul, acompanhada de Neto, Ernesto e Paulinho Fagundes. A coreografia ficou a cargo de bailarinos do CTG Rancho da Saudade, de Cachoeirinha. O momento foi um dos mais aclamados pelo público.
Gloria Groove e Vitor Kley voltaram ao palco para interpretar mais canções. Ao fim de sua segunda apresentação no festival, Kley anunciou a entrada do conterrâneo Thedy Correa. O vocalista do Nenhum de Nós interpretou O Astronauta de Mármore e Camila Camila e fez um apelo pela preservação da natureza:
— Obrigado a todos que estão focados e empenhados em ajudar o Rio Grande do Sul e salvar o que a gente precisa que seja salvo. Mas também é importante esse momento trazer consciência a todos nós. Agora, é para salvar o Rio Grande do Sul, mas precisamos salvar o planeta inteiro. Se liguem nessa!
Outro gaúcho a subir ao palco do Salve o Sul, Armandinho interpretou Desenho de Deus e Semente. Perto das 18h, o grupo Menos é Mais voltou para mais um bloco de pagode, botando o público do Allianz Parque para dançar. A pista continuou agitada, mas ao som do funk de Pocah.
Campeã do Big Brother Brasil 21, a paraibana Juliette foi recebida com entusiasmo pelo público. Ela apresentou canções próprias e interpretou Anunciação, sucesso de Alceu Valença que costumava cantar durante o confinamento no BBB. Outro rosto conhecido pelo público da TV aberta subiu ao palco na sequência: Thomas Machado, o eterno "gaúchinho do The Voice Kids", que venceu o reality musical em 2017, quando tinha nove anos. No Salve o Sul, Thomas tocou gaita e cantou Beijinho Doce.
Luísa Sonza voltou ao palco novamente para apresentar mais sucessos. O prelúdio da quarta performance da gaúcha no festival foi realizado por peões do CTG Rancho da Saudade, que surpreenderam o público com a dança dos facões. A plateia ficou afiada e bailou com Luísa ao som de Dona Aranha, Sou a Musa do Verão e Modo Turbo.
Dentro da Hilux, uma das músicas mais ouvidas de 2023, foi a escolha de Luan Pereira para continuar incendiando o público. Nomes como MC Daniel, que se jogou nos braços da plateia, Duda Beat, Zé Felipe, Turma do Pagode, MC Hariel, WIU, Dexter, MC Ryan SP e Junior Lima ainda subiram ao palco, demonstrando a versatilidade do festival em que a atração principal foi a solidariedade.
Artistas nativistas também tiveram espaço no line-up. O Triopacito quebrou barreiras dançando o sapateado gaúcho ao som de Galopa, de Pedro Sampaio. Elton Saldanha e Luiza Barbosa, ex-participante do The Voice Kids, interpretaram, emocionados, o clássico Eu Sou do Sul. Juntos, João Luis Corrêa e Cristiano Quevedo apresentaram Pra Ti que És um Gaúcho, sucesso de Corrêa, e Gaúcho Coração, de Quevedo.
— Obrigado, São Paulo. Obrigado, Brasil, pelo que fizeram pelo nosso Estado. Para vocês, nós tiramos o nosso chapéu — agradeceram.
O humorista Jair Kobe levou o personagem Guri de Uruguaiana para o Allianz Parque.
— Mas que baita festival, até a Virgínia veio. Tô me sentindo a picanha do churrasco, saí lá de Uruguaiana e agora estou aqui, no Allianz Parque — iniciou o humorista. — Eu sou de família tradicional: tradicionalmente pobre. Quando meu avô morreu, vocês precisavam ver a briga que deu. Porque ele tinha terras... embaixo das unhas — brincou.
As risadas incitadas pelo Guri de Uruguaiana deram lugar às lágrimas quando César Oliveira e Rogério Melo subiram ao palco para interpretar Milonga Abaixo do Mau Tempo. "Agarre amigo o laço, enquanto o boi tá vivo/ A enchente anda danada, molestando o pasto/ Ao passo que descampa a pampa dos mil réis" diz um trecho da música de José Claudio Machado que fez o público chorar enquanto, no telão, imagens de resgates no Estado eram transmitidas.
Antes que a maratona de shows chegasse ao fim, Luísa Sonza anunciou que pretende transformar o festival em um evento anual, que poderá ser associado a diferentes causas. E foi com ela que a, então, primeira edição do projeto começou a terminar. A gaúcha voltou ao palco para interpretar a emblemática Chico, música que fez para o ex-namorado Chico Moedas; Principalmente Me Sinto Arrasada; You Don't Know Me, parceria com Caetano Veloso; e Lança Menina, composta em homenagem a Rita Lee.
— Isso é Salve o Sul. Isso é o começo de uma história linda que a gente vai fazer. Essa noite vai ficar marcada porque, hoje, além de se divertir, a gente está salvando vidas. E que a gente continue fazendo isso não só pelo Rio Grande do Sul, mas pelo Brasil inteiro — disse Luísa.
Parceiro da gaúcha na criação do Salve o Sul, Pedro Sampaio também retornou. Após o agito do funk Dançarina, o grupo Os Monarcas subiu ao palco do Salve o Sul para cantar Querência Amada, de Teixeirinha, com Luísa Sonza. Artistas que passaram pelo festival durante o dia voltaram ao palco para apreciar o momento simbólico, e a música ainda ganhou uma versão em funk, mixada por Pedro Sampaio.
E foi assim que, após oito horas de shows e mais de uma centena de músicas, o festival Salve o Sul chegou ao fim, por volta das 22h30min: com uma celebração ao Rio Grande do Sul, marcada pela união e solidariedade. Nada mais adequado para encerrar um evento que reuniu milhares de pessoas em prol dos atingidos pela enchente, uma canção que diz que "do povo vem o carinho, bondade nunca é demais".