— Rolou uma sincronia cósmica que perdura há mais de 40 anos — define Nelson Coelho de Castro, 69 anos, sobre o seu primeiro encontro com Gelson Oliveira, 68, em 1976.
A dupla se conheceu nos bastidores da extinta TV Difusora. Enquanto Oliveira era entalhador em Gramado, produzindo, inclusive, os antigos Kikitos de madeira, Castro era estudante de Jornalismo e atuava como produtor do programa Porto Visão. Ambos, porém, já estavam tocando os seus primeiros acordes da carreira musical. Apresentados por Fernando Vieira, os dois artistas selaram ali, em uma conversa de 10 minutos, uma parceria que se estenderia por décadas. E que só se fortaleceu com o passar do tempo.
Para celebrar esta amizade, a dupla organizou o show Arte do Encontro, que já percorreu diversas cidades do Rio Grande do Sul e que, agora, chega pela primeira vez a um teatro, espaço considerado ideal para este tipo de concerto, segundo eles. Em duas apresentações, Oliveira e Castro tocarão, neste sábado (21) e domingo (22), a partir das 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, no Complexo Cultural Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº - Centro Histórico), em Porto Alegre.
Na ocasião, serão apresentadas canções clássicas da dupla, como Salve-se Quem Souber, Papagaio Pandorga, Vim Vadiá, Armadilha e Sinais de Fumaça, trabalho em conjunto dos amigos. O espetáculo, entretanto, vai além da cantoria — também será um espaço destinado a contação de histórias e resenhas, como os próprios músicos definem. Em cerca de 1h20min, Oliveira e Castro vão compartilhar com a plateia momentos curiosos de suas carreiras, desde quando se conheceram até agora, em uma viagem festiva pela memória.
— Essa memória é ainda tão latente, tão pulsante, que nos move a fazer um espetáculo que a gente não para de compor cada vez que vai ensaiar, para fechar o repertório do espetáculo. Já fizemos umas 10 edições, em vários lugares, e em cada um teve coisas novas. Nesta apresentação, provavelmente, vão vir canções que a gente vai compor nos ensaios ou vamos nos lembrar de outras. É um espetáculo que não trabalha com o pretérito, ele trabalha com o vir a ser da coisa — explica Castro.
Oliveira corrobora, dizendo que o repertório tem uma espinha dorsal, mas que as lembranças vão moldando o espetáculo, tanto na hora das escolhas das canções quanto nas histórias que são contadas ao público:
— Acho que as pessoas vão curtir bastante, porque a gente vai permeando o espetáculo com histórias vividas, tanto aquelas que vivemos juntos como experiências individuais que a gente já passou. Acho que é bem mais interessante falarmos das roubadas do que contar as coisas que deram certo, porque as coisas que deram certo foi a maior parte. Aquelas que começaram estranhas e engraçadas também terminaram dando tudo certo (risos).
Que boca!
A história de como Oliveira e Castro se conheceram, lá nos anos 1970, teve um episódio quase premonitório por parte de Castro: ao terminar o breve papo, ele exclamou para aquele que viria a ser seu amigo: "A gente ainda vai fazer muita coisa juntos". Dito e feito. Foram incalculáveis os momentos em que a dupla esteve lado a lado no palco ou em projetos, fossem apenas dos dois ou com outros parceiros, como Antonio Villeroy e o saudoso Bebeto Alves.
— Volta e meia, falo para o Nelson: que boca! Nos tornamos amigos, irmãos e parceiros até hoje — diz Oliveira. — O Nelson sempre foi, desde o início, um camarada que me incentivou muito. Nós somos filhos da MPB e ele me fez acreditar que é possível a gente desenvolver um trabalho em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mesmo longe das grandes capitais.
Um artista foi apoiando o outro, tanto como colegas quanto como amigos. Este movimento se exemplifica no começo dos anos 1980, quando Castro foi gravar um álbum independente, Juntos (1981). Porém, no estúdio, sobraram algumas horas, as quais foram emprestadas para Oliveira, que gravou naquele momento o álbum Terra (1983), ao lado de Luiz Ewerling. A energia da amizade foi tão forte que nasceu um clássico. Em 2018, a canção Acordes & Sementes passou a integrar uma coletânea lançada por Ed Motta, na Alemanha, com o melhor do funk e do soul brasileiro das décadas de 1970 e 1980.
— Com essas histórias, a gente quebra a quarta parede e não ficamos só nas canções. Quando a gente começa a contar, a plateia passa para dentro do palco com uma interação que a gente consegue ter muito sucesso. Além de ter contemporâneos na plateia, também tem muita gente nova que é surpreendida quando fica sabendo como se dá essa coisa de fazer música em Porto Alegre — completa Castro, convidando o público para participar desta arte que é o encontro entre pessoas.
"A Arte do Encontro" - Show Musical com Nelson Coelho de Castro e Gelson Oliveira
- Neste sábado (21) e domingo (22), às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, no Complexo Cultural Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº, Centro Histórico), em Porto Alegre
- Ingressos a R$ 60 (inteira), à venda pelo site do Theatro São Pedro
- Classificação: livre