Correção: Rosa Weber foi presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), diferentemente do que foi publicado entre 15h10min e 16h10min. O texto já foi corrigido.
Um dos grandes nomes da música popular do Rio Grande do Sul, o escritor, cantor e compositor Jerônimo Jardim morreu na tarde desta quinta-feira (3), aos 78 anos, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, onde estava internado no CTI desde 1º de julho com insuficiência respiratória. Ele ainda sofria de outras comorbidades.
O artista deixa dois filhos do primeiro casamento, um neto de 10 anos e a esposa, Clair Jardim, que confirmou o óbito. O velório será nesta sexta-feira (4), no Multipalco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, entre 10h e 16h30min. A cerimônia de despedida será aberta ao público.
— Foi um marido incrível. Pessoa generosa, doce, justa — comentou Clair.
Artista de longa trajetória e formação ampla, Jardim era bacharel em Direito e foi servidor público do poder judiciário, onde atuou como assessor da ministra Rosa Weber, então presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) e hoje presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele ainda teve sólida carreira na publicidade.
Filho de bageenses, nasceu em Jaguarão, em 19 de novembro de 1944, e andou por diversos municípios gaúchos até fixar residência em Porto Alegre no início da década de 1970, quando enveredou pela carreira artística.
Foram 10 anos realizando shows marcantes na capital gaúcha, entre os quais Rio Grande do Som (idealizado em parceria com Luiz Coronel) e Suor e Sal e Gira da Canja (ambos solo), até ganhar projeção nacional com a gravação, por parte de Elis Regina, da canção Moda de Sangue, composta por Jerônimo Jardim e Ivaldo Roque — seu parceiro de Grupo Pentagrama juntamente com Loma, Ioli e Tenison Ramos. Moda de Sangue foi incluída na trilha sonora da novela Coração Alado (1980), da Globo (depois, também integraria a trilha de Torre de Babel, de 1998). O sucesso foi uma das razões que o levou a se mudar para o Rio de Janeiro, em 1980.
No curto período em que viveu na capital fluminense, Jardim trabalhou como cantor de coro na produtora de jingles Sonora. Datam desse período algumas de suas músicas de maior projeção, entre elas Vento e Pó e Purpurina, esta última vencedora do Festival MPB Shell, com interpretação de Lucinha Lins. O compacto simples da canção foi gravado pela Polygram com produção de Ivan Lins e Artur Laranjeira.
Em 1985, de volta ao Rio Grande do Sul, foi responsável por uma das grandes polêmicas da Califórnia da Canção Nativa, a "mãe dos festivais nativistas" gaúchos. Sua música Astro Haragano foi declarada vencedora do evento, para contrariedade da plateia, que o vaiou. Jardim acabou se retirando dos palcos até meados dos anos 1990, dedicando-se, predominantemente, à publicidade, mas também dando aulas de Direito do Trabalho.
A redenção viria em 1996, quando voltou ao festival e, fora de competição, foi ovacionado por mais de 4 mil pessoas ao apresentar a mesma Astro Haragano. Nos anos seguintes, lançaria novos discos e seguiria ativo em uma nova faceta da criação artística: a produção de livros infantojuvenis. Foram cinco, no total, de Cri-Cri, o Grilo Gaudério (Ed. Tchê) até Sob Fogo Cruzado (L&PM), além de dois livros voltados para o público adulto — In Extremis: na Alça de Mira e Serafim de Serafim, ambos pela editora Alcance.
Entre seus parceiros musicais também estiveram nomes como Geraldo Flach (diretor musical de seu primeiro disco solo, Jerônimo Jardim, de 1977), Ayrton dos Anjos (produtor de vários de seus outros álbuns), Toneco da Costa (diretor musical de Gira da Canja), Pedrinho Figueiredo (flautista, parceiro no disco Terceiro Sinal), além de Raul Ellwanger, Paulinho Tapajós, Jaime Vaz Brasil, Peri Souza e Sérgio Napp.
Uma porta de entrada para a sua obra pode ser o álbum De Viva Voz, que gravou em 2011 com algumas de suas canções, entre as quais O Amor É Assim, Amsterdã, Minha Nega e Cama Desfeita, além da faixa-título. Naquele mesmo ano, recebeu o Prêmio Açorianos de melhor compositor, uma medalha Cidade de Porto Alegre e o título de Destaque Especial da Ordem dos Músicos do Brasil. Antes, em 2008, havia levado um Açorianos especial pelo conjunto da obra e, em 2000, o Prêmio Lupícinio Rodrigues da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Juarez Fonseca, em texto, ressalta que, em 2015, Jerônimo Jardim lançou seu título derradeiro, Singular e Plúrimo. O jornalista aponta que, tanto este álbum quanto o anterior, de 2011, foram feitos sob a pressão de uma artrite reumatoide, que resultou em frequentes hospitalizações do artista. Para falar do último disco, o músico concedeu uma entrevista para GZH na época:
— As cores desse disco não puxam para o amarelo à toa. Quis fechar minha trajetória com chave de ouro.
Fonseca ainda explica que, em 2021, aos 76 anos e 50 de carreira, Jardim resolveu, pela última vez, deixar a música para trás. Transferiu ao neto Pedro, então com sete anos e veia musical, seus dois amados violões. A obra do artista, porém, segue.
Discos de Jerônimo Jardim
- Grupo Pentagrama (1977): LP do grupo homônimo
- Jerônimo Jardim (1977): LP
- Jerônimo Jardim (1982): compacto simples
- Terceiro Sinal (1985): LP
- Digitais (1997): CD
- Estação (2000): CD
- Quando a Noite Vem (2003): CD
- De Viva Voz (2011): CD
- Singular e Plúrimo (2015): CD
Livros de Jerônimo Jardim
- Cri-Cri, o Grilo Gaudério (Ed. Tchê)
- Titinho e os Tênis Mágicos (L&PM)
- Sob Fogo Cruzado (L&PM)
- O Clube da Biblioteca contra a Bruxa Pestiléia (Vozes)
- A Revolta dos Pincéis (Vozes)
- In Extremis: na Alça de Mira (Alcance)
- Serafim de Serafim (Alcance)