Quem passar pelo Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nesta quinta-feira, na sexta e nos dias 17 e 18 de agosto será transportado para um mundo onde a cuíca chora e a alegria se multiplica. É nesse clima que um dos projetos culturais mais longevos de Porto Alegre chega ao seu 42º ano: abram alas para o Unimúsica 2023: Alô, Harmonia!, evento que celebrará o Carnaval com uma programação especial de shows no palco do Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110).
A apresentação de abertura ocorre a partir das 20h desta quinta-feira: a Velha Guarda Musical da Mangueira, escola do Grupo Especial do Rio, chega com um repertório de sambas de terreiro e enredos antológicos da agremiação carioca.
— Estamos muito felizes em poder participar desse projeto tão consagrado no Sul — afirma o integrante da Velha Guarda Musical Robson Lo Bianco, mais conhecido como Robson Mangueira.
Desde 2008 responsável pela produção-executiva do grupo, ele dá um gostinho do que público pode esperar do espetáculo:
— Vai ter músicas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Hermínio Bello de Carvalho, Chico Buarque, Tom Jobim. Dividimos esse show em três blocos. O terceiro é com os sambas-enredo campeões da Mangueira, desde 1984 (ano de inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí) com Yes, Nós Temos Braguinha, passando por Chico Buarque da Mangueira (1998) e Brazil com “Z” é pra Cabra da Peste, Brasil com “S” é Nação do Nordeste (2002).
A segunda noite de Unimúsica, na sexta, será de exaltação ao Carnaval de Porto Alegre. O grupo Afro-Sul Odomodê apresenta Reminiscências, espetáculo dirigido por Iara Deodoro baseado em participações da ala Afro-Sul em desfiles realizados pelas escolas de samba da Capital — tanto na Avenida Carlos Alberto Barcellos, o Roxo, quanto no Complexo Cultural do Porto Seco.
— Uma das coisas mais importantes é mostrar a grandeza do nosso Carnaval. O espetáculo não tem ordem cronológica e, sim, ordem de afeto. Até carro alegórico a gente coloca no palco, pois o Afro-Sul estava no primeiro carro de dois andares apresentado em um desfile de Porto Alegre — destaca Iara. — Participar do Unimúsica tem uma relevância imensa, é dar voz e vez para a cultura popular. Carnaval é algo sério e educativo assim como a universidade. Os enredos são verdadeiras aulas.
Na última semana de evento, as escolas Bambas da Orgia e Imperadores do Samba dividem o palco na noite do dia 17. Já o encerramento, no dia 18, ficará por conta do espetáculo inédito Aos Mestres, com Carinho, que presta homenagem a personalidades marcantes da história do Carnaval da cidade, como Claudio Barulho, Maria Helena Montier, Onira Pereira, Nilton Pereira e Wilson Ney.
Todos os shows são gratuitos, mas os ingressos estão esgotados. Será organizada uma fila de espera para acesso ao Salão de Atos nos dias de apresentações. As poltronas que não forem ocupadas até as 20h serão liberadas para quem não conseguiu ingresso. O mesmo ocorrerá nas demais atividades.
Curadoria
O Unimúsica 2023 também é voltado ao debate sobre o Carnaval enquanto campo de conhecimento da sociedade: haverá um seminário nos dias 10 e 11 de agosto, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333). Dois grandes especialistas e pesquisadores do Carnaval no Brasil vêm do Rio para apresentar conferências, também com ingressos esgotados: o escritor e cancionista Nei Lopes (dia 10, às 19h) e Milton Cunha (dia 11, às 19h), coreógrafo, designer de figurinos e comentarista da TV Globo. O seminário ainda inclui duas rodas de conversa com representantes locais e apresentação de trabalhos de pesquisa.
— A programação foi pensada para aqueles que quiserem absorver o Carnaval na sua essência. Os seminários e as rodas de conversa levam ao público as discussões sobre a construção do Carnaval-espetáculo, sua formação e os elementos que o constituem. Os shows apresentam no palco a beleza e a riqueza do Carnaval em movimento, valorizando aqueles que se doam a uma das mais genuínas manifestações culturais do Brasil e que nunca o abandonaram, potencializando sua base indissolúvel — ressalta o carnavalesco e figurinista Luiz Augusto Lacerda, curador da edição deste ano com a percussionista Alexsandra Amaral, a jornalista Ana Laura Freitas, a etnomusicóloga Luciana Prass e o ator e diretor Thiago Pirajira.
Ao eleger o Carnaval das escolas de samba como tema, os cinco curadores buscaram valorizar a contribuição das tradições africanas, que historicamente renovam suas ligações com a ancestralidade a partir de toques, cantos e danças que fundamentam nossa cultura. É o que aponta Pirajira:
— É preciso pensar o Carnaval também como espaço de manutenção de lutas históricas das populações negras e periféricas em todo o Brasil e, não diferente, aqui em Porto Alegre, entendendo as potências e a importância das manifestações carnavalescas como celebração das manifestações afro-brasileiras. A gente tomou o Carnaval como um eixo central do evento, celebrando as raízes artísticas, enaltecendo as comunidades e os festejos negros, além de trazer para o centro da discussão o Carnaval como um lugar de produção de conhecimento.
Acesse a programação completa em bit.ly/unimusica2023.