Quando se reuniram para decidir o tema da próxima exposição, os alunos do curso de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) perceberam que todos os assuntos de interesse giravam em torno da história de Porto Alegre. Decidiram focar a escola de samba mais antiga ainda em atividade na Capital, a Bambas da Orgia, cujas fantasias, maquetes de carros alegóricos, instrumentos de bateria, troféus e diversos fragmentos de memória poderão ser conferidos a partir desta quarta-feira (26) no Museu da UFRGS, no Campus Central, com entrada gratuita (veja detalhes ao final do texto).
A mostra No Batuque dos Bambas da Orgia: Folia e Resistência em Porto Alegre repassa os 83 anos da escola de samba fundada em 1940, no bairro Santana, partindo de sua evolução de bloco de rua formado somente por homens para escola multipremiada com 21 títulos, agora estabelecida na Voluntários da Pátria. Também homenageia figuras femininas fundamentais da agremiação, como as porta-estandartes Onira Pereira e Rosalina da Conceição, ex-presidente da entidade, morta neste ano.
— Trazemos algumas particularidades do Carnaval de Porto Alegre. Só aqui temos a figura da porta-estandarte, diferentemente das escolas do Rio e São Paulo, que têm somente mestre-sala e porta-bandeira. Também homenageamos a maior porta-estandarte do nosso Carnaval, a Onira Pereira, que inclusive revolucionou esse posto atuando na Bambas da Orgia, e uma homenagem póstuma à Rosalina — frisa a aluna Leticia Heinzelmann, curadora da exposição ao lado de sete colegas.
O público poderá conferir de perto os trajes usados por mestre-sala e porta-bandeira da Bambas da Orgia na última edição do Carnaval, além de um sopapo, espécie de tambor típico da cultura afro-gaúcha, e todo o aparato utilizado pela bateria, batizada de Trovão Azul em referência às cores da escola de samba. Os visitantes terão liberdade para experimentar alguns adereços e fazer fotos com eles.
Para o presidente da entidade, Carlos Breik, uma exposição que recupera a história da escola de samba mais antiga e mais popular de Porto Alegre, com cerca de mil sócios — sem falar nos simpatizantes —, também é uma iniciativa que valoriza todo o Carnaval da cidade.
— Costumamos dizer que o nosso Carnaval não tem memória. Fica esquecido, à margem, sendo que todos os anos produzimos arte, espetáculos. Essa exposição feita pelos alunos da UFRGS dá uma oportunidade a quem desconhece a maior festa de Porto Alegre. Também será um divisor de águas na histórias da Bambas da Orgia — estima o presidente, que tinha só 10 anos quando começou a frequentar a escola de samba.
Esta é a 13ª exposição realizada pelo curso de Museologia da UFRGS, que completa 15 anos. Os alunos já se debruçaram sobre diferentes temas, como a imigração japonesa no Estado, a situação da mulher na sociedade, a cultura afro-brasileira e até sobre saúde mental. Segundo a professora Vanessa Aquino, que orientou os alunos na produção da nova mostra ao lado da também professora Fernanda Albuquerque, a intenção é instigar os futuros museólogos a realizarem trabalhos que atraiam o interesse da sociedade.
— Temos a preocupação de contemplar temáticas que sejam do mundo contemporâneo e que preencham lacunas que os museus não conseguem. Esse diálogo com a sociedade é um compromisso da universidade. Com a exposição sobre a Bambas da Orgia, conseguimos acesso a objetos que pertencem à escola, documentos sobre o Carnaval, e que nenhum museu possui. São peças únicas e que representam todas as escolas de samba de Porto Alegre — exalta Vanessa.
No Batuque dos Bambas da Orgia: Folia e Resistência em Porto Alegre
- Abertura para visitação nesta quarta-feira (26), às 9h, no Mezanino do Museu da UFRGS, no Campus Central (Av. Osvaldo Aranha, 277), em Porto Alegre
- Visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h, com entrada gratuita. Até 25 de agosto