Adriana Calcanhotto escolheu duas cidades para dar início a Errante, sua mais nova turnê: Coimbra, em Portugal, onde viveu por um curto período e atuou como professora, e Porto Alegre, onde nasceu e começou sua carreira na música. Depois de uma estreia de sucesso do outro lado do Atlântico, a cantora se apresenta em duas noites no Theatro São Pedro no sábado (22), às 20h, e no domingo (23), às 18h, com composições novas e antigas.
— Tenho memórias de quando era criança e via o Theatro São Pedro fechado para reforma. Minha mãe foi bailarina do teatro. Tinha fotos dela dançando ali. E o São Pedro era aquele mistério cercado de tapumes — relembra a cantora de 57 anos.
Se Só (2020), seu trabalho anterior, lançado durante a pandemia, assinala a impossibilidade de cantar, viajar e ver pessoas, Errante, seu 13° disco de estúdio, disponível no streaming desde março, simboliza justamente as fronteiras abertas e o desejo de transitar livremente pelos lugares.
São 11 músicas inéditas que estavam guardadas em um baú de composições, como ela mesma chama. Todas serão apresentadas ao público de Porto Alegre, além das imprescindíveis Vambora (1998) e Esquadros (1992), entre outros sucessos em que expressa sua ânsia por liberdade. Os ingressos para o show estão à venda a partir de R$ 100 no site do Theatro São Pedro.
Foi durante a clausura do isolamento social que Adriana também soube que possui, por parte de mãe, antepassados sefaraditas, judeus da Península Ibérica que fugiram das perseguições. "Tenho o corpo italiano/ O nascimento no Brasil/ Alma lusitana/ A mátria africana/ E em tudo o que faço sou/ Não mais do que impostora/ Vivo no mundo da lua/ Mas atravesso desertos", canta em Prova dos Nove, música que abre o novo disco. A descoberta sobre a própria identidade a deixou com ainda mais saudade do público e do palco.
— Sou uma alma que precisa estar em movimento. O confinamento involuntário me deu a noção clara de que preciso estar andando. A errância por escolha própria, de estar no mundo cantando canções, é o ofício do trovador. Além do mais, no final de 2021, descobri que tenho antepassados sefaraditas. Ou seja: antes de ser uma escolha, a errância está no meu sangue — diz a cantora, que já deu aulas na Universidade de Coimbra e é embaixadora da instituição.
Além da agradável sensação de voltar aos palcos, Errante também lhe dá a possibilidade de se apresentar com um naipe de sopros, algo que ela desejava há algum tempo. Os músicos que a acompanham são Pedro Sá (guitarra), Domenico Lancellotti (bateria), Guto Wirtti (baixo acústico), Jorge Continentino (saxofone, flauta e teclados), Diogo Gomes (trompete e flugelhorn) e Marlon Sette (trombone).
— Tenho nos meus discos uma razoável quantidade de sopros. Um clarinete aqui, um trombone ali. Ter um naipe de sopros no palco, em quase todas as músicas, é algo que me deixa encantada.