A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou um inquérito para investigar o suposto crime de transfobia cometido pelo sertanejo Bruno, da dupla com Marrone, contra a repórter transexual Lisa Gomes, segundo apurou o Uol.
O início das investigações ocorre após pedido feito à Decradi pelo Ministério Público de São Paulo, que recebeu denúncias de entidades LGBT+ e solicitou providências. Com a abertura do inquérito, a vítima será ouvida pela polícia e imagens do episódio serão analisadas pelas autoridades.
O caso que está sendo investigado ocorreu em 12 maio, durante um evento sertanejo no Villa Country, em São Paulo. Na ocasião, o cantor estava sendo entrevistado por Lisa quando fez uma piada de teor transfóbico.
— Você tem p*u? — perguntou ele para a repórter.
— Como assim? — respondeu Lisa, constrangida.
Bruno, então, voltou a repetir o termo:
— P*u. P*u.
A situação repercutiu na internet, com artistas e anônimos apoiando a entrevistadora. Lisa, que é a primeira repórter transexual da TV brasileira, publicou um vídeo nas redes sociais para falar sobre o episódio.
— Foi horrível o que eu passei. Eu me senti invadida. Senti minha intimidade exposta de uma forma que eu não gostaria que fosse. Então, tudo isso me fez muito mal, de voltar a um lugar que eu não gostaria. E quando vem de um artista tão consagrado, tão querido do público, porque como artista, como cantor, eu acho ele sensacional, sabe? — desabafou.
Ela também revelou ao jornal O Globo, na época, a intenção de levar o caso à Justiça:
— Foi muito constrangedor. A sala estava lotada de gente e, quando ele falou aquilo, fez-se um silêncio, todo mundo olhando para a cara do outro e para mim. Todos ficaram estarrecidos com aquela cena. Foi muito ruim. Eu espero que o Bruno faça uma retratação pública e peça desculpas. Mas isso não vai livrar ele de um processo — afirmou.
Depois da repercussão negativa do caso, Bruno pediu desculpas.
— Estou aqui para pedir desculpas para Lisa Gomes, pelo que eu perguntei para ela. Fui totalmente infantil, fui totalmente inconsequente. Eu quero pedir desculpas, não tem como voltar no tempo — disse em vídeo publicado nas redes sociais.
A decisão de investigar Bruno atende também a um pedido realizado em maio pela Associação LGBTQIA+, que protocolou uma representação junto ao Ministério Público de São Paulo solicitando a prisão do cantor ou a suspensão de suas atividades profissionais por três meses.
Transfobia e homofobia são crimes
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2019, que homofobia e transfobia são crimes. Por oito votos a três, os ministros equipararam as práticas ao crime de racismo. Assim, quem ofender ou discriminar gays ou transgêneros está sujeito a punição de um a três anos de prisão. Assim como no caso de racismo, o crime é inafiançável e imprescritível.