O Ministério Público de São Paulo pediu à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) a abertura de um inquérito policial contra o cantor Bruno, da dupla com Marrone. De acordo com informações divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (14), o objetivo é que o MP apure se houve transfobia por parte do músico contra a repórter transexual Lisa Gomes, que atua na Rede TV.
A decisão atende a um pedido realizado em maio, pela Associação dos LGBTQIA+, que denunciou o cantor ao MPSP por transfobia. De acordo com uma publicação do portal Splash, do Uol, que revelou um trecho do documento, é solicitada a prisão do cantor ou a suspensão de suas atividades profissionais por três meses.
"Os fatos são graves, reincidente específico, confesso, utiliza-se do nome da dupla, e sua fama, para induzir seus parças para atividades criminosas, e, diante disso, ou a suspensão de suas atividades por 90 dias (com uso de tornozeleira) ou a prisão preventiva", diz a ação, produzida pelo advogado criminalista Angelo Carbone.
A denúncia defende, ainda, que apenas o cumprimento da lei — com a prisão, de fato, de homofóbicos e transfóbicos — impedirá que o crime continue ocorrendo.
"Os efeitos deletérios do crime de ódio por transfobia praticado pelo cantor Bruno reforçam o sistema de discriminação que as mulheres travestis e as mulheres transgêneros sofrem diariamente, excluindo-as socialmente de seu gênero identitário e obstando assim a realizações de seus direitos humanos de felicidade, aceitação e realização social e profissional", reforça o documento, que tem representação de Agripino Magalhães Júnior (MDB), deputado estadual suplente por São Paulo.
Relembre o caso
O caso citado no pedido é referente a um episódio ocorrido em 12 maio, durante um evento sertanejo no Villa Country, em São Paulo. Na ocasião, o cantor estava sendo entrevistado pela repórter Lisa Gomes quando fez uma piada considerada transfóbica.
— Você tem p*u? — questionou o artista, dirigindo-se a Lisa.
— Como assim? — respondeu a repórter, constrangida.
Bruno voltou a repetir o termo popular em voz alta.
— P*u. P*u.
A situação repercutiu na internet e artistas e anônimos apoiaram a repórter. Depois da repercussão, o sertanejo pediu desculpas.
— Estou aqui para pedir desculpas para Lisa Gomes, pelo que eu perguntei para ela. Fui totalmente infantil, fui totalmente inconsequente. Eu quero pedir desculpas, não tem como voltar no tempo — disse ele em vídeo publicado nas redes sociais.
Três dias depois do ocorrido, Lisa publicou um vídeo em suas redes sociais para falar sobre o episódio.
— Foi horrível o que eu passei. Eu me senti invadida. Senti minha intimidade exposta de uma forma como eu não gostaria que fosse. Então, tudo isso me fez muito mal, de voltar a um lugar que eu não gostaria. E quanto vem de um artista tão consagrado, tão querido do público, porque como artista, como cantor, eu acho ele sensacional, sabe? — desabafou.
Ela também revelou ao jornal O Globo, na época, a intenção de levar o caso para a Justiça:
— Foi muito constrangedor. A sala estava lotada de gente e, quando ele falou aquilo, fez-se um silêncio, todo mundo olhando para cara do outro e para mim. Todos ficaram estarrecidos com aquela cena. Foi muito ruim. Eu espero que o Bruno faça uma retratação pública e peça desculpas. Mas isso não vai livrar ele de um processo — afirmou.
Transfobia e homofobia são crimes
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2019, que homofobia e transfobia são crimes. Por oito votos a três, os ministros equipararam as práticas ao crime de racismo. Assim, quem ofender ou discriminar gays ou transgêneros está sujeito a punição de um a três anos de prisão. Assim como no caso de racismo, o crime é inafiançável e imprescritível.