O hábito de esbarrar com amigos na rua, combinar de marcar alguma coisa e os dias se passarem até virarem anos, sem que nenhum encontro aconteça, também incomoda o cantor e compositor Marcelo Delacroix. Tanto que essa promessa que teima em sair do papel virou tema do show Precisamos Conversar, com apresentação nesta quinta-feira (15), às 20h, no Teatro Renascença, em Porto Alegre.
Por diversas vezes Delacroix topava com o também compositor Mário Falcão, seu amigo de adolescência, e levantava a possibilidade de marcarem uma data para colocar o papo em dia. Nunca acontecia. Até que a música, algo que sempre os uniu, foi a desculpa conveniente e frutífera.
— Isso afeta todos nós. Encontramos os amigos na rua e dizemos: "Puxa vida, por que a gente não se vê mais vezes. Você precisa ir lá em casa. Precisamos conversar." De tanto que o Mário e eu nos encontrávamos e falávamos "Olha, precisamos conversar", acabou virando piada interna nossa. Um dia procurei o Mário e disse: "Compus um samba para nós dois". Também vem ao encontro desse momento em que nós estamos necessitando de diálogo —diz o compositor.
Como ele mesmo menciona, Precisamos Conversar também soa como um convite à tentativa de estabelecer mais diálogo com quem nos intriga, superando cizânias e aceitando as diferenças. "Precisamos conversar/ Mais ouvir do que falar/ Discordar que ainda somos os mesmos/ Concordar que não somos iguais", diz a letra de Falcão. É uma música inédita de Delacroix, assim como as outras cinco que serão apresentadas ao público. Os ingressos para o show custam R$ 60 (3° lote, inteira) no Sympla e também na bilheteria, uma hora antes do espetáculo.
Há outros reencontros com amigos e parceiros de trabalho. Em Fonte da Nostalgia, feita com o baixista e guitarrista Carlo Pianta, da Graforréia Xilarmônica e de DeFalla, de quem foi vizinho no bairro Menino Deus durante a infância, Delacroix faz uma homenagem à época de ingenuidade que lhe traz boas lembranças. Benfazeja, um misto de baião, maracatu e milonga foi composta com Arthur de Faria e recebeu letra de Nelson Coelho de Castro. Fio de Ar foi feita sobre um poema de Mar Becker, poetisa de Passo Fundo que vem ganhando reconhecimento, atualmente radicada em São Paulo. Luna Diurna é dividida com Raul Ellwanger e Areia, com Pedro Longes.
Afora as inéditas, ele também vai tocar uma música mais antiga, lançada em 2000 no seu disco de estreia. Arrumação é do compositor baiano Elomar Figueira Mello, gravada por Delacroix com guitarra barroca, instrumento ancestral do violão. A canção deve integrar a trilha sonora da nova série da Globoplay, o suspense espírita Reencarne, com Taís Araujo no elenco. Até já assinou contrato liberando a versão.
Aos 56 anos, cinco discos e diversos prêmios na bagagem, incluindo um Açorianos de Melhor Disco MPB para Marcelo Delacroix (2000) e dois Açorianos de Melhor Disco MPB e Melhor Disco do Ano para Depois do Raio (2006), além de uma indicação ao Grammy Latino por Tresavento (2020), Delacroix não pensa em fazer música para agradar ou para que estoure como um sucesso. O tempo, embora traga o infortúnio de afastar alguns amigos, também confere leveza e despretensão.
— Não acho que vou fazer a grande música que vai estourar e ficarei mundialmente conhecido. Vou fazendo o meu trabalho, buscando satisfação. Claro, esperando que as pessoas gostem, mas nunca pensando se vai ou não agradar. Não tenho uma preocupação se vai vender, se vai fazer sucesso. Busco fazer o que gosto e o que posso — admite.
Para celebrar o tempo que merece ser gasto com amigos, ele faz um convite para que as pessoas cheguem mais cedo ao show, já que Alexandre Kohls, proprietário do Bar do Alexandre, um clássico no bairro Menino Deus, onde cerca de 200 pessoas se reúnem para assistir às bandas tocarem na calçada, estará vendendo bebidas e comidas no saguão do Centro Municipal de Cultura.
– É um convite para as pessoas marcarem com seus amigos, esses que a gente nunca encontra. Depois do show, podemos ficar até a meia-noite confraternizando – adianta.
Precisamos Conversar
Quinta-feira (15), às 20h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307)
Participação: Beto Chedid (violões, bandolim e cavaquinho), Giovanni Berti (percussão), Mateus Mapa (flauta e vocais) e Zelito Ramos (violino e baixo), além das participações especiais de Mario Falcão e Pedro Longes
Ingressos: 3° lote a R$ 80 (inteira apoiador, para quem deseja apoiar a classe artística), R$ 60 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada) disponíveis no Sympla e na bilheteria do teatro, uma hora antes do show. Antes e depois da apresentação haverá confraternização com comes e bebes do Bar do Alexandre