Destaque no The Voice Brasil de 2013 e ganhadora do Grammy Latino de 2018, a gaúcha Anaadi (nome artístico da porto-alegrense Ana Paula Lonardi de Souza) retorna à sua terra natal para dois shows especiais no Palco Bell'Anima, no Recanto Maestro, em São João do Polêsine, na região central do Rio Grande do Sul. Neste sábado (26), às 19h30min, a apresentação da cantora, ao lado de artistas convidados e orquestra, homenageia Milton Nascimento. Já no dia 10 de dezembro, no mesmo horário, a celebração exalta Chico Buarque e Caetano Veloso. Os ingressos para cada show custam R$ 100 em Sympla.
Atualmente morando na França, a compositora vem ao Brasil a convite do músico Vagner Cunha, que promove um movimento musical no interior do Estado por meio de seu selo Bell'Anima, com concertos mensais.
— O que eu quero trazer é a música como elemento transcendental do ser humano, que a gente possa se reconectar com a nossa identidade brasileira. Esses artistas trazem uma mensagem muito magnânima no seu trabalho, de contemplar a diversidade e a riqueza dessa identidade, que une o branco e o preto, o pobre e o rico, as pessoas que pensam X & Y e A & B — pontua Anaadi.
Ela destaca que os artistas fazem crônicas da vida no Brasil, o que representa muito para a cantora neste momento em que vive no Exterior. Ela acredita, acima de tudo, que as obras podem ajudar a sociedade brasileira, atualmente polarizada.
— Trazer essas obras neste momento é importante para a gente conseguir ter um espelho através da música, de quem nós somos, e que esse espelho possa nos oferecer uma visão de um futuro melhor, mais justo, mais amoroso, de uma consciência utópica e social mais generosa entre nós mesmos — acrescenta.
Na primeira apresentação, a performance ocorrerá ao lado de Vagner (violino), Lucas Fê (bateria), Luis Henrique "New" (teclado) e do quinteto de cordas da Orquestra Jovem Recanto Maestro (OJRM), projeto social que visa à formação de jovens da rede pública de ensino por meio da música clássica. Os músicos interpretarão clássicos de Milton, como Canção Amiga, Cais, Canção do Sal, Maria Maria, Morro Velho, Vera Cruz e Ponta de Areia, em uma homenagem a seus 80 anos.
Anaadi e Vagner já haviam realizado um concerto baseado no trabalho de Milton durante a pandemia, em uma live, mas desejavam dar continuidade ao projeto. A cantora ressalta que vir ao Brasil para interpretar grandes obras desses notáveis compositores no contexto atual, de celebração da aproximação de seus 80 anos, é uma honra, sobretudo ao lado de amigos e de um projeto que considera importante pelo compromisso social.
No dia 10 de dezembro, Anaadi retorna ao Recanto Maestro ao lado do cantor e compositor Dudu Sperb, desta vez para celebrar Chico e Caetano, com músicas como Fantasia, Todo o Sentimento, Luz do Sol e Baby (algumas eternizadas na voz de Gal Costa, como uma forma de homenagear também a artista que faleceu recentemente). O espetáculo contará com a participação da OJRM, do baterista Ricardo Arenhaldt e do pianista Claudio Carrara, fundador do Palco Bell'Anima ao lado de Vagner.
Um componente que resultou na escolha dos dois compositores foi a presença deles na cena musical, com Caetano sempre ativo e Chico atualmente em turnê. Assim, os três ícones foram escolhidos por trazerem uma multiplicidade para a música brasileira, cada um com sua autenticidade e contribuição única.
A cantora considera importante esse movimento de ocupar os espaços do Interior, como a Bell'Anima vem realizando, algo que vê com frequência na Europa.
— Isso gera oportunidades, cultura, música para as pessoas dessas localidades, que terão acesso a concertos que normalmente acontecem só em Porto Alegre. Para os artistas, gera oportunidades de trabalho. Movimenta o mercado de uma forma muito rica, amplia a cena musical em um momento histórico no Brasil que a gente está precisando — afirma.
Carreira internacional
Morando nos arredores de Paris desde julho de 2021, a gaúcha relata que a experiência tem sido interessante. Ela passou a observar as vantagens e desvantagens que cada país abriga — principalmente em relação ao Brasil, com "coisas maravilhosas" que não percebia até partir, como o alto grau de informatização do país.
— A gente recebe uma imagem dos países europeus como se eles fossem superiores, mas não são superiores, eles têm algumas coisas melhores e outras coisas temos melhores aqui — pondera.
Entretanto, Anaadi aponta a cultura e o respeito aos artistas como algo notável nos países europeus, além das diversas opções culturais e o acesso a oportunidades e contatos no meio musical — recentemente, ela cantou em um festival de jazz na Córsega e chegou a aparecer nas mídias locais.
— Estou engatinhando nesse processo lá, mas está começando de um jeito legal — comemora.
Outro ponto que impressiona, segundo a artista, é a diversidade de culturas e povos em Paris:
— Está sendo muito, muito libertador nesse sentido de ampliar o pensamento.
Ao avaliar sua carreira, Anaadi expressa orgulho por tudo o que alcançou até aqui, fruto de sua determinação. Ela se considera bem-sucedida em seu propósito de fazer música do jeito que ama, buscando oferecer às pessoas algo com o qual possam se identificar e esperando que isso lhes traga alguma contribuição. Para ela, o mais importante é ser responsável e tentar plantar algo positivo, seguindo um "caminho verdadeiro".
Embora não saiba o que o futuro lhe reserva, a compositora frisa que quer seguir agindo com o máximo possível de amor, verdade e empatia. E os próximos passos do processo são dar continuidade à carreira tanto no Brasil quanto na Europa, com o lançamento de seu segundo disco nos dois continentes.
Ela adianta que o álbum, que já está em pré-produção, se chamará Iluminar e será uma homenagem à cultura do samba, a "música da sabedoria", como define. Especificamente, às memórias de cuidado de si (conceito filosófico que trata do exercício de transformação da alma) no samba, tema do mestrado que está concluindo. O disco terá diversos temas, como o perdão, a gratidão e o bem.
Primeiro disco de Anaadi, Noturno (que, como o nome indica, foi de fato mais "noturno", voltado à sensualidade e ao mistério), foi lançado em 2017 e recebeu quatro indicações ao Grammy Latino em 2018, incluindo uma indicação a Melhor Novo Artista. A gaúcha venceu o prêmio na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. Em oposição ao primeiro trabalho, o segundo será mais "solar", abraçando a questão da positividade e da transformação — a cantora acredita que esse é o próximo passo para melhorar o mundo.
Ela espera começar a gravar o disco no próximo ano, visto que ele dialoga com a situação atual, e espera ajudar.
— Agora, neste momento histórico, a gente está precisando se iluminar um pouco. Não é uma pretensão, é só uma tentativa de contribuir um pouquinho — afirma.