Milton Nascimento completa 80 anos nesta quarta-feira (26), consagrado como um dos maiores artistas da música brasileira. Junta-se, com isso, ao grupo de outros grandes como ele que chegam às oito décadas de vida neste 2022: Gilberto Gil, em 26 de junho; Caetano Veloso, em 7 de agosto; e Paulinho da Viola, que completará 80 anos em 12 de novembro.
Assim como os companheiros, Milton despontou na música brasileira na era dos festivais. A projeção nacional veio em 1967, quando ele venceu o Festival Internacional da Canção com a música Travessia, composta ao lado de Fernando Brant. Antes do holofote, porém, Milton já circulava pela cena musical. Havia composto e gravado, por exemplo, Barulho de Trem, de 1964, e composto Canção do Sal, de 1965, gravada por Elis Regina em 1967. Abençoado com o dom da palavra, nunca foi só um grande cantor.
Difícil é contar quantas músicas já foram escritas por Milton. Com certeza muito mais de 80, idade a que chega agora. Mas apesar de todas as suas grandes canções, muitas delas essenciais quando se fala de música popular brasileira — Maria, Maria, Caçador de Mim, Canção da América, Coração de Estudante, Encontros e Despedidas e Nada Será Como Antes, para citar algumas —, foi pela voz que ele conquistou o Brasil. Não à toa, Bituca, como Milton é carinhosamente chamado, lançou mais de 40 álbuns, todos eles marcados pela potência vocal de quem também nunca foi só um grande compositor.
Milton tem a "voz de Deus", como disse Elis Regina certa feita, afirmando que "se Deus cantasse, seria com a voz de Milton". E é bem como um Deus que ele tem se despedido dos palcos neste 2022. Trajado com um figurino ancestral criado por Ronaldo Fraga, Milton vem rodando o país com a turnê de despedida A Última Sessão de Música. A postura em cima do palco, sentado sobre um trono, a voz de Deus e a iluminação preparada para o espetáculo fazem com que a imagem de Milton remeta a de uma divindade, como se fosse ele um orixá vivendo entre nós.
Foi assim que passou por Porto Alegre em agosto, quando apresentou sua última sessão de música no Ginásio Gigantinho. A turnê faz seu espetáculo derradeiro em novembro, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi o Estado onde Milton cresceu — nascido em uma favela carioca, foi adotado ainda criança por uma família mineira — e fez história com o Clube da Esquina, movimento musical que criou ao lado dos irmãos Marilton, Márcio e Lô Borges, e que logo conquistou o país.
Esse país conquistado por Milton Nascimento, contudo, pode respirar tranquilo: ele não vai parar. A despedida é dos palcos, não da música. Foi o que Milton contou a GZH à época da última passagem por Porto Alegre:
— Sou muito grato pelo tanto que trabalhei e conquistei em todos esses anos de carreira. Foram muitos anos de estrada. Comecei como crooner aos 13 anos de idade e não parei mais. Já são mais de 60 anos viajando pra tudo quanto é lugar, então acho que chegou a hora.
Com 80 anos no currículo, a disposição para pegar a estrada já não é a mesma. Mas, para a sorte de todos, Bituca continua um guri quando o assunto é criar grandes canções.
— É como tenho dito sempre: me despeço dos palcos, da música jamais — avisa ele.