Certa feita, Elis Regina fez uma afirmação que seria tomada como referência: ela atestou que se Deus cantasse, cantaria com a voz de Milton Nascimento. Essa frase da intérprete seria lembrada inúmeras vezes ao longo das décadas, tratada como uma das principais descrições do artista. Então, quem for ao Ginásio Gigantinho neste domingo (21), às 18h, terá a última oportunidade de conferir no Rio Grande do Sul o que a Pimentinha disse. Pela última vez, o trem azul de Bituca fará sua parada na estação Porto Alegre. Será um generoso adeus ao público gaúcho (veja detalhes sobre ingressos ao final do texto).
Milton vem à Capital com a derradeira turnê A Última Sessão de Música, em que se despede dos palcos. Prestes a completar 80 anos em 26 de outubro, além de seis décadas de trajetória, Bituca anunciou ano passado sua última série de shows. Diabético e com mobilidade reduzida, ele quer descansar da estrada.
Conforme Augusto Nascimento, filho de Milton e diretor artístico do show, a despedida estava sendo planejada desde a metade da década passada. A ideia era que o músico deixasse os palcos bem e saudável, com a carreira em um bom momento. O empresário ressalta também que a pandemia adiou esse plano.
Augusto frisa que ao assumir a carreira do pai, em 2016, ele não estava satisfeito com o lugar em que Milton estava na música. Bituca sofria uma depressão profunda desde 2014, quando também lidou com problemas cardiovasculares, interrompendo a carreira e sem perspectiva de voltar.
— Teoricamente, ele teria se aposentado em 2015 — conta Augusto. — Quando assumi, minha ideia era essa: fazer um trabalho legal, nos divertirmos e encerrar quando completasse 80, como se fosse uma celebração de uma vida toda, e não como o fim de uma história.
Milton ressalta que, apesar de se despedir dos palcos, seguirá compondo e cantando.
— Sou muito grato pelo tanto que trabalhei e conquistei em todos esses anos de carreira. Foram muitos anos de estrada. Comecei como crooner aos 13 anos de idade e não parei mais. Já são mais de sessenta anos viajando pra tudo quanto é lugar, então acho que chegou a hora. Mas é como tenho dito sempre: me despeço dos palcos, da música jamais. Por causa disso, posso dizer que esse é um acontecimento que foi decidido entre nós depois de muita reflexão.
Em relação aos últimos shows da carreira, Milton tem brincado que está bom demais para parar. Seu filho reforça que, em todo esse tempo, nunca viu o pai tão feliz quanto agora. O músico compreende que está encerrando um ciclo.
— Só tenho a agradecer minha vida até aqui, não posso reclamar de nada. Acabamos de fazer uma turnê pela Europa, e foi uma experiência maravilhosa. Assim como foram os primeiros shows de despedida no Brasil. Então, eu só tenho que agradecer, pelos amigos, pelo meu filho, pelos meus discos e por todas as coisas que a gente fez nesses anos de vida — reflete Bituca.
A Última Sessão de Música
Em A Última Sessão de Música, a ideia principal é realizar um concerto com todas as fases da carreira de Milton. Clássicos como Ponta de Areia, Encontros e Despedidas, Travessia, Cio da Terra e Nos Bailes da Vida estão previstos no repertório. No conceito desenvolvido por Augusto, o show é como se fosse um "trem que saiu das montanhas de Minas para rodar o mundo", sendo que agora está indo para a última estação.
Desde o anúncio da turnê, a procura por ingressos foi intensa. Augusto exemplifica que chegaram a ser comercializadas mais de 60 mil entradas em quatro horas quando abriram as vendas, com espaços esgotados. A série de shows derradeiros também teve datas na Europa, entre junho e julho.
— As apresentações estão sendo uma comoção. Está sendo até surpreendente para a gente. O público o está abraçando. Começa o show com a galera emocionada, é bem perceptível isso, e ao longo do show a galera vai se entregando mais, vai aproveitando aquele momento — descreve Augusto.
Sobre Porto Alegre, Milton lembra que sua relação com o Rio Grande do Sul começou em 1966, quando disputou a primeira eliminatória do festival da TV Excelsior, o Berimbau de Ouro. Ele recorda ter cantado uma música de Baden Powell e Lula Freire chamada Cidade Vazia.
Bituca também tem uma relação especial com o Gigantinho:
— Como palco de grandes shows, é um lugar muito especial na história da música no Brasil. A maioria dos artistas da minha geração teve passagens marcantes por aí. Me lembro especialmente dos concertos que fiz nos anos 1980, teve um com participação do Paulo Moura que foi inesquecível. Aquela órbita com o Gigantinho lotado é emocionante demais. Não vejo a hora de viver isso novamente.
O Gigantinho também foi palco de uma das últimas apresentações de Elis Regina, em 1981. Ela foi a primeira cantora famosa a gravar as composições de Milton, e os dois consolidaram uma relação de amizade a partir da década de 1960.
— Até hoje eu sempre digo que Elis Regina foi o grande amor da vida, sempre. Tudo que eu faço é pensando nela. Isso nunca vai mudar — pontua.
Milton Nascimento — "A Última Sessão de Música"
- Neste domingo (21), às 18h, no Ginásio Gigantinho (Avenida Padre Cacique, 891), em Porto Alegre.
- Ingressos a partir de R$ 260 pelo site Ticket360 e na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80).
- Desconto de 50% para os 50 primeiros sócios do Clube do Assinante (cupom cluberbs50off) e de 10% para os demais (com o cupom cluberbs10off).