Gal Costa partiu na manhã desta quarta-feira (9), mas é como se sua presença continuasse por aqui. Ou, em especial, sua voz. Seu canto emocionou e inspirou gerações de brasileiros e estrangeiros.
Entre artistas que nasceram no Rio Grande do Sul, Gal é a referência máxima para a cantora e atriz Duda Brack, 29 anos. Emocionada, a porto-alegrense destaca que Gal a ajudou a descobrir sua própria identidade.
— Foi a cantora que me ensinou a me ser. Nunca quis ser Elis Regina, Maria Bethânia, Marisa Monte ou Cássia Eller. Eu quis ser como a Gal. Isso me abriu a possibilidade de descobrir quem eu era para ser a Duda — relata a artista. — Só gravei o meu primeiro disco (É, de 2015) do jeito que fiz porque ouvi muito o Fa-Tal (1971). Acho que tenho um pé na MPB muito grande por causa dela e do Caetano. Isso se reflete em tudo o que faço, inevitavelmente, mesmo que não busque reproduzir ou imitar, mas é o que bebi. Aprendi a ver o mundo através dessas histórias.
Natural de Santo Ângelo, mas hoje em Porto Alegre, a artista Valéria Barcellos já realizou um show intitulado Val Canta Gal. Em toda apresentação, ela abria lembrando de um episódio em que pegou um voo com a cantora, em meados dos anos 2000. Impressionada pela oportunidade, Valéria pediu para tirar uma foto com Gal. Era a época das câmeras digitais ainda. A diva da MPB respondeu: "Pode, mas que seja rápido para que ninguém me reconheça". Nervosa, Valéria fez um registro todo distorcido.
Infortúnios fotográficos à parte, Gal é uma referência enorme para Valéria. Seja pela maneira de cantar ou pelo jeito de se entender.
— O trabalho da Gal me inspira a ser uma cantora melhor em todos os aspectos. Ela é uma pessoa que traz a liberdade na voz. Além disso, admiro a maneira dela se moldar aos tempos, com tudo que ela fez musicalmente falando. O que mais admiro na Gal é ela ter entendido, enquanto cantora, que ela é um instrumento da música. Que ela é um ser a serviço da canção. A voz dela é o instrumento mais perfeito que a música poderia ter — diz a cantora de 42 anos.
A cantora Filipe Catto, 35 anos, afirma que a música de Gal a nutriu e inspirou a ser a artista que ela é hoje. Natural de Lajeado, ela destaca também que a voz da cantora transcendia a música.
— Acho que a Gal é um exemplo de artista que não somente era uma voz inacreditável, mas tinha uma voz que esteve sempre a serviço do pensamento, dos maiores compositores do país e das maiores ideias que surgiram — diz Filipe. — E sempre sendo uma grande fonte de liberdade, de transgressão. Acho que a obra da artista é mais profunda do que só o que ela cantou, era como um símbolo. É muito bonito a gente viver num país que pode ter Gal Costa como sua cantora.
Duda tem a sensação de que Gal vai estar sempre por aí. Para ela, é como se a cantora tivesse superado o tempo.
— Como se ela ainda fosse a Gal do Índia (disco de 1973) — descreve a cantora. — É doido, a gente tem uma memória tão viva de uma Gal que, por exemplo, eu que nasci nos anos 1990 não vi. É uma ancestralidade. É a história do Brasil.
Uma das maiores vozes da história da música brasileira, Gal Costa morreu aos 77 anos. A causa da morte ainda não foi divulgada.