A Cidade Baixa, em Porto Alegre, viu um de seus principais espaços culturais ganhando vida novamente na noite desta sexta-feira (6). O bar Opinião voltou a receber o público depois de 17 meses de inatividade, por conta da pandemia de covid-19. E, para esta reestreia, foram convidados para subirem ao palco, dentro do projeto Opinião Acústico, Yas Speransa e Esteban.
Seguindo as normas do decreto municipal, a casa abriu as suas portas para 200 pessoas, sendo metade convidada e a outra pagante. A lotação foi máxima e todos receberam a orientação de ficarem sentados para os shows. Antes das apresentações, porém, houve um coquetel para estrear o novo espaço do Opinião, que transformou o mezanino em um ambiente funcional para abrigar eventos menores. O prefeito Sebastião Melo esteve presente para a inauguração, mas foi embora antes dos artistas subirem ao palco.
Uma das novidades da reestreia do Opinião foi o desconto para os vacinados. Quem apresentasse a carteirinha de vacinação, pagaria menos no ingresso, como incentivo para que as pessoas busquem a imunização e, também, para que o ambiente fique mais seguro. Entre os pagantes, porém, apenas 19% buscou o benefício. Nas 50 mesas distribuídas entre os dois andares, era permitido retirar a máscara para o consumo de bebidas, mas a circulação somente podia acontecer usando a proteção facial.
Fundador do bar e sócio-diretor da Opinião Produtora, que também opera o Pepsi On Stage e o Auditório Araújo Vianna, Cláudio "Magrão" Fávero, o público estava se adaptando bem ao novo formato, "com características de restaurante", do espaço. Na visão dele, os presentes estavam seguindo corretamente os protocolos, por já estarem acostumados com a pandemia.
— Ver tudo dando certo na reabertura da casa, para nós, acaba sendo uma vitória nessa batalha árdua contra a pandemia, em que o nosso setor foi um dos mais prejudicados. Essa abertura está sendo simbólica, pois projeta um futuro, não muito distante, em que o Opinião vai poder voltar a trabalhar com o seu DNA novamente, com muita festa e aglomeração, depois que tudo isso passar — enfatizou Magrão.
O público feliz
A volta ao Opinião, uma das casas mais tradicionais da noite porto-alegrense, foi "estranha" para a maior parte do público que conversou com a reportagem na noite desta sexta-feira. Os participantes queriam estar aglomerados e festejando de pé, como faziam tradicionalmente. Porém, duas palavras fizeram parte de quase todas as respostas: "Estou feliz".
Daiane Braatz, estudante, que foi ao espaço acompanhada de um casal de amigos e do namorado, contou que os shows de Yas Esperansa e de Esteban seriam os primeiros que veria presencialmente desde quando a pandemia foi decretada, em março de 2020.
— Estou achando tudo bem organizado, seguindo os protocolos, as mesas com uma distância boa. Estou me sentindo segura e empolgada para a noite — destacou.
Os amigos Guilherme de Oliveira, desenvolvedor de software, e Nayane Bragança, relações-públicas, chegaram ao Opinião compartilhando do sentimento de carinho pelo espaço. A dupla se conheceu na casa, quando trabalharam juntos ali.
— É o meu primeiro show em quase dois anos. E, vir até aqui, em uma casa como o Opinião, que segue todos os protocolos, é muito diferente do que essas aglomerações em que as pessoas andam indo, sem qualquer tipo de cuidado — salienta Nayane.
Oliveira concorda com a amiga e ainda reforça que decidiu sair de casa na noite desta sexta-feira, além do afeto pelo Opinião, também para prestigiar Esteban:
— Ele é um artista maravilhoso, um dos melhores do Rio Grande do Sul, e merece o nosso reconhecimento. Estou muito empolgado para esse reencontro, meu último show foi do Iron Maiden, no final de 2019. Fui em tantos shows na vida que não achei que iria sentir tanta falta, mas estava em abstinência.
Respiro para os artistas
Yas Speransa andava ansiosa pelos bastidores. A jovem artista gaúcha estava sentindo a responsabilidade de ser a primeira a subir ao consagrado palco do Opinião na nova realidade, depois de quase um ano e meio de portas fechadas. Ela, porém, também sentia alegria de estar ali, tendo aquela responsabilidade de puxar um possível recomeço para tantos outros.
— É um nervosismo grande por conta do cenário, mas sei que essa volta é um respiro para os artistas. É uma pontinha de esperança de que as coisas estão voltando ao normal, mesmo que as poucos. A interação vai ser diferente, sem tanto calor humano, mas é um momento de muita alegria. Estou honradíssima — enfatizou a cantora.
Esteban, por sua vez, chegou ao backstage perguntando quem estava vacinado. Se a resposta fosse positiva, ele, já imunizado, apertava a mão, caso contrário, ficava só no soquinho. Ele, que explicou ter uma relação "muito especial" com o Opinião, pois viu muitas bandas que admira tocando naquele palco, se disse "emocionado pela oportunidade" de ter sido convidado para abrir os trabalhos na retomada da casa. A alegria ainda é maior pois o evento também marca a sua retomada, pois não fazia shows desde o começo da pandemia.
— O sentimento é de festa. Durante esse tempo todo, o público fez muita falta. Vai ser diferente, claro, mas o prazer é o mesmo. Essa é a primeira dose da vacina cultural — brincou o artista.
O músico, que fez questão de agradecer aos seus fãs por terem o ajudado durante a pandemia, quando se viu com dificuldades financeiras, assim como diversos outros artistas, apesar de estar feliz em voltar aos palcos, acredita que os eventos deveriam ser permitidos somente para vacinados.
— Só com a vacina vamos poder voltar ao que éramos antes. Então, é importante que todos se imunizem, basta usar a boa vontade e a inteligência. É assim que vamos conquistar a liberdade para a cultura, dar e receber amor de volta — finalizou.
Neste sábado (7), Jota Pê Rocha e Tonho Crocco sobem ao palco para mais um capítulo do Opinião Acústico. Ingressos podem ser adquiridos pelo site sympla.com.br.