A América Latina venceu — mais uma vez — no mercado americano. Quatro anos depois do sucesso avassalador de Despacito, a música latina continua em vertiginoso crescimento nos Estados Unidos.
Uma pesquisa divulgada no início deste mês pelo instituto Alpha Data, fonte oficial de dados para os rankings da revista Rolling Stone, aponta que a busca por música latina cresceu 25% nas plataformas de streaming de 2019 para 2020. Foi a maior elevação depois de estilos musicais diretamente impactados pelo distanciamento social, como easy listening (39%), música para crianças (28%) e nova era (27%).
Sucesso no verão de 2017, Despacito foi a consolidação de uma onda de latinidade viabilizada pelo streaming. Muitos hits latinos vinham alcançando números expressivos em diferentes plataformas, mas foi o sucesso dos porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee que pela primeira vez colocou o reggaeton no topo da disputada lista da Billboard.
— A música latina, por causa da economia, tomou uma posição mais importante agora. E isso tem a ver principalmente com streaming. Se você olhar para o Spotify, 20% da base de assinantes é latina, então aproximadamente dos 200 milhões de pessoas que eles têm, cerca de 40 milhões são latinos ouvindo principalmente conteúdo latino. Isso significa que, quando você tem uma single sendo empurrado para o sucesso por 20% da base, ele também será empurrado pelos algoritmos ao redor do mundo — explicou o presidente da Sony/ATV Music Publishing da América Latina, em uma conferência sobre o tema em 2019.
Despacito fez com que outros artistas do reggaeton pudessem sonhar com o topo da visibilidade mundial. A estrada do pop em espanhol, pavimentada por artistas como Ricky Martin, Shakira, Jennifer Lopez e Selena Gomez, passou a ser ocupada por novos destaques.
Em 2019, de acordo com o Spotify, entre os 10 artistas mais ouvidos no mundo, apenas três não eram norte-americanos ou europeus: os porto-riquenhos Bad Bunny e Ozuna e o colombiano J. Balvin. Além desses três e dos pioneiros Luis Fonsi e Daddy Yankee, outros artistas da mesma onda frequentaram playlists de sucessos, como a espanhola Rosalía, a argentina Ms Nina e o colombiano Maluma.
México
Os latinos continuam em alta, mas desta vez números e algoritmos estão levantando uma tendência diferente do reggaeton. A atenção se deslocou à nova música regional mexicana. O trio Eslabon Armado, formado na Califórnia e dedicado a renovar o ritmo da ranchera, teve seu álbum Vibras de Noche alçado à 24ª posição do ranking da Rolling Stone — é o posto mais alto ocupado por um grupo de música tradicional do México.
O corrido mexicano, tradicional música local sobre o narcotráfico, também está se tornando produto de exportação. O subgênero tem chegado às paradas americanas aditivado pela batida do hip-hop, gerando um híbrido que hoje é rotulado de corrido tumbado. O principal gênio criativo desta nova cena é o jovem Natanael Cano, que quadruplicou seu número de ouvintes em 2020. Com apenas 19 anos, já figurou na posição 70 entre os artistas mais ouvidos nos Estados Unidos.
Os corridos tumbados já foram alvo de crítica por setores mais conservadores da música mexicana. Pelas redes sociais, Cano já trocou até farpas com o multipremiado Pepe Aguilar, que teria criticado o jovem em uma entrevista (não fica claro se é Cano ou outro músico que está sendo criticado). Pelas redes, Cano afirmou que sua música faz muitos jovens se interessarem novamente pelo violão, que andava em baixa por conta do império da música eletrônica. Além disso, celebrou o crescimento do seu número de seguidores gerado pela polêmica:
— Sigam me dando fama, eu sigo faturando, e vocês em suas casas juntando para o aluguel.