O Rio Grande do Sul poderá conhecer neste verão novos modos de se expressar e até de sorrir. Até março, uma série de projetos culturais ganha forma por meio da Lei Aldir Blanc no Estado. Entre eles, há uma série de ações que ligam cultura a autonomia e identidade feminina.
O primeiro grande exemplo é uma série de oficinas com As Batucas, orquestra feminina de bateria e percussão. Foram abertas 80 vagas para aulas de percussão e vocal, todas transmitidas online e sem custo. As classes começam em 8 de fevereiro, mas as inscrições serão abertas na segunda-feira (1º/2), pelo link bit.ly/batucas.
O grupo foi criado há cinco anos, quando sua fundadora, a baterista e professora Biba Meira, percebeu que suas alunas não costumavam se apresentar publicamente, apesar de serem boas instrumentistas.
— Eu via os meninos fazendo parte de bandas, mas as meninas se apresentavam uma vez por ano, nos eventos da escola — lembra Biba.
Hoje, a baterista já percebe que esse comportamento vem mudando:
— Sinto uma diferença enorme de lá para cá. Não é apenas um grupo de percussão, é um grupo de fortalecimento mútuo. E se tornou uma referência na cidade. Desde que As Batucas existem, tenho percebido que muitas outras mulheres começaram a tocar percussão.
Para deixar mais amplo o potencial transformador do projeto, também será lançado em abril o Batuca nas Ideias, uma série de palestras sobre temas como gênero, raça, saúde e feminismo. No mesmo mês, haverá ainda a publicação de um documentário sobre o grupo, reunindo materiais de acervo com novas entrevistas.
Linguagem
Quando Biba realizou a primeira oficina das Batucas, não imaginava a alta procura por inscrições que receberia. Hoje, ela conta com cerca de uma centena de alunas assíduas. As aulas e apresentações reúnem dezenas de componentes, o que obrigou Biba a desenvolver arranjos próprios para o repertório que queria tocar. Dessa forma, As Batucas foram delineando uma linguagem própria.
— Lembrei das bandas de rock e pensei nas baterias para as quais eu queria criar arranjo para uma orquestra percussiva tocar. A primeira música para a qual fiz arranjo foi Tomorrow Never Knows, dos Beatles. Não tenho dificuldade para fazer arranjo. Vou pensando como pode ser o surdo, a caixa, o agogô e vou criando — explica Biba.
Palhaçaria
Assim como Biba Meira, a palhaça Patrícia Sacchet, da Baphônicas Produções, também trabalha em um projeto que ressalta a identidade e a criatividade feminina. Ao lado das colegas Ana Fuchs, Pati de La Rocha e Tiana Moon, vai promover por meio da Lei Aldir Blanc o festival Palhaças do Sul, com atividades previstas entre 21 e 28 de março.
— Estamos em busca de um novo riso. Na palhaçaria, as apresentações foram historicamente pensadas por homens. Mas as mulheres trazem questões mais subjetivas e profundas. É uma comicidade com mais camadas. A ideia não é entrar no automático na dramaturgia mais conhecida — avalia Patrícia.
Na dança, Iara Deodoro, do Afro-Sul Odomode, prepara também uma série de cursos para 14 cidades do RS, com início em 12 de março.
— Nosso curso é matrigestado por mulheres. Dentro da cultura africana, a figura feminina é quem ensina e administra a comunidade. É uma ancestralidade muito presente na nossa vida. Trazemos a questão das orixás femininas em nossa aulas, refletindo as questões da mulher no contexto atual.