Uma versão clássica do funk Bum Bum Tan Tan, produzida pela Orquestra Sinfônica da Bahia, viralizou nas redes sociais nos últimos dias com o verso "confia no Butantan e na vacinação", referenciando o instituto brasileiro que está envolvido na produção da CoronaVac.
Em entrevista ao Timeline Gaúcha nesta quinta-feira (14), o maestro Carlos Prazeres, da orquestra responsável pela versão, defendeu a produção musical.
— A orquestra da Bahia pegou o contexto da época, porque em tempos de obscurantismo, tanta teoria da conspiração, corre o risco coletivo de seguir com a pandemia por muitos anos por conta de grupo de WhatsApp dizendo que vacinação não funciona. Resolvemos entrar nisso e lutarmos com autoridades para conscientizar a se vacinarem. A orquestra tem que ser atual, dialogar com tendências e ajudar governantes, algo vivo e pulsante, não algo arcaico de museu — afirmou.
Conforme Prazeres, "muita gente entende errado" o fato de a orquestra realizar a releitura de um funk. Afinal, a canção de MC Fioti usa a base de uma partitura em lá menor para flauta solo do compositor alemão Johann Sebastian Bach. O maestro não vê problemas nesta transição de estilos.
— O funk não é rebaixamento, é um estilo da periferia, um símbolo de resistência e da comunidade negra. Surgiu nos Estados Unidos vindo da cultura negra e não pode ser alvo de desrespeito e preconceito. (...) A gente decidiu tocar porque o MC Fioti não alterou em nada, ele pegou a base do Bach, e queríamos mostrar o alcance dele nos dias de hoje. Fizemos isso em um concerto e o público ficou cochichando, então eu contextualizei e o público entendeu, saiu dançando — recordou Prazeres.
O líder da orquestra também acredita ainda que o funk, de modo geral, não pode ser julgado.
— As letras são a realidade que eles da periferia veem, mostrando ao que estão sujeitos: eles olham para o lado e veem isso, o tráfico, a droga, a sexualidade sem qualquer controle. E eles estão cercados por bailes funk. A gente precisa entender como uma demonstração artística de um povo que não recebe nenhum material, nada que não seja repressão e esculacho, mas ao mesmo tempo é um povo que trabalha até cair para uma sociedade que vive apoiada neles.
Prazeres reforçou que a música de Bach "nos toca diretamente na alma" e "faz nos sentirmos minúsculos por sua grandiosidade da proximidade com o divino".
— Se existe uma entidade superior, um Deus, eu creio que a música de Bach está bem perto dele.
Ele, no entanto, lamenta que música clássica, mesmo sendo considerada "uma explosão sensorial de um milhão de detalhes", não tem espaço diante da realidade comercial. Prazeres atribui esta dificuldade, principalmente, à velocidade que a sociedade funciona.
— A gente não conseguiu nessa sociedade atual, que consome e pula o tempo todo de uma rede para outra em poucos segundos, chegar a uma fórmula para fazer com que as pessoas ouçam essas músicas e consigam aproveitar elas profundamente — finalizou.
Ouça a entrevista do maestro ao Timeline Gaúcha: